Messias Pontes: Duas décadas de ilusão
O PSDB está completando 20 anos de sua fundação. Saído do ventre do PMDB que inchara no governo Sarney, suas principais lideranças, tendo à frente o senador Mário Covas, homem íntegro e democrata por vocação, partiram para a formação de outro partido, soc
Publicado 25/06/2008 10:10 | Editado 04/03/2020 16:36
No ano seguinte (1989), o Partido da Social Democracia Brasileira vislumbrou a perspectiva de poder e lançou a candidatura de Mário Covas a presidente da República, amargando um humilhante quarto lugar, atrás de Fernando Collor de Mello, Luiz Inácio Lula da Silva e Leonel Brizola.
Abandonando os princípios morais e éticos, suas principais lideranças, comandadas pelo ex-sociólogo (o Coisa Ruim), quiseram se jogar nos braços de Collor de Mello. O Coisa Ruim queria ser ministro collorido, com o apoio do então governador do Ceará, Tasso Jereissati. Os tucanos só não compuseram o ministério de Collor de Mello porque Mário Covas bateu forte na mesa e disse não admitir sair do PMDB, por este estar contaminado pelo vírus da corrupção, e compor um governo corrupto.
Com a ajuda das forças mais retrógradas do País, e com o irrestrito apoio da grande mídia conservadora, venal e golpista, sobretudo da Rede Globo, tendo como principal bandeira o Plano Real herdado do governo Itamar Franco, o Coisa Ruim se elege em 1994 ainda no primeiro turno.
A esperança de mudanças era enorme, mas a decepção foi maior ainda, pois os princípios morais e éticos foram pras cucuias. Um dos primeiros atos aéticos do presidente tucano foi assinar um decreto logo no primeiro mês de governo, mais precisamente em 29 de janeiro de 1995, extinguindo a CEI – Comissão Especial de Investigação, criada pelo presidente Itamar Franco para investigar denúncias de corrupção no governo federal.
A partir daí a corrupção, que já era sistêmica, foi institucionalizada no País. Para que nada fosse apurado, o Coisa Ruim indicou para a chefia do Ministério Público o procurador Geraldo Brindeiro que ficou conhecido como o “engavetador-geral da República”, pois todas as denúncias de improbidade administrativa eram engavetadas ou jogadas para debaixo do tapete. Este entrou para história pela lata do lixo.
Com a Procuradoria-Geral da República inoperante e a Polícia Federal atuando apenas na caça (ou na pesca?) de peixes miúdos do narcotráfico, o caminho ficou livre para a mais desbragada corrupção de toda a história brasileira. Tudo com o irrestrito apoio da grande mídia conservadora, venal e golpista, e da banda podre do PMDB, justamente a que serviu de pretexto para a saída deste partido e criação do PSDB.
De olho no segundo mandato, a corrupção grassou solta para a aprovação da emenda da reeleição, tendo dois deputados do PFL do Acre, João Maia e Ronivon Santiago, declarado ter recebido cada um R$ 200 mil para votar a favor de mais quatro anos de mandato para o Coisa Ruim, e que um grande número de parlamentares também recebeu. Os dois renunciaram para não ser cassados.
A partir de então o esquema de corrupção só fez aumentar: Proer, DNER, Sudam, Sudene, Sivam, Pasta Rosa e, principalmente, a privataria que virou caso de polícia. Nenhum bandido de colarinho branco no desgoverno tucano (1995 a 2002) ou fora dele foi preso. Os maiores crimes de lesa pátria foram cometidos nesse período. O desmonte do Estado brasileiro foi uma verdadeira tragédia nacional.
Hoje, exatamente 20 anos depois da sua fundação, as maiores denúncias de corrupção pairam sobre o governo tucano do Rio Grande do Sul, e o PSDB inicia um processo de extinção. Em São Paulo, o PSDB está irremediavelmente rachado ao meio, e nos outros grande centros como Belo Horizonte e Rio de Janeiro – segundo e terceiro maiores colégios eleitorais do País, não terá candidato próprio a prefeito, o mesmo acontecendo em Fortaleza, onde vai a reboque do PDT da senadora Patrícia Sabóya.
A exemplo de São Paulo cujo candidato será “cristianizado” pelos tucanos serristas, aqui em Fortaleza a imposição do nome do ex-secretário estadual de Educação, Antenor Naspoline, levará a chapa Patrícia/Naspoline à “cristianização”. Muitos tucanos, com ou sem mandato, já manifestaram o descontentamento e, “em off”, declaram que votarão em outras candidaturas. É o começo do fim.
Foram duas décadas de ilusão.
Messias Pontes é jornalista