Le Monde: Crise sinaliza o fim do milagre econômico irlandês
Outrora invejada pelos outros países europeus por seus índices de crescimento no estilo asiático, a República da Irlanda conhecerá a recessão em 2008 sob o efeito conjugado da crise de crédito, o desmoronamento do setor imobiliário e a queda do consumo. A
Publicado 27/06/2008 11:57
Um editorial do “Irish Times” salienta o temor que causou a publicação no último dia 24 do boletim trimestral de conjuntura do Instituto de Pesquisa Social e Econômica (IPSE), que previu uma contração de 0,4% do PIB em 2008. A rápida deterioração da economia surpreendeu esse instituto muito respeitado, obrigado a rever constantemente para baixo suas previsões desde a eclosão da crise de crédito no verão de 2007. Naquele ano o Eire havia tido um crescimento de 4,5%.
O consumo deverá cair 2,6% este ano e o investimento, 14,9%. A inflação ficaria estável em 4,5%, alimentada pela alta dos preços da energia e dos gêneros alimentares. Somente as exportações resistem, apesar do euro forte.
Recessão: depois de 25 anos de crescimento ininterrupto, os irlandeses tinham quase esquecido essa palavra macabra. Segundo o IPSE, a saída da crise deverá ser lenta, com um índice de crescimento de 1,9% em 2009 (3,1% previstos anteriormente).
Duas outras previsões são alarmantes para esse país que esteve recentemente às margens do Terceiro Mundo e cujos jovens emigraram aos milhares. A Irlanda, cujo milagre econômico atraiu mais de 300 mil imigrantes poloneses e bálticos desde 2004 – a economia estava então em pleno florescimento –, está se tornando novamente uma terra de imigração, pela primeira vez desde o início dos anos 1990. O IPSE calcula um saldo migratório negativo de 20 mil pessoas em 2009. Quanto ao desemprego, que havia sido eliminado, reapareceu com um índice de 6% e deverá passar para 7,1% no próximo ano.
O golpe é duro para o primeiro-ministro irlandês, Brian Cowen, no poder desde 7 de maio. Desestabilizado pela rejeição do Tratado de Lisboa em um referendo em 12 de junho, o chefe de governo de centro-esquerda está submetido às pressões de seus homólogos europeus para organizar uma nova consulta. Mas com um déficit orçamentário previsto para 2009 de 3,9% do PIB – além do limite de 3% autorizado pelo pacto de estabilidade e crescimento da União Européia -, sua margem de manobra em Bruxelas promete ser limitada. “Todo mundo está consciente de que o déficit das finanças públicas é conseqüência do desperdício dos frutos de um boom que só poderia ser temporário”, avalia pessimista Alan Barrett, autor desse relatório que o governo preferiria esquecer.
Fonte: Le Monde