Estertores: 'Veja' sangra à espera de intervenção da Abril
A luta está chegando ao fim. O que se tem agora são estertores do pior jornalismo que este país já conheceu em muitas décadas. A Abril estava esperando baixar a poeira para pensar em mudanças inevitáveis na revista Veja. Demorou, o furacão che
Publicado 14/07/2008 16:03
Agora é apenas aguardar o sangramento até que a Abril encontre a oportunidade adequada para promover as mudanças e tentar recuperar a revista. Tenho cá para mim que o desgaste já chegou a um ponto de não-retorno.
Ainda se levará bom tempo para avaliar o que esse período de esbórnia, essa violência pornográfica, a falta de escrúpulos tentando compensar a falta de talento, produziram na maior revista brasileira.
A quebra de imagem é irreversível e não apenas entre os leitores mais esclarecidos — cuja ficha caiu há muito tempo. A falta de qualidade das matérias, a carência de pauta, a repetição monocórdica de escândalos mal apurados, mal escritos, a truculência, a arrogância, o exercício sistemático das armas da injúria e da difamação já bateram no leitor comum. Mais ainda nas redações.
Veja já foi uma revista admirada. Depois, passou a ser temida — o que de pior pode acontecer com qualquer forma de poder. Agora é ironizada. A incapacidade de fugir do ritual amador dos ataques destrambelhados, a impotência em trabalhar competentemente qualquer tema de peso já entraram para o terreno da galhofa.
Pior: a cara da revista não é mais seu corpo de jornalistas, dos mais bem pagos do país. O modelo da gestão Eurípedes resumiu-se à criação de dois atiradores: um pilantra e um desequilibrado, incensados em suas cartas ao leitor, como se fossem a síntese do corpo editorial da revista. É tudo o que se produziu de novidade nesses anos desastrosos.
Indague-se de qualquer jornalista da grande imprensa, das assessorias de comunicação, da assessoria das grandes empresas o que representa a Veja, para eles. Lixo! Indague-se dos jovens candidatos a jornalistas cursando Faculdades, o que pensam da Veja. Lixo! E não é força de expressão. É a expressão corrente. É inacreditável que só agora tenha caído a ficha da Abril.
Eurípedes Alcântara e Mário Sabino entrarão para a história do jornalismo brasileiro pelo maior anti-feito de que se tem notícia: em poucos anos, arrebentaram com o maior ativo da Editora Abril, a imagem da revista Veja.
Os futuros manuais de jornalismo tratarão de estudar por muitos anos, como se fossem fósseis da pré-história jornalística, a troca despudorada de favores — eu-te-elogio-tu-me-elogias —, a tentativa de transformar uma pessoa medíocre no “oráculo de Ipanema”, a manipulação de listas de livros para auto-promoção, o uso de desequilibrados para inibir os críticos, a terceirização da reportagens para esquemas de corrupção, do qual o mais influente foi o de Daniel Dantas. Comportaram-se como donos de botequim ante uma editora que perdeu completamente o controle sobre a gestão da opinião — o maior ativo de que dispunha.
Eurípedes Alcântara e Mário Sabino entram para a história do jornalismo nacional como o melhor anti-exemplo para as novas gerações: conseguiram desmoralizar a falta de escrúpulos. Durante anos, os alunos sairão das faculdades sabendo que ambos se enterraram por terem desprezado princípios elementares de jornalismo, não terem conseguido se desvencilhar da armadilha da prática diuturna da difamação, por terem apelado para pistoleiros da reputação para se defenderem de ataques contra sua incapacidade de fazer jornalismo.
Para não repetirem a sina, só haverá uma alternativa para os estudantes: estudar e se esmerar no aprendizado permanente do bom jornalismo.