Senado aquecerá debate sobre a 4ª Frota após recesso

Os senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Eduardo Suplicy (PT-SP) prometem entregar, no início de agosto, a carta que será enviada aos dois candidatos à Presidência dos Estados Unidos, John McCain e Barack Obama, protestando contra a reativação da Quarta Fr

A Quarta Frota foi criada durante a 2ª Guerra Mundial com o objetivo de proteger a América do Sul. Logo após o término da guerra, ela foi desativada, embora tenha marcado presença na costa brasileira no período do golpe militar de 64.


 


A perspectiva é que o debate em torno do assunto ganhe novas dimensões no Senado. Além do envio do documento, o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) apresentou requerimentos na comissão para que sejam convidados o ministro da Defesa, Nelson Jobim e o embaixador dos Estados Unidos, Clifford Sobel, para discutir o tema. O parlamentar comunista também sugeriu aos senadores, designados para acompanhar as eleições nos EUA, que solicitem audiência com os dois candidatos.


 


Na Câmara, a discussão também já começou. “É evidente que essa ação militar tem interesses geopolíticos claros. Primeiro, querem expressar sua hegemonia sobre os países da América do Sul. Segundo, as recentes descobertas de petróleo na costa brasileira indicam possibilidade de reservas de petróleo. Então, estamos diante da necessidade de alterar nossa legislação para melhor tratar nossas reservas petrolíferas e, ao mesmo tempo, preparar o país para garantir esse petróleo”, discursou recentemente o deputado federal Fernando Ferro (PT-PE).


 


A questão das reservas de petróleo no país de fato é a que mais preocupa o governo brasileiro. Reunido com os senadores da Comissão de Relações Exteriores, o ministro Nelson Jobim, revelou que o governo está atento a um debate na Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os limites do mar. Atualmente os países mantêm sua soberania no limite de 200 milhas náuticas a partir das suas faixas litorâneas. Como os novos poços brasileiros estão quase nesse limite, o Brasil reivindica mais 900 quilômetros. O problema é que os EUA não são signatários dessa resolução da ONU.


 


À Agência Senado, o senador Pedro Simon disse que ficou impressionado com os estudos apresentados aos parlamentares por Nelson Jobim. O trabalho foi feito pela Defesa em conjunto com a Petrobras e envolve ainda questões referentes à Amazônia. No tocante ao mar territorial do Brasil, a maior preocupação do governo é com a soberania brasileira sobre a recente descoberta do Campo de Tupi, na Bacia de Campos, cujas as reservas são estimadas entre 5 bilhões a 8 bilhões de barris, praticamente 50% das reservas nacionais.


 


“Por que, de repente, os americanos vêm com a Quarta Frota? Qual é a razão? Ela é pacífica, ela é de paz? Ela é até humanitária, tem serviços de médico para ajudar, para auxiliar?”, questionou o senador, para quem o presidente George Busch, “em final de mandato e com índices de popularidade mais baixo da história”, não poderia ter tomado essa decisão.


 


Além de Jobim, os senadores já debateram o assunto com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e com o embaixador norte-americano Clifford Sobel. Este último alegou questões humanitárias para a presença militar e disse estar surpreso com a preocupação dos senadores. “Para isso (missão humanitária) não faz sentido a presença de um frota nuclear”, reagiu na ocasião o senador Simon.


 


Já com Celso Amorim, os senadores ficaram sabendo do pedido de desculpas feito ao embaixador pela secretária de Estado Condolezza Rice. Ela reconheceu que, antes de anunciar sua intenção, o governo Busch deveria ter comunicado ao Brasil.


 


Motivos da presença militar


 


De acordo com o jornal Le Monde Diplomatique, na sua edição de junho, as recentes descobertas das reservas de petróleo na costa brasileira, os recursos naturais em abundância, reserva de água potável e à guinada à esquerda dos governos na América do Sul são os principais motivos que levaram os EUA a anunciarem a reativação da Quarta Frota.


 


Diz o texto, assinado pelo sociólogo e diretor do jornal, Sílvio Caccia Bava, que a política externa da terra do Tio Sam está preocupada em manter sua hegemonia global, por isso, reforça sua presença militar na América Latina, que já não é pequena.


 


Em recente artigo publicado no Portal Vermelho “Para que serve a Quarta Frota”, o presidente do Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo, Lejeune Mirhan, lembra que os EUA possuem o maior e mais poderoso exército da terra com um contingente de dois milhões de solados espalhados pelos continentes.


 


Diz Mirhan que são sete frotas norte-americanas posicionadas estrategicamente no planeta. Com sede na cidade portuária de Maryland, a Quarta deverá ser subordinada ao Comando do Sul dos EUA tendo como comandante o contra-almirante Joseph Kernan, especialista em missão antiterroristas.


 


De Brasília,


Iram Alfaia