Patinhas: “Um outro PCdoB sairá destas eleições”

Em forte crescimento no Ceará e no Brasil, o PCdoB precisa compreender o atual momento positivo para aproveitá-lo ao máximo, potencializando grandes vitórias neste e nos próximos desafios eleitorais. A avaliação é do presidente do Comitê Estadual do PC


O PCdoB chega ao processo eleitoral de 2008 apontado como um partido em franca ascensão. A que se deve esse crescimento? Qual é a sua análise do atual momento do partido?
O crescimento do PCdoB neste momento se deve a um novo ciclo político, instalado no Brasil a partir de 2003. Na nossa história de 86 anos, sempre nos momentos de mais democracia, progresso, liberdade para o povo, o partido cresce. Agora, estamos vivendo um período especial, depois de 2002, com a primeira eleição de Lula à Presidência da República, e a partir de 2007, com o segundo governo Lula. Um período onde há um clima mais favorável na América Latina, em especial na América do Sul, para uma maior integração dos paises latinos e um florescimento maior de governos progressistas nesses países.


 


Um cenário favorável a esse crescimento do PCdoB…
Sem dúvida. Em especial desde o início do segundo governo Lula, o partido vem crescendo, e a sua direção nacional vem imprimindo certo reposicionamento político, de mais ousadia, de ocupar mais espaços. E isso se reflete numa estratégia nova para as eleições de 2008. Nos últimos 20 anos, anos acumulamos forças, projetamos lideranças em processos eleitorais numa política de concentração de  esforços em alguns poucos candidatos proporcionais e pouquíssimos a cargos majoritários. Hoje, a busca de mais ousadia reflete-se no lançamento de candidaturas majoritárias e proporcionais em maior número em todos os estados. Através da articulação com o Bloco de Esquerda e deste com o PT conseguimos  ficar bem posicionados nas coligações, inclusive nas capitais.


 


Com que pretensões o partido chega às eleições municipais deste ano, em termos de prefeituras nas capitais?
O partido apresenta oito candidatos a prefeito, inclusive quatro mulheres, disputando bem as eleições. Jandira Feghalli no Rio de Janeiro, Jô Moraes em Belo Horizonte, Manuela D’Ávila em Porto Alegre e Ângela Albino em Florianópolis. Como também buscamos a reeleição de Edvaldo Nogueira em Aracaju e as eleições de Flávio Dino em São Luis, Ricardo Gomyde em Curitiba e David Chiquilito em Porto Velho. Então podemos dizer que estamos em um quadro nacional favorável ao PCdoB. E, se o partido está bem, nacionalmente, também está bem em todos os estados, apresentando um projeto bem mais ampliado. 


 


O Ceará deu ao PCdoB o segundo senador da história do partido…
Exatamente. Se nacionalmente um novo ciclo se iniciou em 2002, no Ceará temos um novo momento a partir da eleição de Inácio Arruda para o Senado e de Cid Gomes para o Governo do Estado, em 2006, reunindo uma grande frente. Um governo com postura democrática, de abertura aos movimentos sociais, e que acredito que vai deixar sua marca desenvolvimentista, também com a nossa contribuição. Podemos dizer que em 2006 colhemos o que plantamos. Em 1996, com a primeira candidatura do Inácio a prefeito. Em 2000 disputamos bem o segundo turno da eleição para prefeito de Fortaleza. Em 2002, Inácio ultrapassa a casa de 300 mil votos para deputado federal. E em 2006 coroamos esse processo com a vitória para o Senado, disputando uma única vaga, num fato histórico: o segundo senador comunista da história de nosso País. Tivemos Luís Carlos Prestes de 46 a 47, em um período de liberdade, e agora o senador Inácio Arruda, aqui no Ceará. A partir daí tivemos um salto qualitativo, o partido entrou em uma nova fase no Ceará, assumindo também novos desafios. Com a vitória do governo Cid, pela primeira vez o partido passa a participar do governo estadual, com o companheiro João Ananias na Secretaria de Saúde, uma pasta importante, que trata diretamente do povo, em um de seus problemas mais sensíveis. E temos uma participação razoável em várias outras secretarias do governo do Estado.


 


Qual foi o reflexo desse crescimento para o partido no interior do Estado?
O reflexo foi imediato. Tínhamos elegido só um prefeito em 2004, e filiamos sete novos prefeitos. O partido também elegeu dois vice-prefeitos, e passou a ter sete. E passamos de 11 vereadores eleitos a 34 filiados ao PCdoB. Isso é um reflexo direto desse salto realizado no final de 2006. Dando seqüência a esse crescimento, estamos com um número bem mais elevado de candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador no Ceará. Em  número de  candidatos a prefeito, somos hoje o oitavo partido no Ceará. Temos mais candidatos a prefeito que partidos médios e até que alguns partidos grandes. Mais do que PDT, PPS, PTB e o DEM. O PCdo B passa, assim, a uma nova fase de crescimento, como um partido de porte médio, no Ceará, com 19 candidatos a prefeito, 21 candidatos a vice-prefeito e nada menos que 472 a vereador. Um total de candidaturas em 120 municípios, 70% das cidades cearenses, atingindo uma população superior a 90% da população do estado.


 


O partido, que vinha com mais pretensões eleitorais na capital, consolidou a sua presença no interior?
Pela primeira vez temos candidatos bem distribuídos em todas as regiões, desde o Cariri, a Região Norte, Litoral Leste, Litoral Oeste. E se alguns de nossos candidatos a prefeito são de cidades pequenas ( Graça, Jucás, Potengi, Miraíma, Santana do Acaraú, Milhã, Aracoiaba, Paracuru,), temos candidatos também em cidades médias e grandes, cidades-pólo no Estado. Como Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza, com mais de 100 mil habitantes, e Crateús, um pólo naquela região, uma cidade histórica, de luta e resistência na Coluna Prestes e na ditadura militar. Entre outras cidades importantes para esse projeto eleitoral, temos São Benedito, na divisa com o Piauí; Morada Nova, na região do Vale do Jaguaribe, e Horizonte, que é hoje uma cidade operária, com um crescimento muito grande. Já entre os candidatos a vice-prefeito, destacamos municípios importantes, como Camocim, Baturité e Aquiraz.


 


Pode-se falar em uma nova fase do partido no Estado?
Sim, uma fase de grande crescimento, que coincide com a nova fase que está despontando, de desenvolvimento para o Ceará, através da articulação  do Governo Cid Gomes com o Governo Lula.  Obras estruturantes, como a interligação de bacias do São Francisco, a Transnordestina, a siderurgia e a refinaria, na Região Metropolitana de Fortaleza terão grande impacto no estado. Daqui a quatro, cinco anos passaremos a ter um outro Ceará. Coincidem as duas coisas: o PCdoB cresce dentro de um momento positivo para o estado e para a classe operária, de maior renda para os trabalhadores e de mais empregos.


 


Isso se reflete também na consolidação de lideranças antes mais presentes na capital, e hoje também fortes no interior…
Esse é um dos reflexos diretos dessa nova fase. O nome do Inácio hoje é conhecido e respeitado em todo o Ceará. Como também Chico Lopes, deputado federal eleito com mais de 160 mil votos, pela sua maneira de ser, pela sua capacidade natural de liderança com o povo, também desperta interesse aonde vai. João Ananias é uma liderança nata do Interior, foi prefeito duas vezes de Santana do Acaraú e hoje realiza um importante trabalho na Secretaria de Saúde. Lula Morais, que hoje é deputado estadual, passou a ter repercussão de seu mandato no estado como um todo. E recentemente assumiu mandato de deputado estadual o companheiro Neurami Amorim, com a simbologia muito grande de ser o primeiro deficiente visual a ocupar uma cadeira na Assembléia Legislativa do Ceará, com uma repercussão muito favorável ao nosso partido. Então, de fato, nosso partido interiorizou-se, projeta lideranças em todos os municípios do Ceará. Hoje a direção estadual do partido não pode pensar só em Fortaleza; tem que pensar no estado como um todo.


 


Que desafios surgem com essa ampliação?
É um cenário muito mais complexo. No curto prazo, do ponto de vista da campanha eleitoral, o desafio maior é fazer com que esse número de candidatos reflita concretamente em um bom número de eleitos. Em termos do nosso partido, nunca tivemos uma campanha majoritária tão ampla. Embora tenhamos participado da disputa em Fortaleza em três pleitos, nunca chegamos a uma eleição com essa magnitude no interior, com o desafio de realizar boas campanhas, em tantas cidades. Um desafio muito grande, porque cada cidade é uma realidade diferente, tem suas peculiaridades locais. Se em 6 de outubro, quando examinarmos o novo mapa eleitoral do Estado, virmos que conseguimos dar continuidade ao projeto de governo popular, representado pela prefeita Luizianne Lins em Fortaleza, elegermos um bom número de prefeitos, vice e vereadores do PCdoB e virmos que foram reduzidas significativamente as posições do DEM e do PSDB no interior do Estado, teremos conquistado uma grande vitória. 


 


No caso do partido, quais são as expectativas de resultados?
Todos os nossos candidatos são competitivos, estão bem na disputa. Mas podemos dizer que temos condições de chegar à eleição de prefeitos em 8 ou até 10 cidades do interior. Levando em conta que temos atualmente oito e que em três cidades não temos candidatura do PCdoB ( Aquiraz , Araripe, Piquet Carneiro) seria um avanço. Um grande salto desde 2004, quando elegemos apenas um, e é possível chegar lá. Para vice-prefeito, podemos chegar a 10 ou até 12,  formando assim um resultado da disputa majoritária, de prefeito e vice, bastante razoável em todas as regiões.


 


E quanto aos vereadores?
Em todas as 120 cidades estamos disputando. Em cidades onde temos candidato a prefeito com grandes possibilidades de eleição, como Jucás, Graça, Santana do Acaraú, São Benedito e Potengi poderemos ter um número elevado de vereadores, na faixa de três ou quatro em cada uma, podendo até eleger a presidência da Câmara Municipal. Nas maiores cidades estamos bem posicionados. Em Fortaleza temos possibilidade concreta de eleger três vereadores. Em Caucaia e Aquiraz, dois ou três em cada. Em Crateús, dois vereadores. Um vereador em cidades como Maracanaú, Sobral, Iguatu, Aracati. No total, podemos chegar ao um número entre 60 e 80 vereadores, em todas as cidades, o que é suficiente para formar no geral um quadro político mais favorável ao PCdoB no Ceará, que possa fazer projeções para novas conquistas de espaço em 2010 e 2012. É um desafio que exige muito esforço, principalmente de nossos comitês municipais, em buscar  recursos, manter bom relacionamento com os demais partidos coligados, viabilizar e conduzir campanhas de sucesso. Papel destacado joga  a nossa militância, que é um diferencial, por ser politizada e estimulada como nenhuma outra, para a obtenção de um resultado favorável.


 


O que já levaria a projeções para 2010 e 2012…
Vamos fincar em 2008 estacas importantes em todas as regiões do estado, possibilitando novos avanços em 2010 e 2012. Em 2010, quem sabe, participar da disputa majoritária, eleger três ou quatro deputados estaduais e dois deputados federais. Com essa quantidade de lideranças que projetamos no Ceará, é plenamente possível. E em 2012, em vez de disputar 19 cidades, disputar talvez em até 40 cidades com candidato a prefeito. Inclusive, quem sabe, em  Fortaleza e noutras cidades maiores.



 
Com todo esse crescimento do partido, em termos eleitorais, o PCdoB teme um questionamento dos seus princípios básicos, como já aconteceu com outras legendas? O partido se preocupa em não se voltar somente às eleições, em detrimento de seu conteúdo programático?
O desafio programático é o principal diferencial do PCdoB e, portanto, nunca pode ser deixado de lado. É um desafio permanente, mais duradouro. O desafio da construção de um partido comunista com essa complexidade toda, essa magnitude, essa influência de massa que o PCdoB passa a ter. Para isso buscamos reforçar a frente de formação teórica, com cursos em vários níveis para quadros e militantes. Mesmo durante a campanha, continuamos nossas atividades de formação. Fazemos uma análise altamente positiva de toda uma experiência de 90 anos de construção no socialismo. Hoje, menos de 20 anos após a queda do muro de Berlim, vemos uma crise profunda no centro do capitalismo, nesse sistema financeiro de grandes negociatas, na falência de grandes conglomerados financeiros, onde esse projeto neoliberal vai cada vez mais mostrando suas falhas. O século passado foi o século do socialismo, com enormes contribuições para a humanidade, em todos os terrenos. No entanto, é uma experiência que demonstra também deficiências. E uma lição principal: não existe receita de socialismo, pronta e acabada.


 


Cada país tem de buscar seu caminho, seu modelo…
É o que estamos fazendo aqui, nesse momento, em um caminho de acumulação de forças, nesse período democrático iniciado pelo governo Lula, com a busca de reformas progressistas, que levem a um maior nível de distribuição de renda no Brasil. Queremos um Brasil socialista e desenvolvido. Para isso, precisamos de um partido de massa, não só de um partido de quadros. Estamos cada vez mais convencidos de que o avanço do Brasil na perspectiva de uma sociedade socialista pressupõe a existência de um partido comunista forte, de massa. Esse é o desafio maior, que precisamos enfrentar com a formação, dentro do partido, e também com a construção de uma corrente marxista mais ampla, para além do PCdoB.


 


O desafio eleitoral, então, colabora com esse processo, ao invés de concorrer com ele?
Com certeza. O PCdoB não é um partido de uma nota só. Temos muitas notas, muitas frentes. Evidentemente, em cada momento uma frente puxa as outras. Nesse momento, é a frente institucional, com as eleições. Mas não perdemos de vista nossas preocupações concretas na frente de massa, nos movimentos sociais, que é a frente fundamental que impulsiona o processo histórico. Na frente sindical, com desafios imediatos, como a construção da  Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Temos que acompanhar isso, ajudar esse desenvolvimento. Temos a União da Juventude Socialista (UJS), temos a frente comunitária, e outras, em defesa da ecologia, das minorias… Mas o processo eleitoral não atrapalha esses demais esforços. Pelo contrário. Todas essas frentes têm crescido junto com o partido, no interior do estado. E na frente eleitoral, o trabalho não se esgota com a vitória dos nossos candidatos. Por isso temos instâncias como o Fórum de Prefeitos e Vices e o Fórum de Vereadores, como instrumentos auxiliares da direção estadual. Temos ainda desafios para acompanhar esse crescimento, como aperfeiçoar a nossa Escola de Formação, melhorar nossos instrumentos de comunicação e nossa infra-estrutura, além de reforçar o trabalho das secretarias do Comitê Estadual, para fazer jus a esse crescimento. E mais do que isso: compreender plenamente essa nova fase, aprender com os que chegam, entender esse momento, do militante mais antigo ao mais novo filiado. Conseguindo isso, estamos no caminho certo.