Reconectar o Rio com uma agenda mudancista

É possível mudar o Rio para melhor, é possível reconectar o Rio com sua tradição política mais avançada. É possível unir a sociedade, seus movimentos organizados e forças políticas avançadas em torno de um projeto comum. O que está no horizonte é a pos

Duas questões se imbricam na presente eleição do Rio e apontam no mesmo sentido, de levar ao segundo turno uma candidatura das forças de esquerda e progressistas.



A primeira delas diz respeito aos problemas da cidade. O Rio, nos dezesseis anos desde 1992, foi governado por um mesmo campo político, essencialmente conservador. Não houve por aqui experiências, nem sequer assistemáticas, de políticas públicas democráticas e inclusivas, de respeito à cidadania, de desenvolvimento e respeito aos direitos do povo.



Excetuada a pioneira experiência do governo estadual sob comando de Brizola, com a implantação do CIEP – monumento de visão democrática pela educação – por aqui não transitaram experiências vitoriosas que tiveram lugar em outras cidades e mesmo no país nos últimos anos – o orçamento participativo, a integração da rede pública de saúde, a implantação de bilhete único e integrado no  transporte, políticas de inclusão digital, de esporte e lazer, etc. Essas experiências – realizadas por diferentes forças políticas em São Paulo, Porto Alegre, Aracaju, Recife, Natal, João Pessoa entre outras capitais, mostraram que em quatro anos dessas forças foi possível fazer muito – e bem feito – pelos sentidos problemas populares.  O Rio sequer pôde aprovar um Plano Diretor, ou avançar na implantação das determinações do Estatuto da Cidade. Conhece uma participação em Conselhos populares rarefeita, que tem como resultado político o isolamento dos cidadãos e organizações sociais da política urbana. Esta foi concentrada em um Poder Executivo altamente centralizador, discricionário. Não é à toa que expressões como “desordem urbana” ou “precarização do espaço público” passaram a fazer parte da agenda carioca. Combinado com uma estrutura poderosa da criminalidade a população da cidade sente sua cidadania suspensa, impotente.



Esse descompasso do Rio com as conquistas democráticas, mesmo que incompletas, oriundas da ocupação do poder público por forças populares, cobra seu preço.  Por outro lado, o Rio é palco, desde muito, de vigorosos movimentos sociais, da luta pela democracia, da participação cidadã na Constituinte de 1988, de práticas associativistas ampliadas, do pioneirismo do ativismo judicial. Há uma sociedade civil que, se unida, pode ser o espaço sobre o qual se projetará a nova cidade. Mas isso não é possível sem desobstruir os canais políticos, sem promover o reencontro do Rio com sua tradição cidadã, sem que a prefeitura do Rio esteja em novas mãos.



A segunda questão diz respeito ao papel do Rio no cenário nacional, certamente muito aquém, hoje, da sua importância econômica, cultural e populacional. A vida política carioca parece se esvair num rame-rame clientelista, politiqueiro e imediatista, às voltas com milícias e tráfico, num autêntico seqüestro da política.  O isolamento das forças populares e progressistas, como não ocorreu em nenhuma outra grande cidade brasileira, impediu que a população pudesse optar por uma alternativa mais avançada. Cresce o desânimo frente à disputas eleitorais que reiteradamente convergem para escolhas entre opções situadas no mesmo campo conservador. Nesse sentido, a saída política carioca passa por articular a alternativa local com um papel avançado no cenário nacional, notadamente no grande embate presidencial de 2010 em sustentação do campo de forças mudancistas, democráticas e populares. Vitórias importantes dessas forças se desenham no horizonte nos Estados mais importantes da federação. Mas e no Rio?



Aqui também se evidencia uma dessintonia. A disputa eleitoral está sendo claramente pautada por forças econômicas e políticas dentro de um script de um candidato escolhido para perder e um candidato pretensamente para ganhar, no segundo turno. De um lado Crivella, de outro lado o transformista Eduardo Paes. Com isso, tenta-se eliminar uma alternativa de caráter mais avançado para governar a cidade, e mantém-se o Rio numa condição secundarizada para 2010 no campo das forças populares e de esquerda.



É por essas razões que se torna indispensável a reflexão proposta pelo Luta Rio. As circunstâncias são tais que apenas uma candidatura tem chances de chegar ao segundo turno. Isso só é possível se unidos os votos progressistas que estão dispersos. Jandira hoje lidera esse bloco. Ela está credenciada por sua trajetória, por sua vinculação com os movimentos populares e com as forças políticas da cidade, a ser legítima expressão desses anseios. E está capacitada a liderar a implantação das bandeiras programáticas de natureza democrática e social que possibilitem a reorganização do Rio.



É possível mudar o Rio para melhor, é possível reconectar o Rio com sua tradição política mais avançada. É possível unir a sociedade, seus movimentos organizados e forças políticas avançadas em torno de um projeto comum. O que está no horizonte é a possibilidade de abrir um novo ciclo político, de oferecer à população no segundo turno desta eleição, uma chance de fazer uma escolha melhor. E nesta batalha, este escolha tem nome: Jandira.



* dirigente nacional do PCdoB.
** sociólogo, ex-presidente da UNE



Fonte: www.lutario.com.br