Acelerador de partículas foi ligado e o mundo não acabou

O superacelerador de partículas LHC (sigla em inglês para Grande Colisor de Hádrons) da Organização Européia para a Pesquisa Nuclear (CERN) foi testado com sucesso nesta quarta-feira, mas ainda não recriou as condições do Big Bang. O feito tão esperado nã

Os cientistas lançaram um segundo feixe de milhões de protóns às 12h30 (7h30 de Brasília) em sentido anti-horário, contrário ao primeiro que foi colocado hoje e que conseguiu com sucesso dar uma volta completa nos 27 quilômetros do anel circular subterrâneo que forma o LHC. O primeiro feixe, que é do tamanho de um fio de cabelo, circulou pelo LHC no sentido horário e levou cerca de uma hora para percorrê-lo.



O anel é dividido em oito partes, e o primeiro teste de hoje consistiu em lançar o feixe e conseguir que passasse pela primeira. Em seguida, foi lançado novamente e o feixe atravessou a primeira e a segunda, no terceiro lançamento correu pela primeira, a segunda e a terceira partes, e assim sucessivamente. A idéia era comprovar que todo o sistema funciona, que cada peça fez o que tinha de fazer, e indicar que tudo ocorreu como programado.



Quase 9.000 cientistas se reuniram nesta quarta-feira na fronteira entre a Suíça e a França para realizar o primeiro teste com o LHC. O esperado choque entre partículas no LHC deve acontecer nos próximos dias, segundo relato de Andre Rabelo dos Anjos, físico brasileiro filiado à Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, que acompanha de perto o experimento na Suíça.


Segundo ele, não há uma data fechada para colocar as partículas em rota de colisão e é possível que, caso o experimento continue no bom ritmo atual, o choque aconteça em breve.



Rabelo dos Anjos explicou que os cientistas estão animados com os experimentos feitos no LHC nesta quarta-feira (10). “Agora eles começam a introduzir o feixe no segundo sentido”, relata Rabelo dos Anjos. No começo da manhã, um primeiro feixe foi colocado no LHC e, após as partículas completarem uma volta na máquina, que tem 27 km, um segundo feixe foi introduzido no sentido oposto.



“Os brasileiros têm participação em vários experimentos”, diz. Rabelo dos Anjos explica que o objetivo do LHC “é desvendar os últimos mistérios da física de partículas”. Segundo ele, os resultados não têm impacto direto na vida das pessoas. No entanto, toda a tecnologia produzida ao redor do experimento terá um impacto grande.



Para ilustrar, o físico comenta a ida do homem à lua. “Ir a Lua não afeta sua vida diretamente. Mas para o homem ir à Lua foi preciso inventar o cristal liquido e ele sim foi importante para a vida das pessoas”. A tecnologia gerada para o experimento pode ser usada para outras áreas.



Em relação ao medo de algumas pessoas de que o mundo poderia acabar com o início das operações do LHC, o físico afirma que tudo não passa de especulações de quem não conhece detalhes da operação. “A possibilidade disso acontecer é zero. É possível comparar com a probabilidade de você correndo atravessar um muro”. Além disso, ele afirma que os físicos envolvidos no projeto tratam tal especulação como “uma grande piada”.



“Hoje é um dia histórico. Pela primeira vez se conseguiu que, em uma hora, o acelerador aceitasse as partículas e estas circulassem”, disse, em entrevista coletiva, o diretor-geral do CERN, Robert Aymar, após o sucesso do primeiro lançamento.



O choque de prótons deve ocorrer em alguns meses, depois da realização de todos os testes necessários. Com isso, os cientistas esperam recriar as condições no Universo pouco depois do “Big Bang” e identificar novas partículas elementares que revelem dados muito importantes sobre a natureza do cosmos.