Bolívia decreta estado de sítio em Pando após chacina

O governo Evo Morales decretou estado de sítio em todo o departamento de Pando, no norte da Bolívia, na noite desta sexta-feira (12). O decreto visa ''restabelecer a ordem diante da onda de violência criminosa desencadeada nos últimos dias'' por mil

O ministro da Defesa, Walker San Miguel, informou que o estado de sítio se baseia nos artigos 96 e 111 da Constituição boliviana. O artigo 96 atribui ao presidente da República a função de defender a ordem interna do território nacional.

San Miguel disse também que há indícios de infiltração de estrangeiros portando armas de fogo, através das fronteiras internacionais do departamento. Pando limita-se ao norte com os estados brasileiros do Acre e Rondônia e a Leste com a região peruana de Madre de Dios.

A medida, aprovada pelo Conselho de Ministros, inclui a proibição terminante do porte de armas de fogo, armas brancas ou explosivos. Veda também ''a realização de reuniões políticas, comícios, manifestações, greves e bloqueios de ruas, vias urbabas, rurais e vicinais'' em Pando.

Mortos já somam 14

Com 64 mil km2 e 70 mil habitantes, Pando possui cerca de um terço da área e um quarto da população do estado do Acre. Coberto pela floresta amazônica, é o departamento boliviano menos povoado. A capital, Cobija (30 mil habitantes), fica na fronteira com o Brasil, às margens do Rio Acre e diante da cidade acreana de Brasiléia.

Cerca de 30 km ao sul, numa ponte perto da localidade de Porvenir, ocorreu na quinta-feira um massacre de camponeses favoráveis ao governo Evo Morales. Os paramilitares, emboscados em árvores, atacaram uma marcha de mil trabalhadores rurais que se dirigia a Cobija. Participantes da marcha garantem que os camponeses não portavam armas e começaram a ser alvejados, inclusive por metralhadoras, quando atravessavam a ponte. O número de mortes comprovadas durante o massacre de Porvenir subia a 14 na tarde desta sexta-feira.

Governador local é da linha dura

O ministro de Governo da Bolívia, Alfredo Rada, disse que o estado de sítio visa ''deter os momentos de terror e violência, depois que um grupo de indígenas e camponeses que se dirigiam à cidade de Cobija foi emboscado e massacrado por funcionários da prefeitura e ativistas cívicos''.

''Vimos que esta situação não só põe em perigo a convivência entre os cidadãos, os direitos elementares dos seres humanos, sobretudo o direito à vida, sem que grupos de vândalos assaltem comércios e domicílios, sem o temor de que delinqüentes estrangeiros assediem a cidade de Cobija ao amparo da proteção das autoridades locais'', disse Rada.

Leopoldo Fernández, governador (''prefecto'') de Pando, forma a linha dura dos governantes oposicionistas dos departamentos da ''Meia Lua'' – que inclui também Santa Cruz, Tarija e Beni. Ele anunciou  que não integrará o processo de diálogo iniciado ontem em La Paz, com uma conversação entre o vice-presidente Álvaro García Linera e o governador de Tarija, Mario Cossío, que entrou pela madrugada.

Da redação, com agências