Ameaçado, PT acende “luz amarela” em Porto Alegre

A duas semanas da eleição, o PT de Porto Alegre corre o risco de emplacar seu pior desempenho eleitoral desde 1985. Naquele ano, o hoje deputado estadual Raul Pont ficou em terceiro lugar na disputa pela prefeitura da capital gaúcha, atrás do PMDB e do

O atual prefeito e candidato à reeleição, José Fogaça (PMDB), lidera com 33% das intenções de voto, segundo a última pesquisa Datafolha, divulgada na sexta (19). No segundo lugar, a candidata Maria do Rosário (PT) está igualada com Manuela D'Ávila (PCdoB), sua principal adversária para obter uma vaga no segundo turno. Cada uma tem 18% da preferência do eleitorado.



Mas, segundo outros institutos, a diferença existe e ameaça a presença de Rosário no segundo round da eleição. O Ibope aponta uma vantagem de sete pontos para Manuela (23% a 16%) – fora da margem de erro (três pontos percentuais para mais ou para menos).



O desempenho “acendeu a luz amarela” na campanha petista, conforme definição de um de seus coordenadores. Maria do Rosário vai receber ajuda financeira e política do Diretório Nacional do partido e terá o reforço de ministros, escalados para intensificar as aparições na propaganda eleitoral gratuita, com destaque para Dilma Rousseff (Casa Civil).



Além disso, Rosário vai subir o tom dos discursos na campanha – o foco deve ser Manuela D'Ávila, como se viu no debate da TV Band na última quinta-feira (18). Um dos coordenadores da campanha avaliou que é necessário neutralizar a aparente independência de Manuela. “Nossa adversária agora é ela, e não o Fogaça”, disse. Mas os ataques devem ser moderados para que não se inviabilize o apoio no segundo turno. PT e PCdoB são aliados históricos e qualquer uma das duas candidaturas que chegar ao segundo turno precisará do apoio da outra para vencer a disputa.



As caminhadas de militantes, tradicionais nas campanhas petistas, não estão empolgando os eleitores do partido. A avaliação interna é de que a prévia para a indicação do candidato, realizada em março, rachou o PT. Na disputa, Rosário venceu o ex-vice-governador e ex-ministro Miguel Rossetto, da Democracia Socialista – a corrente hegemônica do PT porto-alegrense.



Outra avaliação, esta do cientista político André Marenco, dá conta do fenômeno feminino na atual eleição na cidade: quatro dos sete candidatos são mulheres. Segundo ele, que é professor da UFRGS, o fenômeno apaga a eventual vantagem que teria uma mulher na disputa, como contraponto ao desgaste dos políticos – a maiorias homens. “Nesse cenário, o voto menos partidário tende a prejudicar o PT”, analisa.



Isso porque o partido vem de quatro administrações seguidas na cidade, interrompidas pela eleição de Fogaça em 2004. E o Rio Grande do Sul foi envolvido numa crise ética de grandes proporções.



Embora o PT não estivesse no centro da crise, na visão de Marenco, o eleitor tende a escolher algum candidato ou proposta que esteja mais distante do foco de tensão. É a tal independência de Manuela D'Ávila em relação aos recentes escândalos políticos, sejam eles nacionais, estaduais ou municipais.



Outro cientista político, Paulo Moura constata que a maioria dos eleitores de Porto Alegre é de esquerda. Isso não favorece o PT, já que, segundo ele, o espectro de candidatos com esse perfil é recorde – têm candidatura própria o PT, PCdoB, PSOL e PSTU, além do PSDB. Num espectro mais “à direita” ficam apenas DEM e PHS.



“A lógica sugere a vitória de um dos candidatos da esquerda, mas, dada a densidade de candidaturas nesse espectro, outros elementos como novidade e coerência devem ser decisivos na hora do voto”, sustenta Moura.



Fonte: UOL