Altamiro Borges: As alianças e o cinismo do PT gaúcho

Estacionada em terceiro lugar nas últimas pesquisas eleitorais, a candidata do PT à prefeitura de Porto Alegre, deputada federal Maria do Rosário, decidiu baixar o nível da sua campanha. Após um bombardeio viral, alimentado nos subterrâneos da política, e

“A nossa adversária agora é ela [Manuela], e não o Fogaça”, confessou o coordenador da campanha petista em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. O centro do ataque é a aliança costurada em torno da candidatura Manoela D’Ávila, que congregou PCdoB, PPS, PSB, PMN, PR e PTdoB, o que lhe garantiu maior amplitude política e tempo de televisão. O argumento é tão cínico como frágil, como veremos.



A onda de ataques revela as dificuldades do PT, que está dividido e desmotivado, não possui um eixo consistente de campanha – não sabe se defende ou renega os 16 anos de administração petista na capital – e padece novamente do isolamento político.



Partido rachado e desmotivado



As dificuldades do PT-Rio Grande do Sul, que há tempos convive com fratricidas disputas internas, foram agravadas pelas prévias que aprovaram a candidatura de Maria do Rosário. Elsta venceu por uma diferença de apenas 56 votos (2.193 a 2.137) o ex-ministro Miguel Rosseto, postulante da corrente Democracia Socialista (DS), que é hegemônica no estado. Houve até denúncias de fraudes na prévia, além do uso de cabos  eleitorais e transportes contratados. Na sequência, o postulante a vice da DS também foi rejeitado.



Isto acirrou ainda mais os conflitos internos e gerou desmotivação na militância. Uma constatação visível nas ruas de Porto Alegre é que a campanha petista deste ano é fria e insossa, feita basicamente por cabos eleitorais remunerados. Muitos militantes mais a esquerda não se engajaram na batalha; nem sequer aparecem nos principais eventos; alguns até optaram por fazer campanha em outras cidades da região metropolitana. A ausência da militância é registrada, com ironia, em várias reportagens da mídia nacional e gaúcha.



“As caminhadas dos militantes, tradicionais nas campanhas petistas, não empolgam os eleitores do partido. A avaliação interna é de que a prévia para a indicação do candidato rachou o PT”, constatou recente matéria da Folha de S.Paulo. “As perguntas que o PT deve estar se fazendo são as mesmas do eleitor não-filiado: o que aconteceu com a aguerrida militância? Onde está a energia da Democracia Socialista, corrente que prometeu se engajar quando Maria do Rosário derrotou Miguel Rosseto na prévia?”, cutuca o blog da corrosiva jornalista Rosane de Oliveira (Zero Hora, RS).



Isolamento político e hipocrisia



Além da divisão interna, o PT não teve êxito nas iniciativas para ampliar as alianças. Bem que tentou, o que confirma o cinismo do discurso atual. “Na tentativa de conquistar o PDT, Maria do Rosário e o presidente do partido, Ricardo Berzoini, estiveram com o deputado Vieira da Cunha, líder nacional dos trabalhistas. A deputada também teve encontro com o ministro do Trabalho, Carlos Lupi”, registrou a imprensa. Em função do histórico do partido, as tratativas com o PDT e com outras legendas não deram certas e o PT ficou novamente isolado na disputa.



Até o PSOL, tão avesso às alianças, conseguiu se coligar com o PV, outrora aliado de Fogaça. Já o PT portoalegrense limitou sua coligação a três pequenos partidos, o PTC (três deputados federais eleitos), o PRB (um deputado) e o PSL (nenhum deputado), o que limitou seu tempo no horário de TV.



Rejeitada e isolada, Maria do Rosário apela agora para o discurso do “antes só do que mal acompanhada”. Baita hipocrisia! Esta não é a política atual do seu partido, o PT. Para vencer as eleições e garantir governabilidade, o presidente Lula estabeleceu amplas alianças, inclusive com partidos que hoje são alvos da ira da candidata gaúcha. Sua própria corrente interna, Movimento PT, é famosa pela postura de centro-direita e pelo pragmatismo nas alianças – é só ler suas teses internas. Agora mesmo, no traumático episódio da ''aliança informal'' com o tucano Aécio Neves em Belo Horizonte, um dos líderes da tendência, Romênio Pereira, foi o mais enfático defensor da dobradinha.



Alianças do PT gaúcho com o PPS



O cinismo da crítica às alianças de Manoela D’Ávila, em especial com o PPS, fica patente ao se constatar que o PT se coligou com o mesmo partido em nada menos que 61 municípios gaúchos. O site do TSE (que o internauta pode visitar em http://www3.tse.gov.br) mostra todos eles.



– Canoas é o maior município gaúcho onde PT e PPS estão coligados: com 238 mil eleitores, é o quarto maior colégio eleitoral do estado, depois de Porto Alegre, Caxias do Sul e Pelotas, e o segundo da Grande Porto Alegre. As duas siglas participam do BOM (Bloco de Oposição Municipal), que inclui outros quatro partidos, entre eles o PCdoB, e tem o prefeito do PTB como principal adversário.



– Em Sapucaia do Sul (97 mil eleitores, 13º colégio eleitoral gaúcho) a Frente Popular Trabalhista coliga o PT, PPS e mais três partidos. Vilmar Ballin (PT) tem como colega de chapa Ibanor Catto, do PDT.



– Cachoeirinha (89 mil eleitores, 14º maior eleitorado do Rio Grande do Sul) assistiu à coligação do PT com o PPS e mais três siglas, na Frente Popular e Progressista. O candidato a prefeito é Leonel Matias (PT).



– Outro destaque é Bento Gonçalves, com 76 mil eleitores. A coligação Bento é Nosso Compromisso traz o petista Professor Lunelli para prefeito e o vice, Gentil Santalucia, do PPS.



– Em Guaíba (68 mil eleitores), a coligação Juntos Faremos Mais tem o PPS na cabeça da chapa, com Nelson Cornetet. O vice é o petista Pedrinho Correia Filho e outras três legendas estão na aliança.



Seguem-se, por ordem alfabética, mais 22 municípios do Rio Grande do Sul onde o PT e o PPS estão coligados. Não entraram neste levantamento os casos em que os dois partidos estão em uma mesma coligação, mas fora da chapa majoritária. Mas abrimos exceção para casos muito especiais, como Ibirubá, onde os dois partidos estão unidos na campanha para eleger Fucks Schroeder, do DEM. No total estes municípios somam 805 mil eleitores: quase empatam com Porto Alegre, que tem 1,039 mil eleitores.


– Em Barra do Guarita (3 mil eleitores) a coligação chama-se A Vez é Agora. Tem apenas dois partidos: PT e PPS.


– Em Benjamin Constant do Sul (2 mil eleitores) a União por Benjamin coliga o PT com o PPS e mais outras quatro siglas.


– A Prefeitura de Boa Vista do Buricá (6 mil eleitores) é disputada pela coligação União, Mudança e Desenvolvimento. Iloi Francisco Schons, do PPS, concorre a prefeito com o petista Antonio Mota como vice.


– Butiá (16 mil eleitores) tem a coligação Avança Butiá: PPS-PT-PMDB. A chapa inclui Sérgio Malta, do PPS, candidato a prefeito, com Paulo Machado, do PT, na vice.


– A coligação Renovar com Participação concorre em Camargo (2 mil eleitores) com João Carlos Zanatta, do PT, para prefeito, e Angela Maria, do PPS, para vice.


– Campina das Missões (5 mil eleitores) tem no páreo a coligação União Democrática Popular: PT-PPS-PSDB. O petista Melchior Mallmann concorre a prefeito e seu vice é Hortêncio da Silva, do PPS.


– Em Capão da Canoa (27 mil eleitores), Amauri Germano, do PT, tem como vice Tibirro Raupp, do PPS, na coligação Renovação pela Cidadania.


– Em Cerro Largo (9 mil eleitores), a coligação Cerro Largo para Todos tem Canisio Schmidt, do PT, como candidato a prefeito, e na vice Carlinhos Giordani, do PMDB. Inclui ainda o PPS e PSB.


– Em Horizontina (14 mil eleitores), Buda Schneider, do PPS, encabeça a coligação Por uma Horizontina Melhor, com um vice petista, Nildo Hickmann.


– Ibirubá (15 mil eleitores) tem nesta eleição a coligação Frentão. Num desafio aos cientistas políticos, o Frentão alia o DEM, PT, PPS, PP e PSB. O cabeça de chapa é Fucks Schroeder, do DEM, e seu vice Mário Pedersen, do PP.


– Em Itatiba do Sul (4 mil eleitores) concorre a Frente Popular. Coligam-se nela o PT, PPS e PSB.


– A coligação Maximiliano para Todos, em Maximiliano de Almeida (4 mil eleitores), reúne PT, PPS e outras quatro siglas. O petista Belchior Bragança é candidato a prefeito.


– Em Passo do Sobrado (5 mil eleitores) concorre a Frente Ampla e Democrática, uma aliança do PT, PPS e PDT.


– As eleições em Redentora (6 mil eleitores) incluem a Aliança Muda Redentora, outra coligação pouco ortodoxa, entre PT, PPS, PTB, PSDB e PP. Amauri Pissinin (PT) e Chico Wagner (PPS) integram a chapa.


– Em Santo Antonio das Missões (9 mil eleitores) concorre a Frente Popular, que inclui o PT, PPS e mais três legendas.


– Santo Cristo (12 mil eleitores) também tem sua Frente Popular registrada para o 5 de outubro. Coligam-se nela o PT, PPS e PTB.


– São Domingos do Sul (2 mil eleitores) tem nesta eleição a Aliança para o Desenvolvimento de São Domingos do Sul: PT, PPS e mais três siglas, com candidato a prefeito do PT e a vice do PMDB.


– Em São José do Norte (20 mil eleitores) a Frente Poipular Nortense coliga o PT, PPS, PCdoB, PV e PSB. O candidato a prefeito é o Professor Binho, do PT.


– São Lourenço do Sul (34 mil eleitores) formou a Frente Popular, com três partidos: PT, PPS e PCdoB.


– Em São Valentim (3 mil eleitores) a coligação Unidos pelo Futuro de São Valentim alia quatro partidos. O candidato a prefeito é Antonio Zanandrea, do PT; seu vice, Kiko Remus, do PPS.


– Taquari (20 mil eleitores) tem como opção no dia 5 a coligação Taquari em Primeiro Lugar: PT, PPS, PSB, PRB, PR, PCdoB. Maneco Hassen, do PT, sai para prefeito.


– Em Vera Cruz (17 mil eleitores) inscreveu-se a Aliança Democrática: PPS, PT, PMDB e PRB. Guido Hoff, do PPS, é o cabeça de chapa, com Valdomiro Rocha, do PT, na vice.