Manuela quer que Prefeitura de Porto Alegre olhe para frente

“Eu vivo em 2008, ando para frente, não olho para trás”, afirmou a deputada e candidata à Prefeitura de Porto AlegreManuela D’Ávila (PCdoB), em entrevista publicada nesta quinta-feira (25) pelo diário Zero Hora. Segundo lugar nas pesquisas, depoi

Zero Hora – Afinal… A senhora se sente preparada para comandar a prefeitura com apenas 27 anos?


Manuela D’Ávila – Sim. Tenho a mesma trajetória dos meus adversários. Aprendi muito no parlamento, tenho dois mandatos muito eficientes, que correspondem às expectativas da população. Fiz 9,5 mil votos como vereadora e 65 mil votos só em Porto Alegre para deputada federal. Acho que isso é um reconhecimento pelo meu trabalho. Para tu veres como é a ironia da vida: com os meus 27 anos sou a candidata com mais tempo de partido. São 10 anos! Não estive em nenhum outro partido ao longo da minha vida. Às vezes as pessoas adquirem experiências ruins, se acomodam com processos equivocados. Essas experiências não adquiri e não pretendo adquirir.


ZH – O que o PCdoB ainda tem de comunista?


Manuela – Tudo. Temos ideologia, somos um partido que acredita no bem comum, que acredita que é possível ter uma sociedade organizada a partir da reflexão do homem.


ZH – Mas não é o que todos os partidos defendem?


Manuela – Desculpa, mas não é. Não é uma casualidade que o meu partido não tem nenhum parlamentar investigado. Somos um partido de idéias, não temos caciques, temos ideologia.


Explique a contradição


ZH – O candidato a vice-prefeito Berfran Rosado (PPS) participou de um governo (de Antônio Britto, 1995-1998) que fez as privatizações da CRT e da CEEE. O PCdoB critica até hoje essas privatizações. Não é uma contradição você estarem juntos agora?


Manuela – Quem tem contradição com isso são os que dizem que essa é uma contradição minha. Eu tenho disposição de unir a cidade para enfrentar problemas que em 20 anos não foram enfrentados. Quando o PMDB governou o Estado eu ainda não votava (em 1994, Antônio Britto foi eleito governador pelo PMDB, e Manuela tinha 13 anos). Era uma época em que Lula ainda achava que empresário era inimigo dele. Hoje o vice de Lula é o empresário José Alencar. Meu discurso é igual. Eu usei o adesivo Lula-Alencar na eleição de 2002. Tem gente que cortou o nome de Alencar e se arrepende. Em 2002, com 20 anos, eu já tinha a capacidade de entender a aliança do peão Lula com o empresário Alencar. Eu vivo em 2008, ando para frente, não olho para trás.


ZH – A senhora se sente confortável com o fato de o PPS, partido do vice Berfran Rosado, ainda ocupar cargos na administração do prefeito José Fogaça?


Manuela – O PPS já orientou o pedido de demissão dos ocupantes de cargos na prefeitura e já encaminhou à comissão de ética os que continuam na administração. Isso é um problema de fidelidade partidária. São as mesmas discrepâncias que fazem com que o PT esteja coligado com o governo de Aécio Neves (PSDB), em Minas.


ZH – O que a senhora destaca de positivo na administração de José Fogaça?


Manuela – Meu discurso de posse como vereadora (em 2005) se relaciona com o que eu digo agora. Naquele momento eu já dizia: “Prefeito, eu sou de oposição, mas conte comigo para tudo aquilo que for para o bem da cidade”. A prova disso é que eu votei a favor das parcerias público-privadas e do camelódromo, enquanto a bancada do PT votou contra. O camelódromo é uma iniciativa interessante porque pôs fim a um conflito de 15 anos. Mas foi uma única coisa.


Das coisas da cidade


ZH – Pesquisa Ibope mostrou que a saúde é a principal preocupação dos porto-alegrenses. Se eleita, qual será a sua primeira medida para o setor?


Manuela – Informatização da rede, porque todo o resto passa por isso. As equipes de saúde da família precisam ter os dados disponíveis. A informatização permite fazer consultas a exames com velocidade, permite o prontuário eletrônico e a distribuição de medicamentos.


ZH – Pergunta do Paulo Sant’Ana – Tu acreditas que a tua beleza vai ajudar a te fazer prefeita de Porto Alegre, apesar da tua pouca idade?


Manuela – Apesar da pouca idade, Sant’Ana? Não acho que é apesar da minha pouca idade. Eu ironizo. Como fui obesa, tenho uma felicidade particular em ouvir elogios. Não sou nenhum padrão estético. Significa que talvez a gente estimule as meninas a tomarem menos anorexígenos. Sou a candidata que menos mudou esteticamente, estou igual. Não faço nenhuma transformação em foto ou em TV. Primeiro, acho que é uma besteira essa pergunta, segundo, porque ela é machista. Nunca ouvi essa pergunta para nenhum candidato a governador ou a prefeito de Porto Alegre. Esse é o problema, e não o elogio em si. É uma pauta que certamente amanhã tu não vais perguntar para o Fogaça. E isso é lamentável. Em pleno 2008 tenho de responder isso. É o mesmo problema com relação a minha idade. Por que ninguém pergunta para o Bill Gates, que com a minha idade já era multimilionário?


O pior adversário


ZH – Qual é o candidato mais difícil nesta disputa?


Manuela – Talvez o prefeito José Fogaça. É muito difícil porque ele tem a máquina da prefeitura, isso o torna mais competitivo. Ele tem caráter, embora eu o considere um prefeito sem a velocidade necessária para corresponder às expectativas da população. Fogaça fragmentou sua administração, tem companhias que não se relacionam com a integridade dele. Por que tudo está sendo inaugurado em período de eleição? Isso não combina com o caráter dele.


Pergunta íntima


ZH – Se for eleita, como fará para conciliar o governo e o seu namoro com o deputado federal José Eduardo Cardozo (PT-SP)? A distância atrapalha?


Manuela – Todas as relações têm problemas, né? Distância é um deles. Nosso companheirismo é uma vantagem. Não tem nada melhor do que namorar uma pessoa honesta no mundo em que eu vivo. Isso supera a distância. Aliás, não vinculo ele à política. Não teria coragem de fazer o que outros fazem… com o pai.


ZH – Pergunta de Fernanda Zaffari – Seu discurso sempre foi voltado para o público jovem. O que você diz para um jovem que não acredita em política?


Manuela – Faço muito debate em escola e sempre digo que escolher político não é como escolher namorado. Se tu não escolheres namorado para ti ou se tu não comprares um apartamento, isso só terá repercussão na tua vida. Agora, se tu não elegeres o prefeito, ele vai ser eleito igual, seja ele bom ou ruim. Quem não participa da eleição porque acha que está tudo errado ou porque perdeu a esperança estará deixando a decisão para os que têm seus interesses. Os processos e as mudanças só acontecem com participação de todos.



Fonte: Zero Hora; os intertítulos são do jornal portoalegrense