Jô Moraes encerra série de entrevistas com candidatos no Hoje em Dia
Ao criticar a aliança do governador e do prefeito de BH e a desigualdade nesta campanha eleitoral, a candidata do PCdoB/PRB, Jô Moraes, não poupou sequer a Justiça Eleitoral, classificando-a de «imponderável». Ela queixou-se, principalmente, do atraso
Publicado 29/09/2008 12:11 | Editado 04/03/2020 16:51
Estamos vivendo uma eleição atípica em BH. De um lado, se vê uma ação onde, a rigor, não há oposição ao estabelecido. De outro, uma desigualdade de forças muito grande. Que avaliação a senhora faz disso e por qual razão se chegou a esta situação?
Para analisar esta situação, temos de voltar no tempo, à própria história de Minas, que não acumulou um processo de capitalização própria, como São Paulo, e ao longo de sua história, sempre precisou, para se impulsionar e se desenvolver, de recursos do Governo central. Todas as disputas políticas aqui realizadas tiverem sempre um pouco dessa necessidade. Nesse processo, mais recentemente, Minas não conseguiu se afirmar no cenário nacional depois do período da ditadura. E, com isso, fica na subjetividade da política, da população, um desejo de Minas chegar à Presidência da República.
Já tivemos Itamar (Franco), mas ele não representou este esforço, esta conquista de Minas. Foi uma circunstância dada que o levou a este processo (Itamar assumiu em função do impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992). É por isto que, de repente, quando há possibilidade de Minas ir à Presidência, por meio do atual governador, termina sendo uma construção, sobretudo dos setores empresariais, mas também da população, desse desejo.
No último discurso, quando o governador Aécio Neves (PSDB) _ que, neste período, praticamente se transformou num cabo eleitoral militante; não fez nem na sua eleição o que está fazendo agora _ anunciou R$ 1,5 bilhão para Belo Horizonte e, no calor de sua fala disse que «Minas apontará ao Brasil esta perspectiva», ele estava colocando claro que esta disputa de BH é uma disputa para 2010, para levar Minas ao poder. Por isto, digo que, ao longo deste processo, há uma coesão política dos setores empresariais e de certos setores da população para ter um objetivo central nisto. Se é assim e se Minas só pode ir para a Presidência com o governador Aécio, isso orienta a perspectiva. É evidente que temos alternativas. O ministro (do Desenvolvimento Social e Combate à Fome) Patrus Ananias também é um potencial candidato à Presidência. Diria que este quadro impediu _ ou sufocou _ uma oposição ativa, militante. No Governo do Estado, só não participam de cargos o PT e o PCdoB. Na Assembléia, a oposição se reduz à parte do PT e ao PCdB, que tem uma presença muito restrita. Isto orientou o atual clima e, acredito, com uma perda muito grande da democracia.
A senhora não acha também que esta situação está levando a um cenário de uma campanha sem política?. Não há aquele debate vigoroso da política, no seu sentido mais amplo.
Essa eleição tem partilhado duas tendências. Primeiro, esta tendência ’vamos todos nos unir’ para Minas chegar à Presidência da República. Segundo, há uma tendência de concepção administrativa fragmentada. Então, você vai para o debate, o pessoal quer saber o que é saúde, o que é educação, o que transporte, qual é a proposta fragmentada da administração. Se não há um debate sobre que cidade nós queremos, qual a Belo Horizonte que nós buscamos construir. Estava num debate com estudantes de arquitetura e foi a única pergunta que recebi neste processo todo: Jô o que é para você a BH do amanhã? Aí ele dizia, porque, para mim, a BH do amanhã é a BH sem carros. Quer dizer, mesmo na pergunta dele, havia uma certa visão limitada. Eu não participei de nenhum debate em que se pudesse confrontar em primeiro lugar qual é o projeto de desenvolvimento econômico que pode potencializar a cidade de Belo Horizonte?
Durante este processo de debate, nós tivemos com vários setores empresariais e surge deste processo um movimento BH novos tempos, que constituiu um programa básico, com setores empresariais do comércio, de tecnologia da informação , e que nos apresentou um programa básico muito consistente. Nós também estamos vivendo um outro movimento, que é o movimento da juventude participando e discutindo. Por isto que acredito que, lamentavelmente, o grande debate sobre a BH que tem dois projetos e que precisa confrontar e escolher estes projetos não está não está na ordem do dia.
Qual seria a sua proposta para que BH pudesse enfrentar, nas áreas de trânsito e saneamento, os efeitos catastróficos da chuva?
Tem algumas questões que podemos nos prevenir. Como o problema das áreas de risco de uma cidade que foi ocupada de forma desorganizada e mal planejada. Tem outras questões tais como: a destruição de tetos. Este problema é do imponderável. O que falta, e aí sim, o maior problema de BH que foi o apagão, que atingiu e que não havia nenhum tipo de emergência – acho que isto aí é uma pactuação com a Cemig, mas também com a Defesa Civil de BH. A defesa Civil junto com a Cemig têm de estar preparados para estas situações de emergência, como foi o caso recente na cidade. Teve bairros que ficaram mais de 48 horas sem energia, prejudicando pessoas que se submetem a diálise em casa e que não tinham condições de preservar o seu medicamento.
O problema central, que eu acho, é de trânsito. São 20 anos sem planejamento, sem definição de transporte público de massa. Sem dúvida nenhuma, eu tenho convicção que nós ainda vamos levar de quatro a seis anos _ se nós mudarmos a atitude, se nós passarmos a ter uma política de trânsito, que leve em conta o transporte sobre trilhos, que é o metrô, apesar do desvirtuamento da sua linha. Sem essa questão nós vamos estar impactados com qualquer chuvinha, não precisa ser chuva de granizo para enfrentar este problema.
Qual a posição da senhora sobre a mudança da rodoviária?
Se você não tem um planejamento, você não tem condições de tomar nenhuma decisão acertada. Minha proposta é que o PPAG (Plano Plurianual de Ação Governamental) seja constituído numa conferência da cidade, que planeja os quatro anos, mas à luz de um debate sobre a BH do amanhã. Por que isto? Porque você transfere uma rodoviária do centro da cidade, vai para um bairro periférico, que já tem estrangulamento, e vai construir uma rodoviária com o mesmo número de boxes. Você vai construir uma rodoviária que não tem nenhum possibilidade de expansão. Deste ponto de vista, eu considero que a proposta que me convenceu é a proposta que o Crea (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura) apresenta em relação à descentralização.
Qual a posição da senhora em relação ao atendimento médico e hospitalar para os portadores de deficiência mental?
Chegamos a 146 Centros de saúde, 513 equipes de saúde da família, sete urgências com mais sete portas de urgência, mas nós não resolvemos alguns problemas fundamentais que é sobretudo o problema da atenção básica, da atenção primária. Quanto ao que você coloca, acho que é a maior debilidade diante de um problema emergencial, que é o problema da saúde mental. Nós temos os Cersam (centros especiais de saúde mental). Os Cersam são unidades que atendem doentes mentais, em crise ou não. São importantes e imprescindíveis, mas também acho que uma clínica para esta área é fundamental, pois uma pessoa não pode ser atendida só quando tiver um surto. Ela tem de ser atendida no cotidiano. Precisamos reforçar os Cersam e estruturar melhor este atendimento.
O que a senhora faria para atrair investimentos na área de tecnologia e gerar mais empregos na capital?
Uma política de desenvolvimento industrial não pode ser feita de forma isolada. Na relação com o Governo do Estado e com as cidades do entorno, se você não fizer uma discussão de um projeto integrado de região metropolitana, você não vai ver a especialização que cada um pode ter. Qual é a primeira iniciativa que tem de ser feita? Nós temos de criar uma agência para desenvolvimento, de tal forma estruturada que uma secretaria de ciência e tecnologia articulada com o conjunto de empresas que tenham aqui, passe a ter uma política de atração, que pode, inclusive, ser o fornecimento de infra-estrutura.
Para atrair empresas, é preciso um bom nível educacional. BH casos de crianças na 4ª série que sequer foram alfabetizadas. Como a senhora avalia a experiência da escola plural e qual a sua proposta para este setor?
O desafio é justamente a educação básica. Não só para esta possibilidade de nos transformamos num pólo tecnológico, mas sobretudo para resolvermos o problema da qualificação da mão-de-obra dos serviços que hoje já estão aí. A nossa idéia é que a escola plural respondeu a uma necessidade da década de 90. Qual era o problema central ali? O problema central era a evasão escolar. E o projeto pedagógico daquele período buscava responder essa necessidade. O pior lugar para uma criança e um adolescente é fora da escola. Então, o projeto respondeu naquele período, e somente para aquele período. Evidente que houve dificuldades que nós não conseguimos estruturar toda a rede para responder a essa demanda.
Hoje, nós estamos em um outro momento. Acho que temos de ter convicção de constituir um pacto de BH pela educação. Um pacto que não envolve só a rede municipal. Envolve a rede privada, envolve instâncias da sociedade. Porque se você pode ter parcerias para resolver os problemas de falta de espaço, por exemplo, na escola integrada, você tem condições de avançar muito mais. Qual o centro do pacto? Primeiro: assegurar acesso. Segundo: assegurar permanência na escola. Terceiro: garantir qualidade do aprendizado. E quarto: analfabetismo zero.
Qual a razão da frieza do eleitorado belo-horizontino, tradicionalmente mais participativo, nestas eleições?
A primeira razão diria que é o engessamento da lei eleitoral. O Brasil tem as suas particularidades. Você imaginou um comício de Juscelino (Kubitschek) sem um sanfoneiro no palanque? Evidente que a legislação eleitoral poderia coibir os grandes espetáculos, os gastos excedentes, que eram mecanismos que manipulavam muito mais o processo político. Meu filho toca cavaquinho. Ele não pode subir no palanque para tocar. Um excesso de restrição, ao contrário de democratizar, ou de incorporar as pessoas, passou a excluir as pessoas de um processo mais ativo. O comício, as passeatas sempre eram instrumentos de agregação. Ao contrário de desautorizar o poder econômico, ao impedir que o meu militante use uma camiseta, ele está me tirando todos os instrumentos possíveis de uma campanha pobre. E está permitindo que os que têm grande tempo de TV, grandes recursos, possam estruturar em torno de si essas campanhas.
O segundo aspecto é o inusitado da aliança política feita aqui. A maioria dos debates, em qualquer boteco, as pessoas perguntam: me explica a razão desta aliança. Porque nós passamos 15 anos em BH, os dois partidos disputando o poder. Nós passamos no Brasil, desde 1989, uma disputa clara entre o PT e o PSDB. A sociedade foi convencida de que havia dois projetos distintos. Então, esta é a segunda razão. É uma confusão. É um estranhamento. Evidentemente, como terceiro aspecto, há uma polarização tamanha – 12 partidos, 12 minutos de TV _ e as possibilidades do confronto são pequenas do ponto de vista material e estrutural, efetivamente isto distanciou a população.
Como avalia o comportamento da Justiça Eleitoral?
A Justiça Eleitoral é um imponderável. A Justiça Eleitoral do Rio _ a Corte Especial _ julgou em 48 horas um pedido para retirar a imagem do (presidente) Lula de outros partidos que não do PT. A Justiça Eleitoral aqui levou três semanas para apreciar um processo meu que estava em curso. E, nestas três semanas, quando chegou à Corte, a primeira decisão foi um empate de três a três. Três (votos) favoráveis a meu pedido de liminar e três contra. O presidente pede vistas, interrompe e, no próximo julgamento, dois juízes que tinhaM votado favoravelmente a mim não estavam no dia, foram substituídos por dois juízes que votaram contrariamente a mim. É um imponderável. Ontem (na última segunda-feira), quase que houve no meu programa de TV, uma certa censura prévia. Tinha uma inserção, foi retirada do ar e, além de retirar do ar, a Justiça Eleitoral determinou que fosse retirado, como punição do meu programa que ainda nem ia ao ar, 27 segundos.
Como a sra. trataria a questão da influência metropolitana sobre BH sem afetar a universalização do SUS?
O princípio da universalização do SUS tem de ser preservado. É uma visão menor, mesquinha, desumana, imaginar que alguém que vem de (Ribeirão das) Neves, de Sabará, precisando de um atendimento aqui deve ter porta fechada. Em hipótese nenhuma. A universalidade é um princípio que deve atender a todos. Qual é a providência imediata? Nós temos de ter uma ativação imediata da agência metropolitana, que está em discussão. Nós temos de constituir uma estrutura _ um fórum _ permanente de planejamento, evidentemente com o Governo do Estado. Se não houver unidades descentralizadas de atendimento, a população terá de vir para cá.
A senhora vem caindo nas pesquisas. A senhora não acha que a ausência de atores aliados, como o ministro Patrus Ananias e o vice José Alencar, têm contribuído para este quadro, ou seja, para deixar a sua campanha mais lenta?
Cumprimento a engenharia política estruturada pelo meu concorrente oficial. Uma estrutura apoiada no Governo do Estado, no prefeito, numa estrutura empresarial absolutamente coesa, unânime, em todos os sentidos, por exemplo: Por que a Fiemg não fez um debate com todos os candidatos como sempre fez em outro período? A engenharia possibilitou amarras profundas. Amarras políticas e legais. Quando eu dizia que tinha a campanha oficial e a campanha submarina é porque muitos atores e pessoas que me apóiam, por confiarem no meu perfil e na minha trajetória política, mas sobretudo porque eu represento essa construção, essa experiência anterior, nenhuma outra candidatura representa, diziam: «olha, Jô. Eu não gostaria de incomodar o governador». «Olha, Jô, eu sou amiga do Pimentel».
Então, se criou nesta aliança _ porque os dois não estão tendo atitude de outros governadores e prefeitos que participam da campanha. Os dois estão tendo atitude cabos eleitorais. Eles esqueceram que estão em uma campanha e que, independentemente e de apoiar o seu candidato, eles deixaram de lado a função de executivo. Tanto é que o governador fez um anúncio administrativo, de natureza governamental, num ato de campanha de um candidato. Então, este é um outro aspecto. Há um constrangimento que leva a uma intimidação de muitas pessoas e, evidentemente, que se coloca aí – não é só a minha campanha, outras campanhas também vivem este constrangimento.
O terceiro aspecto é que há restrições legais. O ministro Patrus e os petistas que estão me apoiando não têm condições legais. O problema todo é que se por acaso _ eles já se expuseram, já participaram da nossa campanha _ eles forem gravar, por exemplo, eu vou perder de novo, e o TRE com muita presteza está atento a tirar todo o tempo que precisar de mim. Então, estas são as três questões. Tem um quarto aspecto. É um estrangulamento financeiro absoluto. Aliás, se as pessoas soubessem como é a nossa campanha do ponto de vista material, estranhariam de eu estar sustentando o percentual de pesquisas como está sendo feito. Agora, há um problema político no Brasil, que aí é a questão do vice-presidente José Alencar. O vice-presidente estava absolutamente resolvido e interferiu na adesão que o PRB, evidentemente, tomou como solitária resistência aos encantos do poder. Por isto que considero que o PRB se afirma enquanto um partido que conseguiu resistir aos encantos do poder.
Todas as sugestões apresentadas pelos candidatos para resolver o problema do trânsito em BH são de médio e longo prazos. De forma objetiva: no primeiro ano, a senhora vencendo as eleições, o que é possível se fazer?
Em 1º lugar, o estrangulamento é da incapacidade de planejar a cidade nos últimos 20 anos. Em 2º lugar, o estrangulamento aumentou porque, de repente, o prefeito escolheu fazer obras em toda a cidade, de uma vez só, num mesmo momento, na véspera das eleições. Em 3º lugar: quais são as providências imediatas? Achei uma discussão muito positiva com o sindicato dos metroviários. O que eles propõem? Primeiro, aumentar as composições dos trens. Duas composições para cada trem. Segundo, com isso, reduzir o intervalo entre um trem e outro. Terceiro, aumentar os ônibus de integração. Quarto, construir estacionamentos no entorno das estações, potencializando mais o metrô. Outro passo diz respeito à engenharia de trânsito. Nós devemos discutir os corredores exclusivos, mas são poucas as avenidas que têm corredores exclusivos. O número de ônibus bairro a bairro que possa ser estudado e deslocado fora do centro da cidade é outra medida necessária.
O que pode ser feito pela PBH para reduzir a violência na cidade?
Na questão da segurança, nós não podemos ser demagógicos e dizer que tem soluções geniais e criadoras para resolver o problema. É muito mais complexo. Qual é a iniciativa que devemos ter? É ter uma lógica de sistema integrado de segurança pública. Ao estilo da saúde, que potencializou seus recursos nesse processo de integração, nós devemos ter um sistema integrado. A conseqüência disso para a PBH é a criação do gabinete municipal integrado de segurança pública. Nós temos já, na esfera federal, o Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania), que está disponibilizando recursos para qualificação, para estruturação dessas instâncias de segurança pública. Mas nós devemos ter medidas subseqüentes. A Guarda Municipal dobrada. Uma flexão na atividade da Guarda Municipal, que incorporasse uma certa presença nos fatos de pequeno impacto _ por exemplo, briga de marido e mulher, briga de vizinhos, porque muitas vezes a PM é chamada enquanto deveria estar numa ação repressiva contra o crime organizado, eles se deslocam para esta atividade.
É irreversível este processo da rodoviária no Calafate, do ponto de vista contratual?
Falta uma votação final. O conjunto dos candidatos, fora o candidato oficial, está com o compromisso de utilizar o Ministério Público para ver a possibilidade de interromper o contrato, caso se complete a licitação. Evidentemente, como ele não está concluído, deve ser concluído agora em novembro, nós não temos neste momento o seu desenvolvimento jurídico para poder ver a possibilidade da interrupção ou não.
BH nunca teve uma prefeita. A senhora acha que o eleitorado belo-horizontino é machista, mulherófobo? O sra. acha que isso interfere no processo eleitoral?
Belo Horizonte é uma cidade mulher. A primeira criança que nasceu aqui foi uma mulher. Hoje, nós somos _ alguns lamentam, outros comemoram _ 124 mil mulheres a mais. O que você sente na cidade? Aí a cidade como um todo, Minas como um todo, ainda certo preconceito em relação à mulher. Mas eu diria que esta dificuldade está sendo muito superada. A mulher passou a ser o novo da política. Mas eu diria que difícil mesmo é enfrentar o preconceito em relação à comunista. As pessoas ainda não conseguiram desconstruir esta idéia atrasada de comunismo. Esta idéia que foi superada pela história. Estive num encontro com empresários, aí um empresário muito bom, meu eleitor, me perguntou: «Jô, e como vai ser a prefeitura comunista?». E disse: «A prefeitura comunista não vai ser». Por quê? Porque um projeto de sociedade comunista, que é a sociedade do bem comum, de partilhar trabalho, de partilhar recursos, ainda vai demorar muitas décadas. Porque antes de uma idéia de igualdade absoluta, tem ainda a experiência socialista. Uma experiência que vai aos poucos priorizando o social. Então, está muito longe. A prefeitura da prefeita do PCdoB será uma prefeitura que tem como objetivo desenvolver, educar, incluir e ter uma qualidade de vida ambiental.
Quais são as propostas da sra. para a área de cultura? Se eleita, qual o primeiro passo que a sra. daria para o setor?
O primeiro passo dentro da reforma administrativa é recriar a Secretaria de Cultura. Cultura não é um mero exercício de eventos. Cultura é um processo de construção, de incorporação de valores. BH é a síntese cultural de Minas. Aqui, você tem dos grupos de congado, do rip-rop, do grafite, aos clássicos, ao balé clássico. Tem de ser formulada uma política que seja transversal ao conjunto da estrutura. Por que não fazer do período do Carnaval um espaço também de turismo da cultura, independentemente de a gente reforçar as particularidades do Carnaval? E também rever a lei de incentivo à cultura, porque ela precisa ser reconstruída.
Qual a perspectiva que se delineia para o PCdoB para 2010?
As tensões e seqüelas que vão sair desta campanha vão deixar a situação de Minas como um grande desafio. O PCdoB se situa sempre no campo do Governo do presidente Lula. Evidentemente, nós vamos ter de ver o que é melhor, porque há candidatos, hoje, do campo do presidente Lula pela legenda, mas que não incorporam a própria lógica política, o projeto, e nós vamos verificar, com certeza, e acredito que o PCdoB estará junto com o PT. É a tendência maior para que se retome a força que a esquerda está perdendo neste processo eleitoral de 2008.
Pelo menos três candidatos afirmam que têm o apoio do presidente Lula. Se ele morasse em BH, votaria em quem?
Lula hoje é o deus de todos. Lula fez uma declaração em São Paulo sobre a candidatura da Marta (Suplicy) que poderia fazer aqui. «Vou ser presidente de todos os prefeitos eleitos. Mas se a gente tem uma companheira, que há 30 anos participa com a gente, constrói com a gente o projeto, o partido, claro que há uma maior facilidade». Ele poderia dizer isto aqui. Porque dos candidatos postos, quem efetivamente incorpora a geração de Lula, eu não tenho dúvida. Aí é elementar. Agora, ele como presidente, ele não pode se expor porque existe uma base de apoio, de sustentação e é preciso cautela. Sem dúvida alguma, Lula votaria em mim para prefeita de BH.
Por que se deu essa queda nas pesquisas?
Estava brincando um dia destes que iria chamar os universitários do Silvio Santos. Por quê? Porque teve uma pesquisa feita no mesmo dia por dois institutos que deram uma diferença de 100%. É evidente que 12 minutos e 23 inserções diárias, em qualquer momento que você esteja à frente da TV, tem uma inserção do concorrente. Eu tenho três inserções diárias. Pelos menos nós temos uma certeza: ele (Marcio Lacerda) está na frente. Mas ele chegou ao teto e isso indica que nós teremos segundo turno. E eu sinto a cidade e a cidade sente a necessidade de fazer projetos que confrontem, porque a outra candidatura não é um confronto. A candidatura do PMDB não é uma diferença programática.
Gostaria que a sra. detalhasse os projetos para estimular o turismo em BH. E como seria a relação entre a PBH e o BH Convention?
Considero que cabe à PBH na atividade do turismo assegurar política e infra-estrutura. A atividade do turismo é prioritariamente da iniciativa privada. E a PBH, ao atrair esta atividade, agrega emprego e circulação de recursos. Qual é a nossa preocupação central? Nós hoje temos apenas a Belotur. Que virou muito mais uma agência de eventos do que uma formuladora de política. A Belotur tem de se transformar, ou numa agência de turismo _ mas numa agência que formule política _ ou em alguma instância que seja efetivamente articuladora da formulação de política. Evidente que a segunda medida é infra-estrutura.
Como o PCdoB deve se posicionar perante candidatura do governador Aécio Neves a presidente?
O PCdoB não apóia pessoas, apóia projetos. Com toda certeza, o PCdoB apoiará a candidatura a presidente que encarnar este projeto de desenvolvimento social, de distribuição de renda, de inclusão, de caráter nacional. Este projeto que hoje é encarnado pelo Governo Lula e que nós esperamos que o país continue com esta experiência.
Como fica a participação do PCdoB. Hoje, tem participação no Governo Pimentel.
Como será a participação de outros partidos na PBH, se o Lacerda ganhar, se o PCdoB ganhar?
O PCdoB parte da idéia que irá para o segundo turno e irá integrar o governo. Então, só com o resultado das eleições pode-se imaginar qual é a posição. Agora, o PCdoB é oposição a um projeto que está sendo costurado de uma aliança sem rumo. Então, independentemente do resultado, qualquer manifestação desta aliança, o PcdoB está em oposição a ela. A prefeitura do PCdoB será incorporada do conjunto dos partidos que se comprometem com a aplicação de um projeto democrático-popular.
Marcio Lacerda fez doação para o PCdoB, fez para a senhora? Como é a relação do Lacerda com o PCdoB?
Eu tomei conhecimento neste ano, por ocasião do debate. O candidato Sérgio Miranda confirmou. Disse que foi através de um amigo. Eu fui conhecer o candidato Marcio Lacerda, neste ano.
A sra. tem dito que o ponto de partida para alavancar o seu projeto é a conferência da cidade. Como tirar isto efetivamente do papel?
A idéia me veio quando eu senti uma cobrança muito grande de diferentes setores da cidade em participar. Na Associação Comercial, cheguei a receber uma proposta, quem sabe a criação de um conselho político, que não fosse deliberativo, mas com personalidades da cidade que pudessem opinar. Não iam definir prioridades, recursos, mas que pudesse ter um espaço que a cidade falasse. Foi dentro disto que a gente concebeu. Qual é a idéia da conferência da cidade? Ela tem de ser estruturada para não assumir os vícios que determinadas instâncias da nossa experiência muitas vezes repetem. O vício de uma deformação na representação. Claro que uma conferência da cidade tem de uma dimensão e a estrutura democrática que a livre de alguns vícios que o nosso controle social muitas vezes carrega.
A sra. teria alguma ação específica para controle da natalidade, especificamente para gravidez na adolescência, entre a população mais pobre?
O que a gente precisa? A regulação da maternidade. Hoje, ela está sendo feita pelas próprias mulheres. Qual é a vulnerabilidade? É a adolescente. Existe na PBH um esforço de acompanhamento do planejamento. Mas isto é feito de quê? Basicamente, numa assistência às mulheres que engravidam, onde é feito o pré-natal. Não há uma atividade agressiva – no sentido positivo – que incorpore escolas, centros de saúde e associações, igrejas, etc.
BH é uma cidade dos bares e botecos e que passa por mudanças diante da lei seca. Alguma alternativa para quem bebe e quer se divertir em termos de transporte coletivo?
Os bares que existem nesta cidade são a alma daqui. Alimentam uma circulação de recursos muito grande. Evidente que nós temos de ter uma política de prevenção ao alcoolismo. Acho que a PBH não tratou esta questão com a devida responsabilidade – o alcoolismo precoce, sobretudo. Se você pensa numa cidade, toda vez que surge um problema, se você põe o espaço de pensamento para responder, acho que este é um problema que temos de resolver. Evidente, que devemos estudar um processo suplementar, porque BH não pode acabar com sua alma noturna. Isto é fundamental.
Qual o melhor modelo para a escola municipal?
Acho que a escola plural não tem mais vez hoje. Ela respondeu a um tempo da década de 90. Nós precisamos de um novo projeto pedagógico. E o novo projeto pedagógico tem de ser construído. Quando falei do pacto de BH pela educação, o primeiro ponto de partida é reconstruir o projeto pedagógico. E reconstruir o projeto pedagógico absorvendo o que a nova sociedade trouxe. Acesso, permanência e qualidade de ensino. Qual foi o principal modelo que nos últimos tempos a sociedade produziu? Foi a escola de tempo integral. Este é o processo. Que incorpora tudo. Incorpora atividades de reforço, culturais e esportivas. A escola de tempo integral hoje precisa de espaço físico. Ampliar estes espaços físicos leva algum tempo. Nós estamos vivendo uma experiência de escola integrada. Não é escola de tempo integral. Então, estamos numa fase de construção. O que queremos é que nesta fase da transição que os meninos não fiquem, às vezes, na rua, numa associação comunitária, numa paróquia. É preciso estruturar melhor, com um acompanhamento, um monitoramento da escola, que, muitas vezes, não realiza.
Que modelo de BHTrans a senhora projeta para a cidade? O senhora adotaria o rodízio como alternativa para aliviar o trânsito em BH?
Rodízio é uma insanidade. Você só propõe rodízio – o que não é nem nunca foi uma proposta adequada – quando pelo menos você tem alguma alternativa de transporte público e transporte de massa coletivo. Rodízio é um apelo para o duplo carro. A BHTrans tem de ser um órgão da engenharia do trânsito. A BHTrans tem técnicos extremamente competentes. Ela também é a outra Geni daqui, mas não é ela a culpada. Não são os seus técnicos os culpados. A culpada é a política para o trânsito e o transporte, que se faz. Você acumular a formulação de uma política de engenharia com o controle e a fiscalização da legislação é um processo que não dá certo.
Por que os candidatos adversários de Lacerda concentram suas críticas à aliança, que é legítima na democracia, e não ao candidato?
Na democracia, tudo é legítimo, mas existem projetos diferentes. E se não houver partidos com projetos diferentes, pobre desta democracia. A sociedade é um espaço de conflitos. A cidade é um espaço de conflitos. E nesse espaço de conflitos, você faz escolhas. Um partido que governa e que privilegia os setores mais abastados da sociedade, que querem organizar a atividade econômica para privilegiar alguns, este partido tem identidade. Têm outros partidos que querem fazer escolhas para superar as desigualdades. Então, partido tem diferença. Considero que diluir as diferenças favorece aos que têm poder.
Além disso, tenho feito freqüentes observações críticas de que o candidato da aliança não tem condições para continuar uma experiência democrático-popular. Ele não conhece a cidade. É um empresário, respeitado, um homem sério, mas governar não é conduzir empresa.
Fonte: Jornal Hoje em Dia