Votação por bairros: Marta precisa conquistar classe média

O mapa eleitoral na capital paulista revela que a candidata do PT à prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy, precisa ampliar sua votação para setores da ''nova classe média'' se quiser ganhar a eleição no segundo turno. A petista venceu apenas nas zonas

As zonas eleitorais que manifestaram maior apoio a Kassab foram Jardim Paulista (48%), Indianópolis (47%), Santo Amaro (45%), Santana (45%), Mooca (44%), Pinheiros (44%), Saúde (44%) e Vila Mariana (44%). São algumas das regiões com mais forte voto de classe média e que têm se mostrado bastante resistentes ao PT: em todas elas, Marta conseguiu apenas o terceiro lugar. (Clique aqui para ver o infográfico do UOL com os números por região)


 


Em alguns bairros nobres, como o Jardim Paulista, Marta conquistou apenas 11% dos votos. Nestas regiões, a batalha está quase perdida para a candidata do PT, que dificilmente conseguirá reverter os votos de uma elite conservadora, anti-petista, anti-Lula e preconceituosa como é boa parte da classe média tradicional .


 


Mas Marta tem boas chances de reverter a situação a seu favor e vencer a eleição se conseguir consolidar sua aceitação entre os mais pobres e conquistar parcelas significativas da chamada ''nova classe média emergente'': setores da sociedade que migraram das classes D e E para a classe C e desta para a classe B graças à estabilidade da economia e aos avanços sociais promovidos pelo governo Lula.



No início da disputa, a coordenação da campanha de Marta havia cantado esta bola. A própria candidata confirmou a intenção de ''reconquistar'' a classe média numa entrevista à Folha de S. Paulo ''Tenho o firme propósito de reconquistar os eleitores da classe média que me elegeram em 2000 e que perdi em 2004'', disse Marta na ocasião.



Mas durante toda a corrida eleitoral do primeiro turno, quase nada de relevante foi dito pela candidata para efetivamente conquistar esta ''nova classe média''. A campanha petista insistiu em bandeiras de pouco apelo para aqueles que não dependem dos serviços públicos como creches, escolas, postos de saúde e bolsas de auxílio oferecidos pela prefeitura. A classe média paulistana anda de carro, tem convênio médico, seus filhos estudam em escolas particulares e sua renda é superior a 5 salários mínimos. Parte deste eleitorado, potencialmente conservador, mas aberto a boas propostas de gestão e que já elegeu Marta prefeita e não rejeita o PT nem Lula, precisa ser sensibilizado por algo mais do que a promessa de ''internet grátis'' que a candidata petista transformou no fetiche de sua campanha, mas que até mesmo na periferia é tida como uma proposta secundária.



O trânsito, por exemplo, que inferniza a vida dos paulistanos, poderia ser uma bandeira mais sensível para a classe média. Este tema, inclusive, havia sido escolhido como a grande questão a ser explorada na campanha, mas falou-se pouco sobre o assunto durante a disputa do primeiro turno. Outros temas como incentivos fiscais para pequenos e médios empreendimentos, qualificação profissional, cultura, turismo e lazer são assuntos que também interessam às camadas médias e poderiam ser melhor explorados. Marta tem propostas interessantes para todas estas áreas em seu programa de governo.



Só que até agora a petista tem privilegiado em sua campanha questões que são mais sensíveis para o eleitorado da periferia, que é o mais numeroso de São Paulo, mas não aderiu em peso à candidatura petista. Este eleitorado, que já elegeu Maluf, Pitta e agora ajuda a engrossar a votação de Kassab, é um eleitorado que privilegia políticos realizadores. Marta de fato fez uma administração de muitas realizações, mas Kassab, com seus 11 minutos de propaganda eleitoral, conseguiu passar a idéia de que também fez muitas coisas. Mentira. Mas dita mil vezes no horário eleitoral gratuito acabou passando como verdade.



Sendo assim, Marta terá que reposicionar sua estratégia para o segundo turno. Na opinião de algumas lideranças políticas, um caminho seria nacionalizar a campanha mostrando que a dupla Serra/Kassab, DEM/PSDB representam a oposição raivosa ao governo Lula e as forças políticas que afundaram o Brasil no passado recente. Outro caminho seria a comparação entre as gestões de Marta e a de Kassab. Parece, pelas declarações dadas pela própria candidata, que é a estratégia escolhida pela coordenação da campanha. Mas será suficiente?



Observando o desenho formado pelo mapa eleitoral dos bairros, fica evidente que o caminho da vitória passa por uma campanha que consiga ampliar a votação de Marta para as regiões mais centrais da cidade, onde estão concentrados os setores médios da população, além de consolidar o que ela já conquistou nos extremos da periferia.


 


A classe média paulistana já era grande. Com a adesão dos ''emergentes'' pós-governo Lula, ficou maior ainda. Não pode ser subestimada.