Patinhas: ''O PCdoB é um novo partido no Ceará''

''É um novo partido!'', destaca Patinhas, enfatizando aspectos como a interiorização do Partido Comunista do Brasil, a expressiva formação de novas lideranças, a crescente profissionalização das campanhas e a maior compreensão do cenário político em contexto de crescimento dos partidos de apoio ao governo Lula. O dirigente também ressalta o esforço, desde já, para fazer dos futuros mandatos de prefeito e vereador referenciais para as lutas populares e a gestão pública no Ceará.

Confira a entrevista.

Como o PCdoB do Ceará avalia o resultado dessas eleições municipais no Estado?
 
Estamos convocando uma reunião da Comissão Política para, sábado, dia 11, para fazer uma avaliação mais detalhada da campanha no Estado do Ceará. Preliminarmente, já podemos avaliar que, do ponto de vista mais geral, há uma vitória do campo de apoio ao Governo Lula e ao governo Cid Gomes. Comparando os dados de 2008 com os de 2004, há uma grande mudança no quadro eleitoral. Temos o PSB, partido do governador, e o PRB, ligado ao governo, elegendo 38 prefeitos. O PMDB elegeu 33 prefeitos, quando havia feito 18 em 2004. O PT salta de 11 para 15 prefeituras. E nós, do PCdoB, que elegemos em 2004 um prefeito, agora elegemos cinco. Inclusive prefeitos em cidades importantes, das quais destacamos Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza, uma cidade com 120 mil habitantes, e Crateús, que é uma cidade-pólo, em torno da qual há 19 cidades, e com uma população superior a 80 mil habitantes.

 
 É uma vitória dos partidos da base aliada do governo Lula…
 
Sem dúvida, nas 11 maiores cidades, PT consolidou a reeleição da prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins já em primeiro turno e conquistou a prefeitura de Juazeiro do Norte, uma grande vitória contra o PSDB. O PSB reelegeu prefeito em Sobral, com mais de 70% dos votos, demonstrando forte aprovação do projeto implantado pelo hoje governador Cid Gomes no município. O PMDB elegeu prefeitos em Iguatu e Morada Nova. E o PCdoB se situa também ocupando espaço com grande peso político, com Maranguape e Crateús. Vale ressaltar que nestas 11 maiores cidades o PSDB sofreu grandes derrotas. Só obteve duas vitórias, em Itapipoca e Crato. Então  podemos avaliar como uma vitória grande em nosso campo, de PT, PSB, PMDB e PCdoB, e uma derrota do PSDB, que caiu de 70 prefeitos eleitos em 2004 para 54 em 2008, além de viver um processo de deslocamento para os grotões, elegendo prefeitos em cidades com menos de 20 mil e até menos de 10 mil habitantes.

 
 E quanto ao Democratas?
 
Outro partido que sai derrotado é o DEM, cuja figura principal, Moroni Torgan, vai caindo em certo descrédito, diante das sucessivas derrotas para a Prefeitura de Fortaleza e para o Senado. Tendo eleito cinco prefeitos em 2004, o DEM elegeu agora apenas dois.

 
Nesse quadro de crescimento do campo da base aliada do governo Lula, como se insere o PCdoB?
 
O Partido também ocupa o seu espaço nesse contexto. Além dos cinco prefeitos, elegemos agora quatro vice-prefeitos, contra dois em 2004. Havíamos elegido 11 vereadores naquela eleição, em seis cidades. Agora, foram eleitos 56 vereadores, em 36 cidades. Então, se olharmos o mapa do Ceará, ocupamos posições estratégicas em todas as regiões do Estado, tanto com prefeituras, com vices, como também com vereadores. E, além dessa vitória, do ponto de vista de ocupação de espaços, projetamos uma quantidade grande de lideranças. Tivemos 20 candidatos a prefeito, 18 candidatos a vice-prefeito e em torno de 418 candidatos a vereador. E muitos candidatos a prefeito fizeram um resultado excelente. Por exemplo, em São Benedito nosso candidato a prefeito, Dr. Haroldo Maciel, teve mais de 45% dos votos, perdeu a eleição por uma margem muito pequena. Em Santana do Acaraú, o Hélder Arcanjo obteve 47,37% dos votos. Em Miraíma, Dr. José Sales obteve 48,86% dos votos. Quer dizer, temos assim uma plêiade de lideranças, de ex-prefeitos, de candidatos a prefeitos, projetados em todo o estado do Ceará, nas diversas regiões. Tivemos ainda prefeitos que não foram candidatos à reeleição, como o Humberto Meneses, em Araripe, no Cariri, além de prefeitos que já vinham de dois mandatos, como a Ritelza Cabral, em Aquiraz, e Alci Pinheiro, em Piquet Carneiro. Enfim, são dezenas e dezenas de bons nomes, que possibilitam ao PCdoB, com essa vitória alcançada, trabalhar para fortalecer a unidade nesse campo em torno do governador Cid Gomes, do nosso senador Inácio Arruda, e de lideranças do PMDB e do PT, para projetar vôos maiores para 2010.

Esse aumento de mais de 400% no número de vereadores eleitos demonstra, na prática, o resultado do esforço de interiorização que o partido vem fazendo nos últimos anos?
 
Com certeza. Não somente a quantidade de vereadores cresceu, mas também a eleição de vários vereadores em municípios grandes. Em 2004, com exceção de Fortaleza e Caucaia, não elegemos vereadores em cidades maiores. Atualmente, retomamos nossa vaga de vereador em Fortaleza, porque Lula Morais (eleito vereador em 2004) assumiu o mandato de deputado estadual, elegemos dois vereadores em Caucaia e dois em Maranguape, municípios importantes da Região Metropolitana. Elegemos um vereador em Maracanaú, Chico Barbeiro, um operário, dirigente sindical, o mais votado da coligação, em uma grande vitória. Elegemos um vereador em Aquiraz, um em Juazeiro do Norte, um em Crateús, Cascavel, Pacajus, Nova Russas e Acaraú. Quero destacar a importância da eleição desses vereadores, porque nós não tínhamos representação parlamentar nestas grandes cidades, e agora passamos a ter. A esquerda como um todo ainda tem representação pequena nessas Câmaras Municipais. O PT, por exemplo, em Maranguape e Caucaia, só conseguiu eleger  1 vereador e não elegeu nenhum vereador em Maracanaú e Aquiráz.. E mesmo onde o PT obteve a Prefeitura, como Juazeiro do Norte, Cascavel e Acaraú, não conseguiu eleger vereador. Neste quadro o desempenho do PCdoB nas maiores cidades constitui-se numa bela vitória.

 
E quanto à disputa proporcional em Fortaleza?
 
No caso concreto de Fortaleza, temos que destacar primeiro o êxito ao se conseguir retomar nosso assento na Câmara Municipal, onde estávamos sem vereador. Agora, havia uma expectativa de que poderíamos eleger dois vereadores em Fortaleza, e por causa de 5 mil votos não conseguimos eleger o segundo. Mas não deixa de ser uma vitória, porque, ao lançarmos 44 candidatos em Fortaleza, projetamos muitas lideranças para os próximos pleitos. Geralmente, o partido disputava vaga na Câmara Municipal lançando poucos candidatos. Agora, lançamos uma quantidade de candidatos muito grande, tanto em Fortaleza como no interior. Estamos vivendo no Ceará um processo de lançamento de novas lideranças políticas. Isso é muito importante. O partido entrou em uma nova fase e vai projetando novas lideranças, com inserção de massa, em setores novos. Isso leva o partido a um processo de crescimento que vai se consolidando no Estado

 
Foi uma campanha mais profissionalizada?
 
De um modo geral, sim. Tivemos a campanha de 20 candidatos a prefeito – oito com chances reais na disputa. Desses oito, elegemos cinco, contra a força do poder econômico. Essas campanhas, apesar de o PCdoB ter experiência na disputa por prefeitura em Fortaleza, foram realmente mais profissionalizadas, deram ao partido uma experiência que ele ainda não tinha no interior. Isso exigiu da direção um acompanhamento maior dessas campanhas, um deslocamento de quadros. Foi um aprendizado muito rico para a direção estadual e os Comitês Municipais. Agora, procuramos desencadear um processo de avaliação dessa campanha, a ser feita por todos os Comitês Municipais do Partido no Ceará, examinando a campanha em cada local. Que ensinamentos tirar, de pontos  positivos e negativos? Esse aprendizado permanente, com eleições de dois em dois anos, é fundamental para 2010 e para 2012. Com as lideranças que projetamos agora, pretendemos dar um salto maior ainda, conquistar um número maior de prefeituras em 2012. É importante que haja esse acúmulo de experiências, de forma coletiva, na direção do partido, pra que a gente possa compreender o processo das eleições envolvendo várias etapas.

 
Quais são elas?
 
O primeiro momento é o de filiar lideranças populares e progressistas, atrair novos nomes para as fileiras do partido, em cima de critérios partidários, buscando bons quadros em diversos segmentos sociais e áreas de atividade. Todos os prefeitos e a maioria dos vereadores que foram eleitos agora filiaram-se em 2007 ao partido. E temos assim revelações altamente positivas. A segunda etapa é a etapa das alianças. Precisamos construir cada vez mais alianças. Sozinho, é difícil para o PCdoB obter grandes vitórias nas eleições majoritárias. E a terceira fase,l que é a campanha propriamente dita, exige uma correta orientação política e muito profissionalismo. Qualquer erro político pode comprometer o desempenho das candidaturas. Para isso, o acompanhamento por parte da direção é fundamental. Como um todo, é um processo muito rico, que a gente busca desenvolver com esse debate na Comissão Política e nos Comitês Municipais.

 
Como o PCdoB sai dessas eleições no Ceará?
 
É um novo partido! Temos cinco prefeitos. A expectativa do povo em relação a nós agora é muito grande. 63% do eleitorado de Crateús votou no nosso candidato, apesar do poder econômico da outra candidatura ter se manifestado de modo muito forte nos últimos dias de campanha. Vamos debater principalmente como enfrentar esse desafio. Como fazer nessas cinco Prefeituras administrações-modelo, exemplares? A experiência mostra que, salvo erros políticos, bons administradores são reeleitos com tranqüilidade. Esse é um desafio grande que nós temos. Como já trabalhar a transição de governos, a partir de hoje? Como formar equipe de governos, secretariados? Para isso, já constituímos um Fórum de Prefeitos e vices do PCdoB no Ceará, com reunião marcada para 25 de outubro, com os prefeitos atuais e os prefeitos eleitos, para que a gente já possa debater esses desafios das próximas gestões, formação de equipes, integração dos prefeitos com os parlamentares, entre outros temas. Tudo para obter bom resultado nessas administrações. Já em novembro teremos o Fórum de Vereadores, que vai debater como fazer um trabalho integrado com nossos parlamentares, como criar uma rede de informações, troca de experiências, projetos, requerimentos, pronunciamentos, entre os vereadores. Essas duas reuniões são de grande importância para nos prepararmos para iniciar em janeiro essas novas administrações e esses novos mandatos da melhor forma. Encaramos esse desafio desde já.

 
E em Fortaleza, onde o partido já concorreu à Prefeitura? Já é possível divisar algum relance do cenário eleitoral para 2012?
 
Primeiramente, o fundamental é nosso desejo de participar da segunda gestão da prefeita Luizianne Lins, contribuindo, como fizemos na primeira, para o sucesso de sua administração. Foi uma gestão aprovada pelo povo, reeleita no primeiro turno. Procuraremos contribuir, assim como nos 40 municípios em que ajudamos a eleger prefeitos e buscaremos participar das administrações, com quadros competentes. Então, nosso compromisso com a prefeita Luizianne Lins vai continuar existindo na próxima gestão, esse relacionamento franco, sincero, entre nós. E no momento exato, quando as coisas forem se desenhando, o PCdoB vai buscar colocar suas pretensões. Evidentemente nós, não só em relação à Fortaleza, mas a outras cidades grandes, buscaremos alianças que possibilitem ao nosso partido ocupar uma posição de maior destaque. Sempre respeitando os aliados, mas é um desejo natural do partido crescer, para poder ajudar ao máximo a população cearense.

 
De Fortaleza,
Dalwton Moura