Correio Brasiliense avalia eleições no Ceará e destaca desempenho de PCdoB e PMDB
No Ceará, as duas legendas dobram o número de prefeituras, avançando sobre tucanos. Petistas ganharam espaço em Juazeiro do Norte
Publicado 09/10/2008 12:09 | Editado 04/03/2020 16:36
No balanço final das eleições no Ceará, apesar de o PT ter garantido a reeleição da prefeita da capital, Luizianne Lins, os partidos que mais ganharam no estado foram o PMDB e o PCdoB. As duas siglas não apenas dobraram o número de prefeituras como conquistaram cidades importantes, muitas dominadas pelos tucanos. Apesar disso, o PSDB manteve o controle de pelo menos 55 municípios, menos da metade do que já teve há alguns anos. Mas os resultados dos comunistas mostram que o eleitorado nordestino está perdendo o medo dos antigos partidos de esquerda.
O PPS perdeu todas as 38 prefeituras conquistadas em 2004 e não elegeu o mandatário de qualquer outra. Na capital, os votos obtidos não chegam a um dígito do resultado final, que manteve Luizianne no poder. Isso aconteceu por causa da falta de apoio do grupo do governador Cid Gomes (PSB), do qual o PPS se desligou. Quem se fortaleceu para garantir uma boa posição no quadro eleitoral de 2010 foi o PMDB, que fez 33 prefeituras, 15 a mais que há quatro anos.
O PT teve um rendimento baixo, mas garantiu mais duas prefeituras, totalizando hoje 15 municípios sob seu domínio. Apesar do crescimento pequeno, os petistas levaram cidades importantes, como Juazeiro do Norte, segundo maior eleitorado do Ceará, um antigo reduto dos tucanos, liderados pelo senador Tasso Jereissati, considerado o grande derrotado nas eleições deste ano.
Acostumados com partidos e candidatos tradicionais, o eleitor cearense está se modificando a cada ano, segundo os analistas. O PCdoB, por exemplo, havia feito um prefeito em 2004, crescendo para cinco este ano, onde conseguiu emplacar duas cidades importantes, como Potengi e Crateús. Já o PSDB manteve um índice que vinha tendo nos últimos pleitos, assegurando o primeiro lugar no Ceará, onde chegou a ter pelo menos 100 prefeituras. Porém, a sigla está se desgastando a cada dia. “O partido não vem acertando”, avalia o cientista político Francisco Moreira Ribeiro, da Universidade de Fortaleza.
Desgaste
Com isso, quem vem perdendo espaço é Tasso, cuja reeleição pode não acontecer em 2010. “O futuro do senador está no interior”, observa Moreira, explicando que, apesar de não ter garantido grandes prefeituras, o domínio político continua em vários outras, com exceção de Fortaleza, onde os tucanos nunca tiveram boa votação. O desgaste de Tasso pode fortalecer o deputado Eunício de Oliveira (PMDB-CE), que tem o apoio de Cid Gomes para uma das vagas ao Senado, principalmente depois das eleições deste ano, da qual o seu partido saiu bem.
O DEM perdeu seu principal trunfo político no Ceará, que era o ex-deputado Moroni Torgan, derrotado na eleição para a prefeitura de Fortaleza. Na disputa com Luizianne Lins, ficou na segunda colocação, com a metade dos votos válidos conquistados pela prefeita. Em todo o estado, o Democratas elegeu apenas quatro candidatos. Já o PDT não fez nenhum prefeito e corre o risco de perder sua cadeira no Senado, hoje nas mãos de Patrícia Saboya, também derrotada na capital cearense. “É quase impossível ela se reeleger”, avalia Moreira. “Na verdade, ela nunca foi uma grande liderança”, acrescenta o cientista político.
Cid sai vitorioso
Desconhecido nacionalmente até a eleição de 2006, o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), pode ser considerado o maior vencedor da corrida no estado. Ajudou Luizianne Lins (PT) a se reeleger prefeita de Fortaleza, reduto onde os grupos políticos tradicionais nunca se saíram bem, como o de Tasso Jereissati (PSDB). Além disso, conseguiu transpor o período eleitoral sem criar desavenças com seu irmão, o deputado Ciro Gomes (PSB), que apoiou a senadora Patrícia Saboya (PDT), adversária de Luizianne.
Da Prefeitura de Sobral, Cid Gomes foi diretamente para o Palácio de Iracema e pode ser reeleito, com o apoio de Luizianne e dos 12 partidos de sua coligação. “Ele é nosso candidato ao governo em 2010”, confirma a prefeita de Fortaleza. Graças a Cid, o partido dela ficou atrás apenas do PMDB e do PSDB no número de prefeituras conquistadas. “Meu espaço estou trabalhando para ceder ao Cid. Ele é o novo líder do Ceará”, diz Ciro.
No Ceará não se fala como ficará o senador Tasso Jereissati, também aliado de Cid Gomes. No quadro atual que se desenha para 2010, a vaga do Senado é do deputado Eunício de Oliveira (PMDB-CE), aliado da prefeita de Fortaleza. A outra vaga ficaria entre o político tucano e um petista e Patrícia Saboya estaria fora do páreo. Para que isso se mantenha, Cid terá um desafio: convencer o PT a aceitar Tasso em um mesmo grupo, uma alternativa impossível hoje.