Messias Pontes – Deixem a menina Eloá descansar em paz

A televisão comercial brasileira, do ponto de vista técnico e estético, é uma das melhores do mundo. Porém o seu conteúdo, notadamente os seus telejornais, é o que pode haver de pior em todo o Planeta. Como abutre, se alimenta dos restos mortais de todo t

O trágico desfecho do seqüestro de duas adolescentes na semana passada, na cidade de Santo André, São Paulo, por incrível que pareça, foi considerado como tendo um “final feliz”, já que sete pessoas foram beneficiadas com os órgãos da menina Eloá, covardemente assassinada pelo ex-namorado Lindemberg Alves, um psicopata que tem sido tratado como uma importante personalidade, com direito a entrevista mostrada para todo o País com todo alarde.



Até que essa mídia conservadora, venal e golpista fabrique outro “escândalo” ou outra “crise” na tentativa de detonar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o assunto em toda a programação, notadamente nos seus telejornais, será o assassinato da menina Eloá Pimentel, e a tentativa de assassinato da também adolescente Nayara Rodrigues.



As famílias das duas adolescentes sofreram enormemente durante toda a semana passada, quando o criminoso as manteve presas durante 100 horas, antes de cometer o insano ato; foram mais 100 horas desde o desfecho fatal até o sepultamento de Eloá na manhã desta terça-feira 21. É sofrimento demais para as famílias e também para quem acompanhou em tempo real o triste episódio.



 Será que essas 200 horas de tortura não satisfizeram aos Ali Kamel da vida? Será que se terá de apelar para entidades de defesa dos direitos humanos para que a tortura da mídia sobre as três famílias tenha um fim? Isso é tortura, crime hediondo, portanto inafiançável e imprescritível, de acordo com o Direito Internacional e o Nacional também.



Mas o que se pode esperar dessa mídia conservadora, venal e golpista até que nova crise contra o governo Lula seja fabricada? O mesmo que aconteceu com a menina Izabele Nordone, ou seja, um mês reprisando as mesmas imagens em todos os horários noticiosos até que inventaram a “crise” do grampo nos telefones do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, e do senador Demóstenes Torres, do DEMO de Goiás.



Essa crise fabricada pela panfletária revista Veja, respaldada pelo resto do que há de pior na imprensa brasileira, levou ao afastamento do delegado Protógenes Queiroz do comando da Operação Satiagraha, da Polícia Federal, e do também delegado federal Paulo Lacerda, da direção da Agência Brasileira de Inteligência e de toda a cúpula da Abin. Tudo para proteger o megaguabiru Daniel Dantas – chefe da maior quadrilha brasileira na atualidade – e principalmente para atingir o presidente Lula e seu governo.



Fosse São Paulo governado por um partido ou coligação de esquerda, o governador teria sido responsabilizado pela incompetência da PM e o conseqüente trágico fim do seqüestro. E o que diria sobre o episódio da última quinta-feira 16, envolvendo as Polícias Civil e Militar, quando mais de 20 pessoas saíram feridas e vários carros danificados? Certamente não teria saído tão cedo dos noticiosos, mesmo com o seqüestro das duas adolescentes de Santo André.



A busca da audiência a qualquer preço tem deixado seqüelas irreversíveis, posto que a vida e a liberdade das pessoas têm sido banalizadas a tal ponto de se matar para conquistar 15 minutos de fama.  Até que ponto a espetacularização da informação no caso do seqüestro de Santo André não foi responsável pelo trágico fim?  Quem pode afirmar o contrário, já que o seqüestrador estava para se entregar e libertar as duas meninas, mas mudou de idéia quando se viu como “herói” na televisão?  Essas questões precisam ser aprofundadas com urgência pelos profissionais de imprensa e principalmente pela sociedade.



Para as famiglias Marinho, Frias, Mesquita e Civita, o que vem sendo feito é “liberdade de imprensa”. Na realidade isso é o antijornalismo mais nocivo que o Brasil já conheceu.


 


Messias Pontes é jornalista e colaborador do Vermelho/Ce