Artigo: Minas e o distante 2010

Treinados como são, os governadores Aécio Neves e José Serra
escorregaram de todo o jeito, ontem, para evitar declarações sobre a
sucessão presidencial de 2010. Conseguiram. O que também não é tão
difícil assim, sobretudo quando acabavam de participar

É até possível que tenham comentado alguma coisa sobre eleição, mas a que passou. A de 2010, provavelmente não. Seria quase como falar de corda em casa de enforcado. Afinal, Aécio e Serra, embora neguem de público, travam uma surda queda-de-braço para ver quem será o candidato do PSDB à sucessão de Lula. Até agora, o governador de São Paulo está em vantagem. Afinal, o PSDB é um partido paulista, Serra ganhou a Prefeitura de São Paulo apoiando seu antigo vice, Gilberto Kassab, enquanto Aécio não conta com a simpatia da cúpula tucana e criou, em Belo Horizonte, uma confusão ao apoiar, junto com o prefeito Fernando Pimentel, um candidato neutro, Marcio Lacerda, que é do PSB.


O resultado final não foi bom nem para Aécio nem para Pimentel. Marcio não ganhou no primeiro turno, como imaginaram os dois, e terminou a eleição bem à frente de seu oponente, Leonardo Quintão, porém com bem menos votos do que a soma dos que se abstiveram, dos que anularam o voto, votaram em branco ou votaram em Leonardo – 1.004.895 votos contra os 767.332 de Lacerda. Com isso, numa campanha radicalizada, a política mineira saiu da eleição dividida, o que não é bom para Aécio, e o PT rachado, o que também não deveria ser da conveniência de Pimentel, embora ele considere que sempre é capaz de dar um jeito nessas coisas – mas, até hoje, não conversou com os ministros Patrus Ananias e Luiz Dulci para uma avaliação do que houve em Belo Horizonte.


No caso de Aécio, soma-se ainda o veto do ex-governador Orestes Quércia à sua entrada no PMDB e mesmo à sua candidatura à Presidência da República. Quércia diz que o PMDB paulista vai apoiar Serra. E, em Minas, o ex-governador Newton Cardoso também disse, a pessoas que com ele conversaram nos últimos dias, que concorda com Orestes Quércia. O problema maior do governador Aécio, contudo, é a divisão da política mineira – o PMDB machucado pela dureza da campanha, o PSDB no seu canto, sem um candidato que possa suceder Aécio, o PCdoB também contra o governador, o PT dividido em pelo menos três alas – uma de Pimentel, outra que é orientada por Patrus, a antiga Articulação, e uma outra liderada por Rogério Correia, acrescida dos chamados quadros históricos do partido, militantes que acenderam às primeiras estrelas do PT, muitos deles antigos sindicalistas.

 
Minas, já dizia Tancredo, não tem aspirar a Presidência da República dividida. Aliás, foi para pavimentar a sua candidatura à Presidência, via Colégio Eleitoral, que Tancredo criou a unidade mineira, incorporando nela o então vice-presidente da República, Aureliano Chaves, que era do PDS. Foi essa percepção de Tancredo que o fez vitorioso no embate contra o paulista Paulo Maluf. De forma que, dividida como está, dificilmente Minas poderá ir além do Rio Paracatu, a não ser para preencher as três vagas que lhe pertencem no Senado – o que torna a outrora criativa e opulenta Minas Gerais igual às demais unidades da Federação. Mas, a despeito disso, é forte o movimento para que Aécio mude de partido. Mais forte, no entanto, é sua convicção de que o caminho que lhe resta é o PSDB, mesmo que dominado pelos paulistas.

Publicado no jornal Hoje em Dia, em 31/10/2008