Artigo: Seria Pimentel o Alckmin petista?

A condução do processo eletivo para a sucessão da Prefeitura de Belo
Horizonte provocou-me uma espécie de efeito Déjà vu. Fernando Pimentel
reeditou em 2008 algo muito parecido com o que fez Geraldo Alckmin em
2006. Naquela ocasião, o tucano, bem avali

Na eleição presidencial daquele ano, o peessedebista mais cotado para confrontar Lula nas urnas era José Serra, que tinha a simpatia de grande parte do comando de seu partido, mas fora derrotado no pleito de 2002. Contudo, Alckmin decidiu seguir suas convicções, enfrentando a todos e defendendo a legitimidade de sua candidatura. O resultado todos sabemos: Lula foi reeleito com ampla margem sobre o tucano, que, sem cargo eletivo desde então, ficou quase dois anos na sombra, até as últimas eleições municipais em São Paulo. E as cicatrizes de 2006 permanecem abertas. Isolado por parte da alta cúpula tucana, Alckmin teve que engolir seus colegas de legenda apoiando de forma aguerrida um adversário na disputa pela capital paulistana. O governador, José Serra, o vice, Alberto Goldman, e outros figurões do PSDB abraçaram “a causa Kassab”.

Não gosto de fazer brincar de futurologia, mas é difícil vislumbrar para Geraldo Alckmin, nos próximos anos, alguma saída que não seja concorrer a cargos eletivos de menor expressão, como deputado federal. Pelos lados de cá, é possível notar muita semelhança na forma como prefeito petista Fernando Pimentel conduziu o processo que culminou com a eleição de Marcio Lacerda. A contragosto de muitos companheiros, Pimentel foi peça fundamental na articulação de uma candidatura contestada. Por toda história à frente da PBH, o Partido dos Trabalhadores poderia perfeitamente indicar um candidato próprio, com reais chances de ser eleito. Mas algumas lideranças da legenda optaram por costurar a tão falada aliança em torno de um candidato de outro partido, no caso o PSB. Pior do que isso foi a condução de todo o processo, que teve como marca central a união entre os opostos PT e PSDB.

Historicamente, petistas e tucanos nunca se bicaram. O governo Lula tem no partido de FHC um dos maiores entraves aos seus projetos. Isso, no entanto, não impediu a aproximação de Pimentel com os oposicionistas ao Palácio do Planalto. O diretório nacional petista reprovou tal atitude, que foi referendada pelo PT de BH e de Minas. O presidente nacional da legenda, deputado federal Ricardo Berzoini (SP), disse que Fernando Pimentel será penalizado. A conferir.

A forma como o prefeito se uniu ao governador tucano Aécio Neves o isolou de uma ala do Partido dos Trabalhadores denominada “PT Coerente”. Também deixou o clima com outros membros da legenda um tanto quanto ruim, como os ministros Patrus Ananias e Luiz Dulci. Pimentel pretende ser governador do Estado, e agiu visando a esse objetivo. Contudo, penso que ele teve uma derrota política, apesar da vitória de seu candidato. Seu espaço no PT vai ficar reduzido, especialmente porque ele não ocupará cargo eletivo pelos próximos dois anos. Uma possibilidade para que deixe a sombra é assumir algum posto de destaque no governo Lula. Mas essa situação não será tão fácil, já que outros petistas, derrotados nas eleições municipais, também pedirão um lugar ao sol.

Por Orozimbo Souza Júnior, jornalista e especialista em comunicação política