Sucessão na Câmara vive impasse entre PT e PMDB
A falta de consenso entre PT e PMDB em torno de uma candidatura única à presidência do Senado abre espaço para o crescimento de um nome alternativo na Câmara, onde petistas e peemebebistas concordam em apoiar o deputado federal Michel Temer (PMDB-SP) p
Publicado 01/11/2008 17:20
Há dois anos, o PMDB, que tem maioria nas duas Casas, cedeu a presidência da Câmara ao PT com a condição de que, em 2009, os petistas apoiassem um nome do PMDB para o cargo.
No Senado, o eleito foi do PMDB. Agora, o PT cobra apoio para eleger o senador Tião Viana (PT-AC), embora o PMDB queira lançar um nome próprio para a disputa. O acordo de apoio, segundo o partido, não valeria para as duas Casas.
Enquanto PT e PMDB divergem no Senado a respeito do candidato, parte da base aliada que dá sustentação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Câmara, insatisfeita com a candidatura Temer, pode alavancar o nome do deputado Ciro Nogueira (PP-PI), que se diz candidato.
A eleição para a presidência das Casas acontece somente em 1º de fevereiro de 2008, mas, passadas as eleições municipais – onde os parlamentares estiveram engajados em campanhas próprias e de correligionários -, o foco passa a ser a sucessão dos presidentes.
Câmara
O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), disse que a eleição em cada Casa tem de ser “desvinculada”. “O compromisso que o PT tem conosco é devolver a presidência, e isso é uma coisa da Câmara. Nada a ver no Senado.”
Ele afirmou não crer que a falta de um acordo entre os dois partidos no Senado possa prejudicar Temer na Câmara, mas disse ser favorável ao “equilíbrio” para que um partido só não comande as duas Casas. “Acho importante a diplomacia, embora o PMDB seja o maior partido. (…) Um equilíbrio seria interessante, seria importante.”
Na Câmara, PT e PMDB concordam. “Fizemos um acordo e vamos manter o acordo. Queremos estabilizar a candidatura de Temer. Isso ajuda a reforçar a aliança PT e PMDB, que ajuda a sustentação do governo do presidente Lula”, afirmou o líder petista na Câmara, deputado Maurício Rands (PT-PE).
Ele também destacou a importância do “equilíbrio” entre as Casas. Rands disse que o partido não vai retirar apoio a Temer caso não haja acordo no Senado. “Não podemos condicionar a eleição numa Casa à eleição na outra.”
Vice-líder do partido no Senado, Neuto De Conto (PMDB-SC) diz que o acordo entre PT e PMDB só existe na Câmara. “Nunca vi nem discutir e nem falar nesse acordo e em nenhum momento foi dito que se tinha acordo ou o tema foi a discussão na bancada.”
Neuto de Conto deixou claro, porém, que o partido não abrirá mão de ter o comando das duas casas. “A gente se sente no direito de manter a vaga [no Senado].” Segundo ele, o partido ainda não tem nome para a disputa porque a sucessão ainda não é prioridade, em razão das medidas para evitar os desdobramentos da crise financeira.
A senadora Ideli Salvatti (SC), líder do PT no Senado, critica justamente a ausência de um nome peemedebista. “O problema do PMDB nessa insistência [em ter candidatura própria] é com qual nome sair. É a história do 'com que roupa eu vou'. Eu quero ir ao baile, mas com que roupa?”, brincou.
Para a petista, as negociações ainda estão no começo e “tudo o que está decidido ou não está decidido” vale somente para o momento. “Tem um longo caminho para a sucessão nas duas Casas, que normalmente é muito disputada. Está se tratando da presidência, mas junto vem a composição das mesas, as comissões. (…) Tudo isso está no tabuleiro”, analisou.
Segundo Ideli, o partido vai batalhar por um “consenso” no Senado em torno do nome de Tião Viana para não ter “complicações” na Câmara. “Tem uma candidatura do Ciro Nogueira andando nos bastidores e não podemos colocar lenha na fogueira para favorecê-lo.”
Alternativo
O deputado Ciro Nogueira classificou sua candidatura à presidência da Câmara como “irreversível”, mas afirmou que só lançará oficialmente seu nome na disputa em dezembro, para “não atrapalhar o andamento da casa”.
Ao ser questionado sobre a possibilidade de desistir de lançar seu nome na disputa, Nogueira afirmou: “Acho que é quase impossível desistir. Acho que é irreversível”.
Ciro Nogueira disse também que não aceitará contrapartida do PT ou PMDB para desistir da disputa. “Essa questão de ministérios por exemplo, isso seria muito ruim para Casa. Para mim não teria cabimento, não teria a menor possibilidade de eu aceitar.”
Executivo
Em meio às indefinições, o Executivo tem evitado comentar a disputa no Legislativo. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, no entanto, destacou que “é importante que se honre acordos”.
“Não nos cabe (Executivo) interferir nas eleições dentro da Câmara e do Senado, uma vez que é um poder independente. (…) Posso dar uma opinião não como ministra, mas como cidadã. Acredito que é muito importante que se honre acordos e, para o governo, é muito importante que a aliança PT e PMDB se mantenha”, declarou a ministra.