Vale corta produção e dá férias coletivas

Em reação à crise global e à retração da demanda, especialmente na China, a Vale, segunda maior empresa do Brasil, anunciou ontem um corte de produção de 30 milhões de toneladas de minério de ferro, 10% do total extraído. A mineradora também reduziu a fab

Considerando o preço de referência do minério, a Vale perderá mensalmente US$ 350 milhões em receita. Se o corte perdurar por um ano, serão US$ 4,2 bilhões. Se ficar restrito a um trimestre, deixará de ganhar US$ 1,1 bilhão. A medida deve afetar o saldo comercial brasileiro, muito dependente do minério da Vale.



Após abrirem em queda com o anúncio, as ações da Vale fecharam o dia em alta -a ON subiu 2,15%, e a PNA, 0,79%. Diante de uma “crise extremamente profunda”, o presidente da companhia, Roger Agnelli, classificou a redução das atividades como um “ajuste momentâneo” para adequar a produção à demanda fraca.



No caso do minério de ferro, segundo ele, o corte se dará em minas no final de sua vida útil, cujos custos são maiores e a rentabilidade é reduzida. “A Vale tinha de estar pronta para o inverno. Em Minas Gerais, reduzimos a produção em minas menores, mais antigas e de custo mais elevado, com minério com grande número de contaminantes”, disse o executivo, após entrega do Prêmio Brasileiro Imortal, que vinculou o nome de seis brasileiros ilustres a espécies botânicas descobertas pela Vale.



Segundo a mineradora, inicialmente, não haverá demissões. Serão dadas férias coletivas de 15 a 20 dias. A Vale definiu o forte ajuste com base na avaliação de que a crise será extensa e já afeta a produção siderúrgica em escala mundial -muitas usinas cortaram 20% de sua capacidade.



Segundo Agnelli, a companhia tinha gordura para cortar, pois o minério de qualidade inferior só era vendido porque a demanda estava superaquecida antes de setembro, quando a crise estourou com mais força.



Ele ressaltou que a paralisação de unidades é temporária e que há espaço para voltar a crescer após o período mais crítico da crise. Disse ainda que os investimentos de US$ 14,2 bilhões previstos para 2009 estão assegurados independentemente do cenário negativo.



“Isso é momentâneo. É ajuste normal de dia-a-dia e gestão de companhia, de atividade, de estoque e de capital de giro. Não adianta querer produzir um monte de coisas e deixar no estoque. Faz as paradas que têm que fazer, faz a limpeza, dá as férias, com muita naturalidade”, disse Agnelli.



Durante esse período, afirmou, a Vale vai “arrumar a casa” e fazer manutenção nas plantas, que operavam acima de sua capacidade para atender ao forte consumo de minério de ferro e de outros metais.


 


Valesul



Além de quatro minas de ferro em Minas Gerais, a Vale vai reduzir a produção em 60% da Valesul, unidade de alumínio no Rio de Janeiro. O executivo não descarta até mesmo interromper totalmente a produção da planta, prejudicada pelo forte recuo do preço do alumínio e também pelos custos elevados da energia.



Também serão paralisadas duas unidades de peletização (fábricas que agregam o minério de ferro em pequenas pelotas) -com corte de 20% da capacidade da companhia- e uma mina de manganês em Corumbá, em Mato Grosso do Sul.



A Vale decidiu ainda parar todas as suas atividades em duas plantas produtoras de ferro-ligas (que usam o mineral) na França e na Noruega.



A empresa também diminuiu a produção de uma refinaria de níquel na China -que operará só com 35% de sua capacidade- e reduziu em 20% a extração do mineral na Indonésia.



Com a queda do consumo, a mineradora vai cortar também a produção de caulim (usado no revestimento de papel) no Pará em 30%.