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PC da Suécia analisa “crash econômico e ideológico”

Peter Cohen, orador do Partido Comunista da Suécia (SKP) no Encontro dos PCs em São Paulo, concentrou sua intervenção neste sábado (22) no exame da crise capitalista em curso, comparando-a com as que ocorreram no passado, como a dos anos 1930. Veja o trecho final, que fala do “crash econômico e ideológico”.

“Os sintomas da crise na economia real eram evidentes desde o início dos anos 70. Estagnação, ociosidade, declínio dos postos de trabalho reais na classe operária e amplos segmentos da classe média, crescente desigualdade na renda e na riqueza pelo mundo, contínuo aumento do desemprego, pobreza mundial em rápido crescimento, expansão exponencial do crédito e da especulação. Na Europa Ocidental, o desmantelamento do setor público desde os anos 90 também reduziu o poder aquisitivo.

O insaciável apetite por acumular capital requer que a classe trabalhadora ganhe menos dinheiro mas compre mais bens e serviços, enquanto os donos do sistema amealham mais e mais capital. A única maneira de tapar o fosso entre o poder aquisitivo declinante e a necessidade de incrementar a produção foi conduzir as pessoas a um endividamento cada vez maior. Por muitos anos, a taxa de endividamento da classe operária e da classe média no Ocidente ultrapassou 100% da renda pessoal.

Ao longo e quatro décadas, persistentes tremores indicaram o terremoto que estava por vir. Eles incluíram uma profunda recessão no início dos anos 80, repetidas crises nos mercados de futuros e nas bolsas, repetidas crises pela América Latina, crise bancária na Europa Ocidental no início da década de 90, a crise no Japão que começou com os anos 90 e continua até hoje, repetidas crises cambiais, o crash no México em 1994, quando Clinton promoveu o socorro de US$ 53 bilhões para salvar os investidores americanos, a derrocada dos chamados tigres asiáticos em 1997, a explosão da bolha “ponto com” no fim da década passada e outras quebras subsequentes, numerosas demais para mencionar.

Durante esses anos, enquanto a economia real seguisse inexoravelmente ladeira abaixo, o mar das dívidas subia e os tremores se tornavam intensivos, os sumos sacerdotes do capital entoavam o mantra de um mítico auto-ajuste e equilíbrio do mercado, onde uma mão invisível asseguraria a prosperidade de todos.
Agora testemunhamos um crash de dimensões planetárias, em que a economia real entra em colapso e as bolhas especulativas arrebentam. Enquanto a demanda cai verticalmente e as taxas de desemprego se aceleram quase dia a dia, os fundos os fundos que gerenciavam enormes quantidades de capital acumulado vêm abaixo. A onda de falências de bancos continua. O gigantesco mercado de derivativos implodirá nos próximos seis meses. Nenhum país dentro do sistema capitalista está imune. Não pode haver o chamado descolamento.

Também testemunhamos um crash ideológico, que foi uma completa surpresa para os sumo-sacerdotes do capital. O mantra do mercado está morto. Digam o que disserem os sumo-sacerdotes, a evidência empírica está revelando o que os marxistas sempre souberam – que os desastrosos problemas do capitalismo não podem ser resolvidos dentro dos limites do sistema capitalista.

Existe por certo uma solução relativamente simples para a crise na economia real. Os capitalistas poderiam devolver à classe trabalhadora a mais-valia de que se apropriaram através da exploração. No entanto, os registros históricos indicam, eles não parecem dispostos a fazê-lo voluntariamente.

Vê-se que na América Latina a brutal realidade do capitalismo já conduziu grandes massas a começar a desenvolver a única solução válida, que é o socialismo e o fim da exploração. Resta ver se um forte movimento socialista liderado pelos partidos comunistas emergirá em outras regiões, especialmente na Europa e nos EUA. Caso contrário, esperamos um continuado desenvolvimento de uma nova e mais alta forma de fascismo, que tem emergido simultaneamente com as crises do capitalismo ao longo dos últimos 40 anos.”