Capistrano: A UERN e a Universidade de Havana

Em dezembro desde ano completa vinte anos da minha ida a Cuba. Fui a convite do Ministério do Ensino Superior, articulação feita a partir de uma conversa que tive em Brasília com o Adido para Assuntos de Ciência e Tecnologia da Embaixada Cubana no Brasil,

Durante o almoço, eu e Pupo, mantivemos uma agradável conversa sobre as coisas do mundo e a minha admiração pela Revolução Cubana. Conversa regada a vodca acompanhada por salmão e caviar, foi um saboroso almoço. O resultado dessa conversa, um convite endereçado a mim, formulado pelo governo cubano, para visitar a Ilha. Convite aceito.



Realizei um sonho sonhado desde minha juventude, conhecer Cuba. Foi uma viagem maravilhosa, sentimental e prazerosa. Voltei mais comunista do que quando cheguei à ilha caribenha, foi à confirmação do que eu imaginava. A ilha dos barbudos não é um paraíso na terra, mas tem um sistema de governo voltado para os interesses de seu povo, apesar de ser um pequeno país com poucos recursos naturais e um bloqueio econômico, imoral e desumano, feito pela maior potência capitalista do mundo, o povo cubano conquistou as necessidades básicas, o direito de oportunidades iguais para todos.



Quando dos preparativos da viagem, nos contatos com a embaixada cubana, eles me pediram que enviasse uma carta contendo o que desejava conhecer. Claro que eu queria conhecer o sistema educacional e o de saúde, eram os dois setores que eu tinha interesse de vê, in loco, saber como funcionava, já conhecia através da literatura, mas desejava tira a prova dos nove e dizer, eu estive lá, eu vi.



Viajei acompanhado pelos professores Paulo Linhares, que era pró-reitor de Extensão e Assuntos Estudantis e pelo professor Antonio Gonzaga Chimbinho, assessor especial da reitoria. Essa viagem teve um significado muito especial para a nossa universidade, era o primeiro contato da Uern com uma universidade estrangeira, resultando no seu primeiro convênio internacional.



Assinei, juntamente com Fernando Roja, reitor da Universidade de Havana, o convênio de cooperação entre as nossas universidades, no dia 10 de dezembro de 1988, convênio que está em vigor até hoje, precisando ser ampliado.



A solenidade de assinatura foi realizada no gabinete do reitor, no imponente prédio da Universidade de Havana, com a presença do corpo direcional da Universidade, representantes do Ministério do Ensino Superior, do Comitê Central do Partido Comunista Cubano, contando ainda com a cobertura da imprensa local. Após os discursos foi servido um coquetel. Foi uma bela e emocionante solenidade, falei em nome da Uern e o reitor Fernando Roja em nome da Universidade de Havana. Brindamos à aproximação das nossas universidades e dos nossos países. Na solenidade fui entrevistado pela Rádio Havana, fiquei maravilhado, na época da ditadura era a minha emissora internacional preferida, ela a Central de Moscou e a Rádio Pequim.



Até 1985 o Brasil não mantinha relações diplomáticas com Cuba, interrompida com o golpe militar de 1964, uma imposição do governo norte-americano, aceita servilmente pela ditadura militar, só no governo Sarney, com a abertura política, houve o reatamento diplomático entre os nossos países. A Uern foi à sexta universidade brasileira a assinar convênio com universidades cubanas. Foram assinados dois convênios, um com a Universidade de Havana e outro, com a Faculdade de Medicina de Santa Clara. Santa Clara é a cidade berço do Programa Médico da Família. Estes convênios resultaram em uma boa experiência na área de intercambio internacional, poderíamos ter aproveitado mais, extraído uma boa contribuição da experiência cubana nas áreas de saúde, educação, esporte, arte e cultura. A nossa universidade estava em processo de reestruturação, elaborando o seu projeto político-pedagogico, a experiência cubana teria sido muito interessante se tivesse sido efetivada com maior intensidade nas áreas citadas.



Concretizamos o convênio, apenas no campo da pós-graduação com a Universidade de Havana, ela é uma das mais antigas Universidades da América Latina, fundada em 1728. Esse convênio possibilitou a vinda de alguns professores cubanos para ministrar aulas na área de pós-graduação no Campus Central da Uern, inclusive, aqui ficando como nosso professor o competente físico, Doutor Carlos Ruiz, hoje exercendo a função de pró-reitor de pesquisa e pós-graduação, ele vem dando uma boa colaboração a nossa universidade com a sua qualificação profissional.



Antonio Capistrano foi reitor da UERN