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Governo argentino enfrenta escassez de dólares

Com a queda dos preços das commodities agrícolas em função da crise internacional, a Argentina poderá ter problemas para pagar os US$ 20 bilhões em juros e amortizações de sua dívida que vencem em 2009. Recursos em caixa não faltam. O que falta são dólare

Sem acesso ao mercado internacional de crédito desde a moratória da dívida, em 2002, a Argentina tem poucas alternativas para adquirir dólares. O comércio e as reservas internacionais são as fontes de divisas mais importantes. As reservas bateram um recorde de US$ 50 bilhões este ano para logo baixarem a US$ 47 bilhões (última posição registrada pelo BC), depois que parte foi usada para segurar a cotação do peso. 



Usar este dinheiro que está “em casa” deixaria o pais vulnerável, diz o assessor econômico Raul Ochoa, especialista em comércio internacional e ex-assessor da subsecretaria de Comércio Exterior do Ministério de Economia (1990-1991). Afinal, a conta a pagar consumiria praticamente metade das reservas.



No comércio, uma forte queda dos preços dos principais produtos exportados pela Argentina (soja, milho, trigo) nos últimos meses, se somou a um grande volume de remessas de dólares de pessoas físicas (cerca de US$ 25 bilhões) e dividendos de pessoas jurídicas. O resultado foi que o saldo em conta corrente do país caiu (veja gráficos) e deve cair ainda mais. Segundo uma pesquisa feita pelo BC no mercado, a expectativa é que o saldo em conta corrente da balança de pagamentos vá fechar 2008 em US$ 6,5 bilhões, abaixo dos US$ 7,1 bilhões de 2007, e despencar para US$ 2,7 bilhões em 2009. 



Uma alternativa são os depósitos dos argentinos no exterior que o governo pretende atrair de volta através de um programa de incentivos anunciado esta semana. A Casa Rosada sabe que não conseguirá trazer todos os estimados US$ 150 bilhões “exilados” em bancos nos Estados Unidos e na Europa, mas funcionários disseram à imprensa local que o governo se dará por satisfeito se conseguir atrair uma parte, algo como US$ 10 bilhões a 15 bilhões. 



Outra saída para ter acesso a dólares, dizem Ochoa e Brodersohn, seria obter crédito dos organismos multilaterais como FMI, Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento. Mas para acessar estes recursos, o governo argentino teria que se submeter às auditorias do Fundo. 



É verdade que esta recusa deixou de ser um dogma este ano depois que o cenário externo mudou e o único país com que a Argentina podia contar para tomar dólares emprestados, a Venezuela, começou a cobrar muito caro pelo dinheiro (15% ao ano no último empréstimo feito em julho). 



A presidente Cristina Kirchner tem se esforçado por abrir o caminho para aquelas fontes: já anunciou sua disposição de reabrir as negociações para o pagamento da dívida com o Clube de Paris e com os “holdouts”, investidores detentores de bônus da dívida argentina que não aceitaram entrar no programa de renegociação de 2005 e agora mantém uma batalha judicial contra o governo argentino nos fóruns internacionais. 



Fonte: Valor Econômico