Lula diz que ações do governo impedirão crescimento da crise
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira (15) que, diante das novas medidas tomadas pelo governo na tentativa de conter os efeitos da crise financeira internacional, os preços dos produtos e a taxa de juros vão cair e o consumido
Publicado 15/12/2008 09:59
Em seu programa semanal de rádio, Lula falou sobre o encontro com um grupo de empresários na semana passada. Ele avaliou o encontro como “a mais importante reunião da empresários” da qual já participou e afirmou ainda que o setor está “preocupado” e “cheio de disposição” para ajudar o país a enfrentar a instabilidade dos mercados internacionais “de cabeça erguida”.
Leia abaixo a íntegra do programa:
Olá você em todo o Brasil, eu sou o Luciano Seixas e nós estamos começando agora o Café com o Presidente. Olá presidente, como vai, tudo bem?
Tudo bem, Luciano.
Presidente, desde que a crise econômica mundial começou, lá nos EUA, o Brasil tem se preparado pra evitar que ela chegue aqui, adotando uma série de ações. O que significa o anúncio de mais essas medidas, presidente?
Eu acho importante, Luciano, a gente relembrar um pouco o que é que nós já fizemos. Num primeiro momento essa crise trouxe uma ausência de crédito, ou seja, faltou crédito no mundo inteiro. O dinheiro quase que, como num passe de mágica, desapareceu e nós então tivemos, aqui no Brasil, que colocar à disposição as reservas do Tesouro do compulsório para que pudéssemos irrigar o crédito no Brasil. Esse crédito foi importante por que nós permitimos que bancos como a Caixa Econômica e o Banco do Brasil pudessem comprar carteiras de bancos menores que estavam com dificuldades de financiar bens de consumo duráveis, de financiar carro, de financiar carro usado, de financiar outros bens. Qual é o pequeno problema que nós temos ainda? É que nós tínhamos de 20% a 30% do crédito que entrava no Brasil era de empresas que tomavam dinheiro empresado lá fora. Na medida em que o dinheiro lá fora encurtou, essas empresas estão precisando de dinheiro aqui dentro. Então, faltou um pouco de crédito. Nós, então, tomamos novas medidas para ajudar as empresas brasileiras que têm dívida lá fora, as empresas brasileiras que exportam, para que eles possam ter o crédito. Empresas como a Petrobrás agora vão poder pegar dinheiro das reservas brasileiras depositadas em bancos no exterior. Mas nós sabíamos que era preciso tomar outras medidas. Por exemplo, a isenção do IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados] do automóvel, ou seja, nós queríamos fazer com que o preço do automóvel baixasse para que o povo pudesse comprar – isso porque a cadeia da indústria automobilística é muito grande: ela representa 24% do PIB [Produto Interno Bruto] industrial; e aí tem desde o cidadão que troca o pneu de um carro no borracheiro até a empresa de autopeças que nós queremos que continue a produzir. Depois nós fizemos também uma redução no Imposto de Renda: nós tínhamos três faixas no imposto de renda, agora vão ser cinco faixas. Nós facilitamos para quem ganha de R$ 1.434 a R$ 2.150, criando uma nova faixa de 7,5%. E nós criamos uma outra faixa de 22,5%, pra quem ganha de R$ 2.866 a R$ 3.582. Isso vai diminuir o que as pessoas têm que pagar de Imposto de Renda para o governo. Nós reduzimos o IOF [Imposto sobre Operações Financeiras] de 3% para 1,5% ao ano. Nós trabalhamos, Luciano, com a idéia de que a economia brasileira precisa girar como se fosse uma roda-gigante. Ela não pode parar porque, se o povo compra, a indústria produz, o comércio vende, e aí você mantém os postos de trabalho. Eu continuo dizendo ao povo brasileiro que nós temos uma economia muito diversificada. Por isso, eu estou certo que o Brasil sairá vitorioso dessa crise.
Redução de IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados], de IOF [Imposto sobre Operações Financeiras], novas alíquotas de Imposto de Renda, o que é que a gente pode esperar com essas medidas, presidente?
O que nós podemos esperar é que os preços dos produtos vão cair, a taxa de juros vai cair, e o povo vai ter mais facilidade pra comprar, coisa que ele estava com medo de comprar. Ou seja, muitas vezes um trabalhador estava com medo de comprar um carro, muitas vezes estava com medo de comprar uma geladeira, um fogão, uma televisão, por que ele não queria fazer um endividamento, fazer prestações, com medo de ser mandado embora. Ora, quando nós tomamos essas medidas, certamente o preço desses produtos vai baixar e ele vai poder fazer essa compra dele com uma certa tranqüilidade.
Presidente, o senhor teve uma reunião com vários empresários na semana passada. Qual foi o tema desse encontro?
Foi uma reunião com um grupo de empresários, possivelmente acho que 26 empresários. Eu disse que foi a mais importante reunião de empresários que eu já participei desde que eu sou Presidente da República. Eram os grandes empresários, todos eles preocupados e todos eles cheios de disposição de ajudar o país a enfrentar essa crise de cabeça erguida e dar a volta por cima. Nós discutimos para que nenhum empresário dispense trabalhador, que é importante manter o nível de emprego. Eu assumi o compromisso de conversar com os dirigentes sindicais pra saber da possibilidade de estabelecermos acordos em alguns setores que foram mais afetados, de forma que eu fiquei muito satisfeito por que eu senti que os empresários assumiram de corpo e alma a responsabilidade de ajudar o país a enfrentar essa crise. Ou seja, é uma crise profunda. Nos EUA nós temos um problema que é um vazio de poder, na medida em que o presidente Obama [Barack Obama] só toma posse dia 20 de janeiro. E nós esperamos que assim que ele tomar posse ele tome todas as medidas pra incentivar o setor produtivo americano, para que a economia volte dentro de pouco tempo a funcionar normalmente. Uma coisa é certa: a economia mundial nunca mais será a mesma. Ou seja, o sistema financeiro efetivamente vai ter um certo controle; porque não é possível a ciranda financeira tomar conta da economia mundial como tomou, e quando quebra quem paga são os trabalhadores; é o Estado que tem que colocar dinheiro. Portanto, eu fiquei muito feliz com essa reunião com os empresários e pretendo fazer com os trabalhadores e com outros setores empresariais, para que a gente vá fazendo os ajustes necessários em função da cadeia produtiva de cada setor.
Muito obrigado presidente Lula, até a semana que vem.
Obrigado a você Luciano e até a próxima semana.
Fonte: Agência Brasil