Lula reitera defesa pelo fim do bloqueio a Cuba; Raul Castro agradece
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou nesta quinta-feira (18) sua defesa pelo fim do bloqueio econômico a Cuba. Segundo Lula, a expectativa é que outros países também participem da campanha pela suspensão do bloqueio estadunidense que prejudi
Publicado 18/12/2008 17:05
Agradecido, o presidente de Cuba, Raul Castro, disse que os latino-americanos já são maiores, têm direito a ''ter voz própria'' e brincou afirmando que retornaria ainda hoje pois havia o risco de ''se apaixonar'' pelo Brasil.
''Nós, os latino-americanos, somos maiores de idade, já podemos ter voz própria e dizer aos nossos vizinhos do Norte, do nosso continente, como a Europa, a Ásia e ao mundo inteiro, que podemos dar passos que conduzam a essa situação'', disse Castro.
Em seguida, Castro agradeceu o apoio de Lula ao fim do bloqueio. ''Agradeço também à permanente rejeição do Brasil ao bloqueio econômico que nos impuseram há quase 50 anos''.
O fim do embargo obteve apoio ontem dos 33 chefes de Estado que se reuniram, na Costa do Sauípe (BA), na Cúpula da América-Latina e Caribe. Na ocasião, também foi defendida a parceria de todos os países da região para integrar a chamada OEA (Organização dos Estados Americanos).
Bem-humorado, o presidente de Cuba, que é irmão de Fidel Castro, disse que seu discurso não seria ''tão longo'' como o do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Ao perceber que um garçom se preparava para servi-lo com um copo de água, Castro agradeceu em português pausado: ''Muito Obrigado''.
Por fim, o cubano disse que teria de retornar logo para seu país porque temia se apaixonar pelo Brasil. ''Vou embora porque tenho medo de me apaixonar pelo Brasil.''
Essa é a primeira visita de Raul Castro ao Brasil desde que foi escolhido para substituir, em definitivo, seu irmão, Fidel Castro, na Presidência de Cuba, em fevereiro de 2008. Este ano, Lula fez duas visitas àquele país.
Pedido a Obama
Ontem, durante o primeiro dia de debates da Cúpula da América Latina e o Caribe, o presidente Lula já havia dito que pedirá ao presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, uma mudança na política em direção à América Latina e o fim do bloqueio a Cuba.
O encontro reuniu pela primeira vez todos os países da região sem a presença dos Estados Unidos ou da União Européia. Para o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores), a cúpula funcionou como um manifesto pela independência decisória da região.
Em discurso de encerramento do primeiro dia do encontro, Lula afirmou que uma das coisas que mais deseja do futuro governo Obama é uma mudança na política externa dos EUA com a América Latina e o Caribe. ''O [pedido] é que, efetivamente, tome a atitude de colocar fim ao bloqueio a Cuba, que não tem mais explicação, que não tem mais explicação econômica, que não mais explicação política, ou seja, não existe nenhuma razão'', disse.
''Se essas coisas acontecerem, eu penso que além do simbolismo da eleição de um negro, eu acredito, cada vez mais, que Deus existe'', afirmou.
Segundo Lula, a possibilidade de uma nova política americana para a América Latina e o fim do embargo coroarão as grandes transformações na região nos últimos oito anos.
''Houve um tempo em que o companheiro [presidente venezuelano] Hugo Chávez estava sozinho. Quem imaginava, há dez anos, o nosso querido Evo Morales ser presidente [da Bolívia]? Quem imaginava que um bispo da Teologia da Libertação fosse Presidente do Paraguai?'', disse em alusão também a Fernando Lugo.
Cuba e o Grupo do Rio
No evento, o Grupo do Rio (fórum regional de consultas políticas da região) recebeu a adesão de Cuba como membro-pleno. ''É um privilégio dar boas-vindas a Cuba como membro do Grupo do Rio nesta reunião'', disse o presidente mexicano, Felipe Calderón, atualmente à frente do grupo.
Calderón destacou que ''a presença deste país-irmão será muito valiosa para a construção de um destino comum com valores compartilhados''.
Com a adesão, Cuba vira o 23º membro do Grupo do Rio, formado por Brasil, Argentina, Colômbia, México, Panamá, Peru, Uruguai e Venezuela em dezembro de 1986, no Rio de Janeiro, como mecanismo de consulta política.
''Em 20 anos, (o Grupo do Rio) se consolidou como interlocutor representativo da região junto a outros países e grupos de países'', acrescentou Calderón.
O presidente cubano Raúl Castro agradeceu aos que aprovaram o ingresso de seu país no bloco e ressaltou que a entrada da ilha no fórum é um ''reflexo do momento singular que a América Latina e o Caribe vivem''. ''Não sei o que vocês pensam, mas para nós é um momento importantíssimo de nossa história'', disse.
Segundo Raúl, seu país ''ingressa (no fórum regional) com o propósito de fomentar a compreensão e a solidariedade'' entre as nações da região.
Nos últimos 20 anos, Belize, Bolívia, Chile, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Nicarágua, Paraguai e República Dominicana se uniram ao conjunto de países, como também fez a Comunidade do Caribe, atualmente representada pela Jamaica.
No discurso que fez na quarta-feira, Lula comemorou a entrada de Cuba no bloco. ''Eu acho que isso culmina com esse pequeno grande gesto. Graças a essa mudança do perfil político-ideológico da nossa América Latina, a gente pôde fazer essa pequena reparação aos companheiros de Cuba. Trazê-los primeiro para o Grupo do Rio para depois levá-los para muito mais longe, junto com os latino-americanos e os caribenhos'', afirmou.
Da redação,
com agências