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Pai de cabo morto no Iraque “atreve-se” a escrever a Obama

Os movimentos pela paz nos Estados Unidos estão difundidndo amplamente uma Carta aberta a Barack Obama, escrita por um cidadão americano de origem mexicana, pai de um cabo do corpo de Marines que foi a quinta primeira vítima fatal da invasão do I

Até a morte de seu filho, Solar, 48 anos, levou uma vida tranquila como muitos imigrantes em Escondido, no extremo sul da Califórnia, colada na fronteira com o México. Trabalha como empacotador de supermercado e entregador de jornais. Depois da tragédia, transformou-se em um incansável ativista pela paz, através do Projeto Guerreiro Asteca (http://aztecapp.netrootz.com), que visa advertir a juventude sobre a realidade do serviço militar e da guerra.



Ele sustenta, com base em testemunhos que volta a citar na Carta aberta, que seu filho não morreu vítima de uma bala iraquiana, como diz a versão oficial do Pentágono, mas por ter pisado numa mina terrestre das próprias tropas americanas que invadiram o Iraque.



Solar tem certa autoridade para “atrever-se”, como ele diz, a escrever a Obama. Durante a campanha presidencial deste ano, ele comparecia a eventos da campanha do republicano John McCain; no meio dos discursos, exibia da platéia um retrato do filho e proclamava: “Bush mentiu, meu filho morreu”. A insólita contracampanha ganhou a mídia e com certeza rendeu votos.



A Carta aberta de Solar é um entre incontáveis exemplos das cobranças que esperam Obama no dia 20 de janeiro, data de sua posse na Casa Branca. Todas, invariavelmente, recordam o lema que ganhou o mundo durante a campanha, “Sim, podemos!”, e passou a ser o brado de guerra do andar de baixo da sociedade estadunidense.



Veja a íntegra:




“Ilustre presidente eleito Barack Obama,



Permita-me que me apresente: sou Fernando Suárez del Solar, cidadão americano desde 1995, de origem mexicana e pai do cabo Jesus Alberto Suarez del Solar, do corpo de marines, que morreu no Iraque em 27 de março de 2003.



Desde antes da morte do meu filho, trabalhei duro como todos os imigrantes, tolerei baixos salários e a discriminação; pelo menos na minha família vivi em paz. Um dia, quando ainda morávamos em Tijuana, México, e meu filho tinha apenas 13 anos, um recrutador da Marinha disse que se ele se alistasse poderia um dia tornar-se um oficial da Drug Enforcement Administration (DEA). Meu filho cresceu em Tijuana, viu como asódrogas destroem as vidas de crianças inocentes e quis se tornar agente da polícia.



O recrutador que se aproveitou do idealismo de meu filho prometeu que ele passaria um ano nos Marines e, em seguida, transferir para a DEA, transferir para a DEA, mesmo não sendo cidadão dos EUA. Aprendemos tarde demais que nada disso era verdade, mas aceitamos o fato de que na realidade ele teria de passar oito anos nos Marines. Em seguida, o 11 de Setembro mudou a história do mundo. Ficamos orgulhosos de que o nosso amado filho faria parte das forças armadas que iriam nos proteger do terrorismo.



Infelizmente, o presidente Bush começou a dizer uma série de mentiras sobre a conexão entre os WDM (sigla em inglês para artefatos de destruição em massa), o 11/9 e o Iraque. Meu filho foi deslocado para a fronteira com o Kuait fevereiro de 2003, e eu, embora me oponha à guerra, porque acredito que a violência nunca é a resposta adequada a um conflito internacional, pensei que o governo do meu país adotivo iria seguir o que diziam o Congresso e as Nações Unidas.



Mas infelizmente Bush levou-nos à guerra por falsas razões, uma guerra contra um povo inocente, que até hoje ninguém entende. A carnificina teve início no dia 20 de março de 2003; sete dias depois, em 27 de março, meu filho morreu; e minha vida mudou para sempre.



O funcionário da Marinha entregou-me um documento oficial Pentágono, dizendo que Jesus havia sido atingido na cabeça por uma bala inimiga. Mas na realidade, como eu soube mais de uma repórter de TV que estava presente, meu filho pisou numa mina terrestre americana. Nunca recebi resposta do governo a meus pedidos de esclarecimento dos fatos sobre a morte de meu filho.



Desde 2003 dedico minha vida a contar a minha história, denunciando as mentiras do governo Bush e defendendo a paz. Viajei ao Iraque em dezembro de 2003, para ver com meus próprios olhos onde meu filho tinha morrido, ns mãos de nosso próprio governo incompetente. Ali soube que milhares de crianças iraquianas morrem todos os dias por falta de remédios. Um ano depois, voltei com US$ 650 mil em donativos médicos para o povo iraquiano. Tenho me dedicado também a falar contra os recrutadores militares que mentem para nossos jovens visando alcançar suas quotas de recrutas.



Como sei que o senhor se opôs à Guerra do Iraque, atrevi-me a escrever-lhe diretamente.



Hoje, nossas escolas estão em grandes apuros. Em comunidades onde moram as minorias e a classe trabalhadora, as escolas carecem de muitos recursos necessários, muitas estão fechadas, muitos professores perderam seus empregos. Mas os recrutadores militares passaram a ter mais recursos e visitam as escolas à vontade, caçando jovens que só querem ter uma educação. Assim, tenho de perguntar: Qual é a nossa prioridade, a educação ou a militarização da nossa juventude?



Senhor presidente eleito, solicito, não eu imploro, que o senhor ponha um fim no recrutamento militar em nossas escolas públicas. Vamos devolver os bilhões de dólares usados no JROTC (sigla do programa de recrutamento) e à missão educativa de nossas escolas. Que o Sonho Americano não se traduza em falsas promessas e armas de treinamento militar, mas em livros, salas de aula decentes, professores bem remunerados e uma pedagogia da esperança.



Si se puede, senhor Obama! Sim, podemos.”



* Carta reproduzida do People's Weekly World, http://www.pww.org