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Redução da jornada pode evitar demissões na indústria

Dados divulgados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) na quinta-feira (8) indicam que a produção de veículos no Brasil caiu 47,1% em dezembro na comparação com novembro de 2008, apesar de certa recuperação das vend

O resultado reflete a ampliação das férias coletivas nas montadoras, numa reação das multinacionais à crise econômica internacional considerada alarmista pelo governo e pelos sindicalistas. Apesar disto, 2008 foi o melhor ano da história para a indústria automobilística no Brasil. Nos 12 meses fechados em dezembro, a produção teve alta de 8%, o que significou 3,214 milhões de novas unidades lançadas nos mercados interno e externo, de acordo com a Anfavea.


 


Um recorde que deu novas e boas contribuições ao caos do trânsito em São Paulo e nas regiões metropolitanas do país, encheu as burras dos capitalistas, permitindo-lhes multiplicar o valor das remessas de lucros e dividendos às matrizes, mas não livrou a classe operária das férias coletivas involuntárias e do fantasma das demissões em massa no Ano Novo. A classe trabalhadora e seus representantes não querem arcar com o ônus da crise do capitalismo e 2009 promete intensas lutas no ramo metalúrgico.


 


Resultados contraditórios


 


O último mês do ano também registrou uma recuperação das vendas. Em dezembro foram comercializados 194.486 veículos contra 177.823 em novembro, o que configura um aumento de 9,4%. É importante assinalar, por outro lado, que em relação a dezembro de 2007, quando foram vendidas 242.240 unidades, verifica-se queda de 19,7%.


 


O incremento do consumo em dezembro não se explica apenas por fatores sazonais, é devido principalmente às medidas adotadas pelo governo para contornar a crise de superprodução no ramo automobilístico, o que inclui renúncia fiscal e ampliação do crédito. À primeira vista não há motivos para temer uma forte recessão no setor, mas ainda é cedo para concluir que a recuperação das vendas e, por conseqüência, das atividades já esteja em curso.


 


Férias coletivas


 


Na avaliação da própria Anfavea, a queda na produção tem como principal fator o período de férias coletivas superior ao registrado em anos anteriores, o que reflete a reação alarmista das multinacionais à crise econômica irradiada dos EUA e à superprodução global do setor automotivo.


 


Para confirmar esse quadro, a entidade destacou a retração da produção nos chamados automóveis leves, segmento que registrou uma retração de 45,8%, saindo de um patamar de 174.945 unidades produzidas em novembro para 94.795 durante o mês de dezembro de 2008.


 


Exportações em queda


 


Já as exportações do setor registraram queda de 7,3% em dezembro, para US$ 917,7 milhões. Na comparação com o mesmo período de 2007, a retração foi de 23,1%. No acumulado do ano, as transações no mercado externo computam alta de 3,4% em relação a 2007 no valor comercializado, que totalizou US$ 13,925 bilhões. Já o volume de veículos.vendidos caiu 7,9%, de 789.379 em 2007 para 727.283 no ano passado.


 


No mês de dezembro, a queda (em volume) foi de 26,1%.
Em relação ao mercado externo não há perspectiva de melhora em curto e médio prazos. O mais provável é que as vendas continuem em queda, refletindo a recessão nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, assim como a contração dos chamados mercados emergentes.


 


“As exportações enfrentam problemas mais contundentes porque alguns mercados tradicionais têm apresentado quedas importantes, por isso prevemos um ano muito difícil em 2009”, disse o presidente da Anfavea, Jackson Schneider. A bem da verdade, há um excesso de capacidade instalada e de produção deste ramo industrial em escala global.


 


Multinacionais já demitem


 


Apesar das medidas do governo em benefício das empresas, as multinacionais já começaram a demitir. O nível de emprego caiu 2,4% em dezembro, com 127.993 pessoas empregadas ante as 131.201 que trabalhavam no ramo em novembro. Segundo Schneider, as demissões estão concentradas no setor de máquinas agrícolas, que enfrenta queda nas vendas e nas exportações desde meados do ano passado.


 


“Cabe a cada montadora buscar o melhor desenho junto ao diálogo com sua comissão de fábrica e sindicatos. O que é importante é que esse diálogo aconteça e que soluções sejam encontradas”, recomendou o presidente da Anfavea. Na prática, o diálogo vigora apenas da boca para fora, não vai além da retórica.


 


CTB propõe redução da jornada


 


A direção da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) entende que as demissões não são inevitáveis e podem ser contornadas, mesmo num contexto de queda da produção e das vendas, com a redução da jornada de trabalho sem redução de salários. Isto exige, porém, o sacrifício de parte dos lucros e das remessas de mais-valia ao exterior para cobrir prejuízos das matrizes, de forma que não será uma saída pacífica para o patronato.


 


“Os sindicalistas e os trabalhadores precisam lutar com energia para evitar que a classe operária, que produz o lucro apropriado pelas multinacionais, pague por uma crise pela qual não tem qualquer responsabilidade. Vamos exigir a implantação imediata da jornada de 35 horas semanais sem redução de salários”, sustentou o metalúrgico João Batista Lemos, diretor adjunto da Secretaria de Relações Internacionais da CTB.