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Contra crise, presidente do PCdoB defende novo pacto político

Vindos de Norte a Sul do Brasil, cerca de 110 professores da Escola Nacional do PCdoB assistiram hoje (19) à aula do presidente do partido, Renato Rabelo, sobre a nova luta pelo socialismo tendo como cenário a crise econômica. Enfático em sua exposição, R

Partindo do caráter do capitalismo – essencialmente liberal e focado na busca por lucros cada vez maiores numa economia sem fronteiras – Rabelo lembrou que neste sistema, “o melhor é ganhar dinheiro com dinheiro, sem que se corram os riscos da produção”. Neste sentido, a cada dia torna-se mais clara a impossibilidade de se reformar o sistema, construindo um capitalismo sobre novas bases. “A solução passa pela construção de um sistema com outras relações de produção visando a sociedade socialista”.


 


Embora possa parecer – depois da avalanche neoliberal dos anos 90 – que o socialismo é inviável, a discussão está na agenda do dia e ganham força países da periferia que se contrapõem ao imperialismo norte-americano e mesmo europeu. O cenário, portanto, é favorável para as forças comunistas, populares e de esquerda.  “Há uma transição em curso no cenário internacional, com novos atores que vão ocupando espaços e influenciando o quadro mundial, como a China, a Rússia, o Brasil e a África do Sul. É um dado novo, que se contrapõe à crise do centro do sistema”. As contradições, colocou, “se acirram com o papel que estes novos atores jogam” e hoje os Estados Unidos já não estão em condições de impor uma política unilateral. “Sua decadência cria uma nova era”, apontou.


 


Neste novo momento histórico, rico em perspectivas, Renato Rabelo enfatizou aos professores da Escola Nacional que “é preciso uma teoria revolucionária do nosso tempo que leve com conta as experiências socialistas do século 20, mas também aquelas que continuaram e não sucumbiram à onda neoliberal. Ao mesmo tempo, devemos nos debruçar sobre as experiências das lutas travadas na América Latina, onde avança um processo democrático e antiimperialista, com forte base popular e sinais revolucionários”. O dirigente, no entanto, lembrou que examinar tais experiências não deve resultar na criação de modelos e, dialeticamente, cada realidade dará origem a um tipo de alternativa.


 


Impulsão ao governo Lula


 


Trazendo a discussão para o âmbito nacional, Rabelo disse que “hoje nossa tática visa a impulsionar o governo Lula no sentido de aproximar o movimento político e social dos objetivos maiores. Para tanto, precisamos de um partido composto de extensa militância, dirigido por quadros comprometidos com a luta pelo socialismo deste século, integrado à vida dos trabalhadores e do povo”. O tema, ao lado da renovação do programa socialista, será central no 12º Congresso do partido, marcado para novembro.


 


O processo de acumulação de forças do PCdoB para mudanças estruturais na sociedade brasileira deve casar, de acordo com o dirigente, as tarefas no campo institucional com a participação em frentes políticas amplas, mas também na mobilização e organização popular e na contínua luta de idéias. “Não basta atuar nos governos e nos parlamentos porque a força motriz da mudança está no povo”, argumentou. Sobre o campo das idéias enfatizou: “os comunistas precisam ser homens e mulheres de ciência, tanto sociais quanto naturais, porque o projeto socialista requer conhecimento. É preciso definir, defender e concretizar um programa de avanço civilizacional”.


 


No centro deste programa, conforme explicou o dirigente, deve constar a defesa de um novo tipo de Estado, distinto do liberal, o que implica o estabelecimento de um pacto pela defesa e impulso do desenvolvimento e da produção. No caso do governo Lula, do qual o PCdoB faz parte, o pacto feito ainda no primeiro mandato foi ambíguo: tentava-se responder aos anseios populares e, ao mesmo tempo, ceder às exigências das “castas financeiras”. Rabelo lembrou que desde então tal relação vem mudando, mas ainda de maneira tímida. “Precisamos reconstruir um pacto político voltado aos interesses populares no sentido de impedir que o Brasil entre em recessão, mudando essa visão ortodoxa do Banco Central. É preciso livrar o país do mercado financeiro, que é quem dá as cartas hoje”.


 


Sem minimizar a perspectiva revolucionária que deve guiar as ações comunistas, Renato Rabelo explicou que o momento pede “alianças temporárias” que, entre outras, podem incorporar frentes e lideranças de visão keynesiana e produtivista.  Ele defendeu a formação e o fortalecimento de um núcleo forte, de vanguarda, capaz de “puxar os setores produtivos para uma mudança substancial na economia nacional”. Mas, alertou, “se não tivermos maioria política, nós é que seremos puxados por eles”. Um novo pacto político com esse caráter abriria a possibilidade de se “neutralizar a oligarquia financeira”. A aliança com setor produtivo contra os juros, conforme exemplificou, “pode sim nos interessar”. Porém, lembrou, “o trabalhador continuará defendendo o trabalho e os capitalistas o capital. E é importante que tenhamos claro que hoje a hipertrofia da esfera financeira chegou a tal ponto que se conseguirmos ao menos neutralizá-la, estaremos dando um passo fundamental no fortalecimento dos setores populares”.


 


Colocando a discussão na disputa presidencial de 2010, Renato Rabelo disse que os comunistas devem “trabalhar para que o sucessor de Lula seja aquele que construirá esse novo pacto. E, para isso, é preciso um bloco forte à esquerda para implantar um programa popular e conseqüente”.



 


 


De Atibaia,
Priscila Lobregatte e Osvaldo Bertolino


 



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