Curso do PCdoB começa com palestra de José Reinaldo Carvalho
Com uma palestra do secretário de Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), José Reinaldo Carvalho, teve início na noite de domingo (18) o VI Encontro de Professores promovido pela Escola Nacional do Partido e pela Fundação Maurício
Publicado 19/01/2009 11:38
Falando para um auditório de mais de 80 pessoas vindas de diferentes estados, José Reinado Carvalho iniciou a palestra lembrando que no dia 24 de janeiro completam-se 85 anos da morte de Wladimir Lênin, um dos fundadores da doutrina marxista. Homenagear Lênin, disse José Reinaldo de Carvalho, é um compromisso dos que se propõem a levar adiante suas idéias — que formam a base ideológica orientadora do PCdoB.
Um dos aspectos desta base ideológica, disse ele, é o internacionalismo, vinculado à essência do Partido. Para José Reinaldo de Carvalho, considerar essas idéias como essenciais é uma condição fundamental para o discernimento entre o que é conjuntural, circunstancial, e o que é estratégico. Ele destacou que o internacionalismo — assim como a teoria — não é uma questão à parte. O PCdoB, disse José Reinado de Carvalho, reafirma, na conturbada conjuntura internacional do momento, o seu compromisso internacionalista. ''Nosso Partido é patriótico, somos nacionalistas, mas não defendemos o nacionalismo burguês, que na essência é aliado do imperialismo'', enfatizou.
O secretário de Relações Internacionais do PCdoB explicou que o nacionalismo precisa estar vinculado à luta pelo socialismo, de acordo com a realidade brasileira. Ele disse que no passado o Partido fez uma autocrítica sobre a adoção mecânica de modelos de socialismo, que não correspondiam à vida nacional. José Reinaldo Carvalho explicou que não há contradição entre o nacional-desenvolvimentismo e o internacionalismo. Para ele, a questão nacional está diretamente vinculada ao internacionalismo. Mas, detalhou, é preciso levar em conta certo tipo de nacionalismo — o nacionalismo burguês —, que corresponde ao oposto dos interesses nacionais, o imperialismo.
Contradições apontadas por Lênin
Faz parte da natureza do PCdoB, disse ele, a identidade de classe, que é uma questão internacional, ligada à estratégia mundial dos trabalhadores. O internacionalismo como essência do Partido, portanto, faz parte do seu caráter de classe. Este é um aspecto essencial da missão histórica do PCdoB, que é a luta pelo socialismo, enfatizou. Em última instância, explicou José Reinaldo de Carvalho, a luta pelo socialismo passa por peculiaridades nacionais de cada país mas o seu desenvolvimento tem escala internacional. Mesmo a luta contra a exploração, disse ele, tem caráter internacional.
José Reinaldo de Carvalho explicou que a expressão ''revolução proletária mundial'', proclamada por lideranças socialistas no passado, revela a essência das contradições fundamentais do capitalismo apontadas por Lênin: capital e trabalho (burguesia e proletariado), anteriormente apontada por Karl Marx como a contradição fundamental da sociedade capitalista; impérios e nações dominadas, e relações inter-imperialistas — contradição agravada com a ''globalização'', responsável pelo desenvolvimento desigual dos países e que se desdobra em conflitos políticos e militares. José Reinaldo Carvalho agregou uma quarta contradição — a luta entre os campos socialista e capitalista.
Contribuição programática de Marx e Engels
A derrota do campo socialista, disse ele, se deu fundamentalmente em sua expressão política. Mas o socialismo, como antípoda do capitalismo, vai encontrando novas formas e já é um fenômeno que se manifesta em processos políticos com novas perspectivas revolucionárias. Essa nova realidade, ressaltou, designa uma época em que a luta dos comunistas implica em resolver estas contradições, em dar respostas históricas aos novos desafios. Trata-se, reiterou, de uma luta internacional porque a ''globalização'', que tem origem anterior ao período neoliberal, formulou uma política econômica baseada em uma receita uniforme. A mesmice dos meios de comunicação, afirmou, reflete esta constatação. Neste período, segundo ele, acentuou-se o poderio do setor monopolista-financeiro, que se agigantou e passou a ditar as regras mundiais. Muitos governos progressistas, destacou, não conseguem se desamarrar das políticas macroeconômicas conservadoras, como é o caso do Brasil, por conta desta realidade.
José Reinaldo Carvalho comentou ainda o fracasso das veleidades desenvolvimentistas do chamado Estado de bem-estar social. E detalhou que uma expressão deste fracasso pode ser vista na gastança promovida pelos Estados que tentam salvar os sistemas bancários com o estouro da crise financeira atual — uma tentativa de salvar o capitalismo.
Em seguida, José Reinaldo Carvalho fez uma breve explanação sobre a história da luta internacional pelo socialismo, começando pela participação programática de Karl Marx e Friedrich Engels na Liga dos Comunistas (a Associação Internacional dos Trabalhadores, batizada pelos historiadores como Primeira Internacional) com a elaboração do Manifesto do Partido Comunista — que sintomaticamente termina com uma conclamação à união mundial do proletariado.
Combate ao revisionismo
O secretário de Relações Internacionais do PCdoB também explicou a trajetória da Segunda Internacional e fechou este ponto destacando aspectos positivos e negativos da Terceira Internacional. Segundo ele, a organização surgida após a Revolução Russa teve o mérito de expandir a luta pelo socialismo, mas pautou-se pelo dogmatismo, pela leitura artificial das realidades nacionais e pelo transplantes de modelos. Tudo isso contribuiu para frear o desenvolvimento da luta revolucionária, afirmou.
Outro período brevemente analisado pelo o secretário de Relações Internacionais do PCdoB foi o de combate ao revisionismo, iniciado no final dos ano 50 do século XX. Para ele, o enfrentamento com a base política e ideológica da degeneração soviética foi importante para o PCdoB reafirmar seus princípios revolucionários. Mas, destacou José Reinaldo carvalho, o Partido incorreu em erros ao ver a questão sem matizes, como se tudo fosse preto e branco.
Dois fenômenos explosivos
Foi, segundo ele, uma manifestação de dogmatismo. E citou que isso decorreu da formação de famílias de partidos comunistas em âmbito mundial, como as soviética e chinesa, que mais tarde se subdividiram e fragmentaram ainda mais o movimento comunista internacional. E o PCdoB seguiu esta tendência. O secretário de Relações Internacionais do PCdoB lembrou que a superação deste fenômeno foi importante para a realização do recente encontro de partidos comunistas e operários no Brasil, do qual participaram muitos partidos que foram da família soviética.
José Reinaldo carvalho terminou fazendo um pedido para que se desse uma olhada atenta no século XX. Para ele, trata-se de um período que precisa ser melhor avaliado. Segundo o secretário de Relações Internacionais do PCdoB, o século XX terminou de forma melancólica, sob o signo de uma derrota. Ficou, em sua opinião, a sensação de fracasso. Mas na verdade, o século XX ficou marcado pelas revoluções na Rússia e na China, pelas vitórias das guerras de libertação nacional — entre as quais as do Vietnã e de Cuba, que resultaram na adoção do socialismo. Segundo ele, este período precisa de um exame mais criterioso a fim de se tirar ensinamentos para a análise da situação política de hoje. Ele destacou que o mundo se vê às voltas com dois fenômenos que se entrelaçam e que são ao mesmo tempo explosivos e revolucionários: crise econômica profunda e um estado de guerra crônico. Os comunistas precisam se preparar para enfrentar esta realidade, enfatizou.
De Atibaia,
Osvaldo Bertolino