Messias Pontes – Eleição na Câmara pode ter surpresa

Todas as atenções políticas, na próxima semana, estarão voltadas para a eleição das Mesas Diretoras da Câmara e do Senado. Acordos existem, mas não se tem a certeza que serão cumpridos. Na Câmara Alta existem as candidaturas do petista Tião Viana e do pee

Sarney e Temer aparecem como favoritos. Quem conhece o matreiro senador maranhense (eleito pelo Amapá) sabe que ele não entra em bola dividida. Portanto não entraria na disputa se não tivesse a certeza de vitória. De saída ele conta com a neutralidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Isto porque é hoje um fiel aliado e, mais que isso, um dos seus principais conselheiros. Nos momentos mais difíceis no primeiro governo, Lula contou com o irrestrito apoio de Sarney. Portanto, Tião Viana deveria negociar uma boa posição na Mesa e assim evitar o dissabor de uma derrota.


 


O quadro é tão favorável a Sarney que até mesmo a bancada tucana, com exceção do senador cearense Tasso Jereissati, votará nele. Tudo articulado pelo governador paulista José Serra que acredita poder cicatrizar de vez a ferida aberta em 2002, quando, com o irrestrito apoio da grande mídia conservadora, venal e golpista, e da então direção da Polícia Federal detonou a candidata presidencial de Roseana Sarney, filha do ex-presidente da República e do Senado. Serra fará de tudo para ser o candidato tucano à sucessão do presidente Lula, e, para atingir seus objetivos, é capaz até de fazer uma boa ação.


 


Na Câmara, apesar de contar com o apoio formal de 13 partidos que somam mais de 400 dos 513 votos, Michel Temer pode ter surpresa e amargar uma derrota. Nunca é demais lembrar o saudoso Tancredo Neves: “eleição secreta dá uma vontade danada de trair!” Apesar do apoio formal do PT, para muitos petistas, entre eles o paranaense Dr. Rosinha, “não é aconselhável um partido fisiológico como o PMDB comandar sozinho as duas Casas do Congresso”.


 


Até porque não é confiável. A banda podre peemedebista já fechou questão com José Serra em São Paulo em troca do apoio tucano para Orestes Quércia disputar uma das duas vagas ao Senado. Há ainda o fato importante que não deve ser descartado: a ferida aberta no primeiro governo do presidente Lula, quando Temer se juntou à oposição e depois foi preterido por Lula que sequer o recebia no Planalto. Essa ferida não está de todo cicatrizada. É mais que oportuno lembrar que o deputado peemedebista tem uma grande afinidade com o governador paulista, e que nunca morreu de amores pelo PT.


 


Em 2006, o deputado Aldo Rebelo pretendia disputar o Senado por São Paulo. Porém desistiu atendendo pedido do presidente Lula para apoiar a candidatura do petista Aloísio Mercadante. Lula disse que o queria deputado para ser presidente da Câmara até 2009. No entanto os anticomunistas do PT tramaram contra esse acordo e lançaram a candidatura de Arlindo Chinaglia, fazendo acordos os mais espúrios, inclusive prometendo desistir da recandidatura em 2009 para apoiar Michel Temer, em troca do apoio do PMDB.


 


Diante da candidatura de Chinaglia, Lula cruzou os braços e seus principais auxiliares, que antes apoiavam a postulação do deputado do PCdoB, passaram a trabalhar a candidatura petista, tendo a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ordenado a liberação de emendas do Orçamento da União para os deputados que prometessem votar em Chinaglia.  Apesar de toda a máquina a serviço da candidatura petista, Aldo Rebelo perdeu por apenas 18 votos.


 


É salutar recordar, principalmente para aqueles de memória curta, que, no auge da crise do “mensalão”, e com a renúncia de Severino Cavalcanti por seu envolvimento no chamado mensalinho, nenhuma candidatura petista seria capaz de vencer a disputa com o pefelista baiano José Thomaz Nonô para presidência da Câmara.


 


O único nome da base aliada do presidente Lula em condição de vencer a disputa e garantir a governabilidade era o de Aldo Rebelo, dada a sua credibilidade e o respeito que gozava e goza junto à maioria dos seus pares. A direitona – PSDB, PFL e PPS – já cantava a vitória do candidato pefelista e, com ela, o impeachment do presidente Lula. Ao receber o pedido de impeachment de Lula, Aldo Rebelo o arquivou imediatamente.


 


A candidatura de Osmar Serraglio, se mantida até o próximo dia dois, certamente dividirá o PMDB e tirará alguns votos de Michel Temer; Ciro Nogueira poderá vir a retirar sua candidatura e apoiar a de Aldo Rebelo; e os petistas que não são anticomunistas – e são muitos – não se sentem obrigados a cumprir o acordo com o PMDB, são gratos ao comunista por este ter evitado, quando presidia a Câmara, o impeachment de Lula, e por isso estão dispostos a votar nele.


 


Aldo Rebelo, do bloco de esquerda – PSB, PCdoB, PMN e PRTB – é o único dos quatro candidatos a apresentar um programa tendo como base a independência da Câmara dos Deputados. Ontem, 500 cartazes foram afixados nos locais mais visíveis da Câmara e nas portas dos gabinetes dos aliados. Pode haver surpresa!


 


Messias Pontes é jornalista e colaborador do Vermelho/CE