Ciro diz que Temer evitou o debate público
A candidatura do deputado Ciro Nogueira (PP-PI) a presidente da Câmara assombra os caciques políticos do Congresso Nacional. Graças a colegas do chamado baixo clero – aqueles parlamentares que não brilham em plenário nem aparecem nos jornais, mas são a ma
Publicado 01/02/2009 16:02 | Editado 04/03/2020 17:02
Ciro Nogueira desafia os líderes de 14 partidos de todas as tendências que apoiam o deputado Michel Temer (PMDB-SP), dentre os quais estão o PMDB, o PT, o PSDB e o DEM, as maiores bancadas na Casa.
O líder do baixo clero aposta no segundo turno. Na tradição da Câmara, o voto secreto é utilizado para acordos pessoais e ajustes de conta, à revelia dos líderes. Nas eleições, o índice de traição é tão alto que até candidato único sofre com as abstenções. A razão do otimismo de Nogueira é a insatisfação do PT e de outros partidos da base governista com o PMDB, que reivindica o comando da Câmara e do Senado.
O ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) perdeu a eleição para presidente da Câmara para o ex-deputado Severino Cavalcanti, em 2004, por 300 votos a 150. Naquela eleição, a base governista rachou por causa da candidatura dissidente do deputado Virgílio Guimarães (PT-MG). Agora, os deputados Aldo Rebelo (PCdoB) e Osmar Serraglio (PMDB-PR) também disputam a Presidência da Casa. Para Nogueira, seriam situações semelhante.
Correio Brasiliense – Como o senhor avalia a campanha?
Ciro Nogueira – É uma campanha sem debate. Eu achava que nós iríamos discutir as questões que preocupam os deputados. Ninguém pode negar que a Casa tem muitos problemas, os candidatos são parlamentares experientes. o Michel já foi presidente da Casa, o Aldo também. O Serraglio é um parlamentar importante. Apesar de ser mais novo que eles, também tenho experiência legislativa. Nós poderíamos produzir um grande debate. Infelizmente, por conta de um candidato que não quer debater, isso não está acontecendo.
CB – Quem não quer o debate?
CN- O deputado Michel Temer não quer debate. Um grande veículo de comunicação quis fazer um debate, mas ele disse que não iria porque os outros se juntariam contra ele. A TV Câmara, inexplicavelmente, também se recusa a fazer um debate, por conta da recusa dele. Nessa semana, uma tevê também tentou marcar um debate, mas ele disse que não poderia comparecer e mandaria um representante. Não sei a razão da recusa, quem tem que dar explicações é ele.
CB – O senhor avalia que já se delineou um segundo turno?
CN – Nunca houve uma eleição na Casa com tantos candidatos que não fosse para o segundo turno. O Aldo perdeu a eleição por poucos votos na eleição passada. O Serraglio é um deputado muito conhecido na Casa, ocupa a secretaria mais importante da Mesa. Eu sempre fui bem votado nas eleições da Mesa. O Michel já foi presidente. É eleição para dois turnos.
CB – A candidatura do senador José Sarney (PMDB-AP) a presidente do Senado repercute na Câmara?
CN – Sempre defendi que fatores externos não influenciassem a eleição na Casa, que as candidaturas fossem construídas de dentro para fora. Acontece que o Michel investiu muito na eleição do Senado, fez uma aposta errada. E, agora, a situação por lá começa a prejudicar a candidatura dele aqui. Se ele tivesse se dedicado mais aos deputados do que ao Senado, a situação dele estaria melhor.
CB – O que o senhor pretende fazer nesta reta final?
CN – Quando lancei minha candidatura, apresentei as minhas propostas. Estive em todos os gabinetes para discuti-las. Não falei pessoalmente com todos os deputados, mas conversei por telefone. O Michel não apresentou nada por escrito quando se lançou. Só na semana passada apresentou suas propostas, correndo atrás de nós. Nesta reta final, vou continuar debatendo minhas propostas para a Casa, é assim que vou me movimentar, visitando os gabinetes, conversando com os parlamentares.
CB – Como o senhor vê essa questão dos gastos da Câmara, certos privilégios de servidores e deputados?
CN – Que privilégios? Os funcionários têm que ter plano de saúde, os deputados precisam dos gabinetes, assessores, precisam se deslocar. Não são privilégios.
CB – O senhor apresentou uma proposta para a TV Câmara cobrir as atividades extraparlamentares nos estados e até no exterior?
CN – Isso não é atividade extraparlamentar. Faz parte do trabalho do deputado, que não trabalha só aqui no plenário. Trabalha nas comissões, vai às universidades, visita seus municípios, participa de congressos e outros eventos. Isso precisa ser mostrado, a TV Câmara cobre muito pouco a atuação parlamentar. Por exemplo, a coisa mais importante que está acontecendo aqui é a eleição da Mesa. A TV Câmara não faz a menor cobertura.
CB – O governo Lula apoia a candidatura do Temer. O senhor se considera um dissidente?
CN – De jeito nenhum! Sou candidato da base e agradeço a forma como o governo tem se conduzido. Apoia Temer, mas de nenhuma forma tem interferido na eleição, seja através da liberação de verbas ou do preenchimento de cargos. Agradeço a postura do presidente Lula nesta eleição. Nunca recebi nenhum pedido para retirar nossa candidatura. Ele tem respeitado a autonomia da Câmara, creio que será assim até a eleição.
Luiz Carlos Azedo,
do Correio Brasiliense