Produção industrial brasileira desabou 12,4% em dezembro
A produção da indústria brasileira registrou uma forte queda em dezembro do ano passado. Despencou nada menos que 12,4% frente ao mês anterior. Foi o pior resultado da série histórica iniciada em 1991, segundo informações divulgadas nesta terça-feira (
Publicado 04/02/2009 15:20
Com o resultado de dezembro, a atividade industrial acumulou três meses consecutivos de declínio, perfazendo perda de 9,4% de setembro a dezembro. Na comparação entre meses de dezembro (2008 versus 2007), o recuo verificado foi de 14,5%, contra uma baixa de 6,4% entre meses de novembro. Em relação ao último trimestre de 2007, a queda foi de 6,2%.
Estagnação
Mesmo com a queda no final do período, a produção da indústria fechou o ano exibindo um crescimento de 3,1%, ante 6,0% em 2007. Essa alta anual refletiu a forte expansão verificada no primeiro semestre, de 6,3%. Mas, o ciclo mudou súbita e substancialmente, de forma que os resultados do último trimestre do ano determinaram um crescimento praticamente nulo (0,2%) no segundo semestre, configurando estagnação.
A mudança do quadro macroeconômico a partir de setembro teve efeito imediato sobre a atividade industrial, na opinião da economista Isabella Nunes, da coordenação de indústria do IBGE. A análise sobre o comportamento do setor em 2008, a partir dos índices de média móvel trimestral, mostra duas fases bem distintas.
Na primeira, que compreende o período de setembro de 2006 a setembro de 2008, há uma elevação generalizada do nível de produção, com uma robusta expansão de 13,6%, abrangendo os diferentes ramos. Na fase seguinte, a partir de outubro de 2008, observa-se uma significativa queda na produção global. O declínio do último trimestre do ano fez a produção recuar ao nível de março de 2004.
Ramo automotivo
O maior impacto negativo no índice global foi do setor de veículos, que caiu 39,7% em dezembro, seguido por máquinas e equipamentos, material eletrônico e comunicações e metalurgia básica. Segundo os economistas do IBGE, todos esses segmentos registraram paradas técnicas e férias coletivas no mês de dezembro, o que sinaliza novas ondas de demissões em 2009 se a produção não reagir.
Embora o comportamento dos diversos ramos que compõem o setor industrial tenha sido desigual, as estatísticas do IBGE revelam um quadro de recessão generalizada na indústria. Nada menos do que 25 dos 27 ramos pesquisados tiveram queda. As exceções foram celulose e papel, com alta de 0,4% no mês, e outros equipamentos de transporte (6,7%).
Commodities
O cenário de queda generalizada foi agravado pelo mau desempenho de setores mais sensíveis à restrição de crédito e à queda das exportações de commodities. Houve forte queda nos ramos de máquinas e equipamentos (-19,2%), materiais eletrônicos e equipamentos de comunicações (-48,8%).
A queda na produção de veículos foi a maior da série histórica nas duas comparações (mês e ano). “O resultado de dezembro mostra uma piora em relação a novembro, refletindo o agravamento da crise internacional, que afeta especialmente setores de bens duráveis, sensíveis à redução de crédito, e os bens intermediários por conta da exportação de commodities”, diz Isabela Nunes, gerente da pesquisa.
Declínio dos investimentos
Entre as categorias de uso, os bens de consumo duráveis registraram a queda mais expressiva, de 34,3%. A produção de bens de capital despencou 22,2% e a de bens intermediários caiu 12,1%, revelando que os investimentos estão em franca baixa. Bens de consumo semi e não-duráveis acompanharam a tendência negativa, mas tiveram uma queda menor (-4,2%).
Na comparação com dezembro do ano passado, houve redução da produção em 23 das 27 atividades analisadas. A produção automobilística registrou queda de 59,1% nessa base comparativa. Também despencaram as produções de material eletrônico e equipamentos de comunicações (-60,3%) e borracha e plástico (-31,1%).
Ainda na relação com dezembro do ano passado, a produção de bens duráveis recuou 42,2%. Também caíram as produções de bens intermediários (-18,2%), bens de capital (-13,1%) e semi e não duráveis (-1,8%).
O IBGE promoveu uma revisão significativa no resultado da produção industrial de novembro ante outubro de 2008, que passou de uma queda de 5,2% apresentada anteriormente para -7,2%. Também foi revisado o resultado de outubro ante setembro de 2008 (-2,8% para -1,4%) e de setembro ante agosto (crescimento de 1,8% para 1,4%). Houve revisão também no resultado de novembro ante novembro de 2007, de -6,2% para -6,4%.
Reflexos
Os números da produção industrial levaram a economista da Mauá Investimentos Cassiana Fernandez revisar as projeções de queda do PIB no quarto trimestre de 2008, de -1,8% para cerca de -2,0%. O indicador será conhecido no dia 10 de março, véspera da próxima decisão do Copom sobre a Selic. “Está ocorrendo um choque de demanda e isso é realmente algo sem precedentes, é algo que assusta”, avaliou.
Cassiana destacou que a drástica queda da produção industrial em dezembro de 2008, de 12,4% na comparação com novembro e de 14,5% ante o mesmo mês de 2007, está claramente associada à crise econômica internacional. “A crise pegou o Brasil no pico de seu crescimento, que foi o terceiro trimestre”, comentou.
A queda da atividade em 25 dos 27 ramos da indústria nacional analisados pelo IBGE é um fato preocupante, pois evidencia que já não se trata de uma manifestação isolada de excesso de produção instalada ou superprodução relativa no ramo automobilístico, no sub-setor de bens duráveis ou nas atividades dependentes do comportamento do comércio exterior. Os dados do final do ano passado lançam uma sombra de pessimismo sobre as perspectivas da produção e do emprego ao longo de 2009.