Umberto Martins: a retomada do crescimento em xeque
As estatísticas divulgadas pelo IBGE na terça-feira (3) sobre o comportamento da indústria nacional no último trimestre do ano passado surpreenderam os analistas pela dimensão da queda das atividades (-12,4%) e o alargamento do conjunto dos ramos que e
Publicado 04/02/2009 17:49
Os ramos da produção estão interligados e, conforme podemos deduzir das estatísticas divulgadas pelo IBGE, a queda em um setor da economia afeta os demais, de modo que a superprodução e a recessão localizada não tarda a se alastrar por toda a economia quando o ciclo capitalista se inverte.
O sinal negativo nas decisões de investimento dos empresários (quando se deixa de comprar e produzir meios de produção, especialmente máquinas e equipamentos, para expandir ou renovar as empresas) preocupa mais pelo fato de que compromete não só o desempenho presente da economia, mas também o seu futuro.
Sombras sobre o futuro
Os investimentos constituem a principal força motriz do desenvolvimento econômico. A taxa de crescimento do PIB (assim como a oferta de emprego) no setor privado é diretamente proporcional à taxa de investimentos (uma vez dada a jornada de trabalho), muito embora esta relação seja decrescente ao longo da história em virtude do adensamento do que Marx chamou de composição orgânica do capital (proporção em que os investimentos capitalistas se repartem entre capital fixo — meios de produção — e capital variável — força de trabalho). Quanto maior a taxa de investimentos, mais vigoroso é o desenvolvimento econômico.
Quando os investimentos declinam sinalizam redução do crescimento do PIB no futuro, o que pode comprometer a retomada do crescimento e nos condenar novamente à lógica do “vôo de galinha”. O comportamento geral dos investimentos e da economia, porém, não dependem somente da iniciativa privada.
Papel do Estado
A conduta do setor público pode ter um papel determinante na defesa da economia nacional, especialmente se houver uma mudança corajosa na política econômica no sentido de viabilizar uma significativa expansão dos investimentos públicos. Isto não será fácil numa conjuntura de crise que implicará em redução da arrecadação tributária e do orçamento governamental.
Nesta conjuntura, impõe-se uma reversão da política fiscal, o fim do superávit fiscal primário, conforme reivindicam as centrais sindicais, e mesmo o recurso ao déficit público, a exemplo do que fazem neste momento as potências capitalistas (EUA, Japão e Europa). Ainda assim, não se pode afirmar que o país evitará o aprofundamento da crise, mas o Estado terá feito a sua parte e o Brasil sofrerá menos.
Pessimismo em alta
Conforme o IBGE, as últimas estatísticas evidenciam o aprofundamento do ritmo de declínio da produção industrial e um alargamento do conjunto de segmentos com taxas negativas. Entre os 755 produtos investigados, 70% apresentaram recuo na produção, nível recorde na série histórica desse indicador.
Os estados do Espírito Santo (-17,2%), Minas Gerais (-13,4%), Rio Grande do Sul (-7,2%) e Amazonas (-7,8%) tiveram quedas acima da média nacional (-5,2%). Na comparação com novembro de 2007, houve quedas em 12 dos 14 locais pesquisados. Nessa comparação, Paraná (5,7%) e Pará (4,0%) foram os únicos a registrar crescimento na indústria.
São Paulo, que tem o maior peso na indústria nacional, teve melhor desempenho que a média nacional em novembro (-3,2%). Segundo o IBGE, uma queda generalizada como esta não ocorria desde novembro de 1991, quando os onze locais investigados registraram taxas negativas. No último trimestre a indústria interrompeu uma sequência de 20 trimestres de expansão.
O comportamento da economia no final do ano passado projeta um pessimismo maior sobre 2009 do que o que estava contido nas previsões correntes semanas atrás. A idéia de que o país ainda pode crescer 4% até o final do ano tornou-se por demais irrealista e a hipótese de uma recessão geral ganha força, principalmente se adicionarmos aos problemas em curso na indústria o desempenho negativo da agricultura, fortemente afetada pela queda dos preços das commodities.
* Umberto Martins é jornalista e editor do Portal CTB
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