Sem categoria

Berlinale: um festival com a cara do Fórum Social Mundial

Berlim parece ter tomado um sal-de-frutas: a cidade efervesce, há algo no ar além do frio de carreira. É que desde ontem (5), começou a Berlinale, o Festival Internacional de Cinema de Berlim. São 200 filmes do mundo inteiro, mostrados a um público ávi

Berlim navega na contra-corrente de uma tendência mundial, que é a diminuição das casas de cinema. No Brasil, vimos cinemas tradicionalíssimos virarem bingos, igrejas evangélicas ou estacionamentos, depois da demolição. Outros, como o Cine Theatro Capitólio, da Porto Alegre da minha infância/adolescência, estão na fila de espera de algum atendimento oficial que os recupere de vez.


 


Uma das razões dessa manutenção do espírito do cinema na cidade é a Berlinale, que está na sua 59ª edição. Criado logo após o fim da Segunda Guerra, na Berlim ainda devastada física e moralmente, a Berlinale, assim como outros eventos artísticos, como a Documenta (uma das maiores exposições de arte da Europa, também comentada na Carta Maior), se destinava a manter viva a chama de um espírito de abertura depois dos anos de fechamento do período nazista.


 


Mas uma das grandes percepções que fizeram da Berlinale o que ela é hoje, um dos maiores festivais de cinema do mundo, guarda semelhança com as melhores percepções do Fórum Social Mundial, que a Carta Maior acabou de cobrir espetacularmente, desde Belém, no portal da Amazônia. É a percepção de que a Berlinale, além de um evento pontual, é um processo, e que se dirige para o futuro.


 


É claro que na Berlinale, como em todos os festivais, há o frenesi em torno das estrelas que ali acorrem, dos diretores que dão entrevistas mais ou menos espetaculares, e das premiações polêmicas, como a de Tropa de Elite, de José Padilha, no ano passado (2008), edição também fartamente coberta pela Carta Maior (que, aliás, cobre a Berlinale desde 2006).


 


Mas além disso, há na totalidade do evento uma preocupação extremada com os jovens cineastas e, sobretudo, com o jovem público, com seções do festival desdicadas especificamente para ambos os segmentos. No que toca aos jovens cineastas, não há apenas uma mostra a eles aberta, mas seminários, feitos por renomados cineastas, a eles dirigidos.


 


E quanto ao público, há duas seções do festival dedicadas aos jovens, uma ao público infantil, outra ao adolescente, sendo que essa última é acompanhada por candidatos a futuros jornalistas que escrevem sobre os filmes e suas impressões. Uma carta para o futuro, sem dúvida nenhuma. Organizadores de festivais no mundo inteiro deveriam s preocupar em aprender pelo menos com esta face da Berlinale.


 


No ano passado, como já disse, o Brasil levou o Globo de Ouro com o polêmico Tropa de Elite, de José Padilha. Outros três filmes brasileiros foram premiados. Neste ano o Brasil está representado na série Panorama, fora do concurso pelos Globos de Ouro e Prata, pelos filmes Garapa, documentário do mesmo Padilha sobre a fome, e por Vingança, de Paulo Pons, filme de ficção sobre os acontecimentos deflagrados por um estupro em cidade pequena do sul do Brasil. Além disso, há a presença de brasileiros no Talent Campus, iniciativa dos debates e seminários dirigidos aos jovens cineastas do mundo inteiro.


 


No concurso internacional as esperanças latino-americanas estão em Gigante, do argentino radicado em Montevidéu Adrian Biniez, numa co-produção argentina/uruguaia/alemã/holandesa, e com La Teta Asustada, da peruana Clauda Llosa, numa co-produção peruana/espanhola. Falaremos deles mais tarde.


 


Daqui por diante Carta Maior terá um comentário a cada dia sobre a Berlinale. Com o adendo que desta vez será este correspondente da Carta Maior que mediará o debate entre jornalistas e os cineastas brasileiros presentes à Berlinale que tradicionalmente se realiza na Embaixada do Brasil. Desta vez será no dia 12 de fevereiro, às 17 horas.