Empresas culpam crise, mas demitem para manter lucro
A crise mundial faz com que os trabalhadores tenham receio de perder seus empregos — o que gera uma queda no consumo. Os bancos também recuaram em relação ao crédito porque aumentou a inadimplência. Assim, o Brasil vive um ciclo vicioso que tem impacto
Publicado 06/02/2009 09:37
A análise é do doutor em economia das relações internacionais José Nicolau Pompeo, professor da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) e do departamento de economia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica).
O professor critica o acordo sugerido pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e a Força Sindical, que propôs a redução da jornada de trabalho e salários nas empresas. “Vai contribuir ainda mais para o desabamento do consumo. Esta proposta vai provocar uma queda muito maior nas vendas com o aumento da inadimplência e do desemprego”, afirma.
Pompeo diz não acreditar que os ganhos que as empresas no Brasil obtiveram até outubro do ano passado tenham sido comprometidos pelos dois meses seguintes atingidos pela crise mundial. Segundo ele, a remessa de lucros em 2007 foi de US$ 21 bilhões e, em 2008, US$ 34 bilhões. Ou seja, 62% a mais.
“Nós não podemos dizer que as empresas não tiveram lucro no ano de 2008, principalmente as montadoras. Até o mês de outubro tiveram lucros excessivos. O que elas fizeram com o lucro? Remeteram para fora”, explica.
O cientista político declara que existe uma crise realmente e que a produção está diminuindo, mas as empresas estão demitindo para manter sua taxa de lucro. “Quem está pagando a crise é quem não fez a crise — o trabalhador, que paga com o desemprego e a redução de salário”, comenta.
Pompeo estende seu comentário à cobrança das empresas pela redução da taxa básica de juros (Selic). Para o professor, se a taxa de juros cair, não significa que os empregos sejam preservados — mas, sim, que as empresas vão lucrar ainda mais.
Da Redação, com informações da Folha Online