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Futebol: Guarani e Ponte sobrevivem graças a rivalidade

Como acontece desde 1911, o dérbi do próximo domingo, 8 de fevereiro, deve mobilizar a cidade de Campinas em uma partida que, para a maioria dos torcedores, vale mais que o próprio campeonato em disputa. Aliás, segundo historiadores de Guarani e Ponte

Torcedor da Ponte Preta e membro de uma família que há 90 anos milita no clube, o historiador José Moraes de Santos Neto explica que ambos os clubes surgiram em praças operárias. O alvinegro levou o nome do bairro, Ponte Preta, enquanto o Bugre surgiu no vizinho Vila Industrial.



A história conta que quando os clubes do interior de São Paulo começaram a se profissionalizar, na década de 40 (na capital esse processo aconteceu nos anos 30), havia outras equipes em Campinas com mais potencial de terem prosperado no futebol, mas a disputa entre Guarani e Ponte Preta foi o diferencial.



“Os dois clubes, por terem construído uma rivalidade na década de 10 que se consolidou nos anos 20, funcionavam como espelho um do outro. Um não queria ficar atrás do outro e o dérbi funcionava como um elemento de avanço para esses clubes que se renovavam e se fortaleciam na preparação para a partida”, explica Neto, que desde os 3 anos de idade freqüenta partidas da Ponte Preta no Moisés Lucarelli e já escreveu um livro sobre a história do clube.



Outro responsável pela documentação deste que é um dos confrontos mais tradicionais do futebol brasileiro é o professor José Ricardo Mariolani. Quase sem querer, este funcionário da Unicamp acabou reunindo inúmeras informações sobre o dérbi campineiro. Tudo começou aos 16 anos de idade, quando ele começou a anotar as fichas técnicas de todas as partidas do Guarani.



“Eu anotava as fichas técnicas para depois saber quem marcou mais gols, quais jogadores foram expulsos etc. Não imaginava que essas anotações iriam servir como registro histórico para o clube mais tarde”, explica Mariolani, que foi levado pelo avô para ver seu primeiro clássico em 1969, aos 9 anos de idade, um empate em 2 a 2.



Mariolani revela que o levantamento histórico dos jogos entre Guarani e Ponte Preta que hoje é usado pela imprensa de todo o país foi realizado por outro clube campineiro, o Panathlon Clube de Campinas, em razão da grande divergência entre os torcedores sobre qual time tinha o maior número de vitórias. “Até hoje, ninguém sabe quem venceu o primeiro confronto. Os jornais da época apenas apresentaram a partida, mas nenhum deles publicou o resultado”, explica.



O levantamento das partidas aponta 182 confrontos entre os dois clubes campineiros e um equilíbrio parece ser a marca do dérbi. Ao todo foram 63 vitórias para o Guarani e 58 para a Ponte Preta, sendo outros 60 empates. No tabu mais recente, a vantagem é da Macaca, que não pede do Guarani desde 14 de junho de 2003, quando caiu diante do rival no Campeonato Brasileiro. De lá para cá foram seis jogos, com três vitórias da Ponte Preta e três empates.



As últimas décadas, porém, não têm sido generosas com os principais clubes de Campinas. Os dois times viveram grandes momentos de sua história entre as décadas de 70 e 80, mas os anos 90 foram mais modestos e a última década cruel, em especial com o clube da Vila Industrial.



O Guarani, que já venceu o Campeonato Brasileiro em 1978 e foi vice em outras duas oportunidades (1986 e 1987), passou pelo pior momento de sua história em 2006, quando caiu para a série C do nacional e para a segunda divisão do Paulista. Os últimos anos têm sido de recuperação para o Bugre, que em 2007 retornou à elite do estadual, e no ano passado, alcançou o acesso à série B do Brasileirão.



Como acostuma acontecer entre rivais, a Ponte Preta também viveu um período de glória no entre os anos 70 e 80, impulsionado especialmente pelo maior ídolo do clube, Dicá. Em 2006, entretanto, a Macaca caiu para a série B do nacional e até hoje ainda não conseguiu retornar à elite. Para os torcedores alvinegros, o vice-campeonato Paulista no ano passado é visto como um indicativo de que os bons tempos podem estar voltando.



Sobre o futebol atual, Mariolani vê com bons olhos o renascimento do Bugre e apela novamente à história para justificar a chegada do craque Amoroso. “Eu me lembro que em 1978 o Guarani havia trazido o Zé Carlos do Cruzeiro para ser o líder da equipe em campo e ele era um jogador de uns 34 anos, assim com o Amoroso. E isso em uma época em que o preparo físico não era tão apurado como é hoje”, lembra o historiador, que inclusive escreveu um livro sobre a conquista nacional.


Ricos quando falam na história de seus clubes, os dois historiadores são bem mais modestos na hora de dar seus palpites para o próximo dérbi. Cada um dos especialistas apostou em um magro 1 a 0 a favor de seus clubes. O próximo capítulo da história será escrito no próximo domingo, às 19h10, no estádio Brinco de Ouro.