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Instituições nos EUA: racismo puro e duro à mostra

Três importantes instituições americanas contrárias à imigração compartilham uma origem racista, concluiu a organização Southern Poverty Law Center (SPLC) após analisar os documentos pessoais do fundador de todas elas, John Tanton. “Trata-se das organi

O nativismo, ideologia surgida no século 20 em resposta à imigração católica desde Irlanda e Itália, se dedicou, por influência de Tanton, a rechaçar uma suposta “avalanche latina” sobre este país, e inclusive a alertar sobre planos secretos para fundi-lo com Canadá e México. A Federação para uma Reforma da Imigração nos Estados Unidos (Fair), o Centro de Estudos sobre Imigração (CIS) e a NumbersUSA asseguram que não são racistas. Além disso, negam ter vínculos estreitos entre si. Mas a pesquisa do SPLC revela seu parentesco, muito próximo, tanto institucional quanto ideológico.



As três organizações foram fundadas por Tanton. O SPLC descobriu seus documentos pessoais na Biblioteca Histórica Bentley, da Universidade de Michigan, no Estado onde nasceu este oftalmologias, aposentado. Os documentos, entre eles cartas, memorandos e diários, deixam claro idéias racistas. Segundo Tanto, a imigração é o principal campo de batalha de uma “guerra das raças” em curso. Em seus diários, deixa clara sua intenção de fundar organizações separadas e aparentemente independentes para atacar os imigrantes por diversos ângulos, com o objetivo final de “branquear” a nação.



“Há décadas, Tanton está no centro do movimento nacionalista branco”, disse Potok. “Ele considera que a imigração de populações não-brancas, e inclusive sua reprodução, constituem uma ameaça para os Estados Unidos”. O SPLC descobriu a amistosa correspondência que Tanton manteve com destacados supremacistas brancos, e escritos que colocam em dúvida se as pessoas de origem latino-americana são “educáveis”. Inclusive, questionou publicamente as autoridades de Michigan por não legalizarem a esterilização forçada. O vínculo entre as três organizações é ainda mais significativo se for considerada a influência que têm na política migratória dos Estados Unidos.



Essas instituições “costumam enviar pessoas para deporem no Congresso e se atribuem grandes êxitos políticos, como deter o projeto de lei sobre imigração de 2007”, disse na semana passada Frank Sharry, diretor-executivo da organização America’s Voice, em declaração conjunta com o SPLC.  Inclusive, membros da Fair escreveram para publicações racistas, incluída a de Tanton, “The social Contract”.



O CIS foi criado em 1986, um ano depois de Tanton ter manifestado, nos escritos recém-descobertos, sua intenção de que uma nova instituição aparentemente independente da Fair apoiasse suas posições. Assim, não surpreende que suas pesquisas, muitas delas falsas, concluíssem que a imigração tinha consequências negativas. NumbersUSA defende com fervor sua independência e inclusive se declara totalmente contrária ao racismo, mas foi fundada por Tanton e seu diretor-executivo Roy Beck, trabalhou para ele como jornalista.



Beck dirigiu a revista de Tanton e trabalhou em seu editorial The Social Contract Press, que publicou livros como “O acampamento dos santos”, de Jean Raspail, “uma novela racista e mórbida que descreve a invasão de um mundo ocidental branco por uma frota de refugiados morenos e mortos de fome”, segundo a SPLC. Além disso, o jornalista colaborou com o livro de Tanton, “Invasão da imigração”, proibido no Canadá por promover o ódio racial. Segundo seus próprios escritos, para fundar sua rede de organizações Tanton se inspirou na Coalizão de Sociedades Patrióticas dos Estados Unidos, promotora da Lei de Imigração de 1924, que estabeleceu critérios racistas e proibiu que pessoas asiáticas se radicassem no país.



O líder e fundador dessa entidade, John Trevor, trabalhou em inteligência militar durante a Primeira Guerra Mundial e propôs enviar tropas para os bairros judeus de Nova York para “sufocar os subversivos”. Foi acusado de sedição em 1942 devido às suas “posturas pró-nazistas”. Os documentos que o SPLC teve em mãos para sua pesquisa estavam em caixas da biblioteca pública da Universidade de Michigan, colocadas de um modo como se Tanton quisesse que fossem encontradas.



“Tive toda a intenção de criar um arquivo público de seus documentos”, disse à IPS Heidi Beirich, co-autora do informe final. “Cada memorando, cada carta, tudo o que escreveu está aí. Acredita pertencer à historia. Há algo de ego nisso”. Ao que parece, Tanton quis que seus textos estivessem na biblioteca junto com os de Trevor, seu inspirador. “É importante que republicanos e democratas saibam que são os atores do debate sobre imigração, porque o que está em jogo aqui é muito mais do que uma questão política comum e corrente”, insistiu Sharry.



O ambiente surgido das campanhas de Fair, CIS e NumbersUSA é perigoso. Os crimes de ódio contra pessoas de origem latino-americana aumentaram 40% entre 2002 e 2007, segundo o Escritório Federal de Investigações (FBI). Além disso, a quantidade de organizações racistas aumentou 50% desde 2000, alertou o SPLC, instituição que funciona como banca de advogados sem fins lucrativos dedicados aos direitos civis a partir de sua sede em Montgomery, no Estado do Alabama.



Fundado em 1971 pelos advogados Morris Dees e Joe Levin, o Centro dedica-se a casos de discriminação e se ufana da grande quantidade de vitórias legais frente a instituições racistas, as quais rastreia e identifica em seu boletim trimestral, The Intelligence Report. Também realiza um programa educativo para professores chamado “Como ensinar tolerância”.