Messias Pontes – Hegemonismo petista faz mal à saúde

O carnaval terminou ontem, mas é agora que o PT bota o seu bloco na rua, ou melhor, no Congresso Nacional na tentativa de impor o seu hegemonismo no campo da esquerda, objetivando consolidar uma hipócrita polarização com a direita representada pelo PSDB.

Depois de propiciar a exumação e o retorno do famigerado “Centrão” ao Congresso Nacional com a eleição da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados para eleger o peemedebista Michel Temer presidente da Casa, a maioria petista quer não só impedir que um comunista assuma a presidência da Câmara, mas simplesmente eliminar da vida política o Partido Comunista do Brasil e outros partidos menores.



O País necessita urgentemente de reformas estruturais como a tributária, a agrária e urbana, a democratização dos meios de comunicação e a política, esta que já tem perto de uma centena de projetos de lei tramitando na Câmara dos Deputados. No entanto o projeto de reforma política que o ministro da Justiça Tarso Genro entregou pessoalmente no Congresso é casuístico, inconstitucional e, portanto, antidemocrático.



Extinguir as coligações proporcionais, como querem os petistas, é simplesmente decretar o fim de vários partidos políticos. A implantação da cláusula de barreira, que a direita tucano-pefelista tentou mas não conseguiu, agora é defendida pelos petistas, e a proposta também foi entregue por Tarso Genro. A proposta enviada pelo Executivo visa desestimular que blocos, como o de esquerda formado pelo PSB, PDT, PMN e PCdoB, lancem candidato próprio a presidente da República. Querem que esses partidos continuem a reboque do PT.



No bojo da proposta que é extremamente contraditória, posto que permite a coligação majoritária, um outro casuísmo é embutido objetivando também dificultar que partidos considerados pequenos e médios possam disputar em igualdade de condições eleições majoritárias. Simplesmente impede o somatório do tempo de rádio e televisão que cada partido tem direito, determinando que o tempo é somente o do que tiver o maior número de deputados federais.



O argumento para extinguir os partidos menores não se sustenta, dada a sua fragilidade e inconsistência. Dizer que isso favorece a governabilidade é cretinice. O que dificulta a governabilidade é a falta de ética de setores petista e do governo; é a falta de coragem para destucanizar alguns órgãos governamentais, principalmente o Banco Central; é a falta de coragem para enfrentar a grande mídia conservadora, venal e golpista; é a falta de coragem para enfrentar a ganância dos banqueiros que abusam da cobrança de tarifas e serviços; é a falta de coragem para implantar a reforma agrária.



O PT sempre deixou de lado os seus mais leais e sinceros aliados. Há dois anos vendeu a alma ao diabo para impedir que o comunista Aldo Rebelo continuasse na presidência da Câmara como queria, ou pelo menos dizia querer o presidente Lula.  Arlindo Chinaglia fez acordo com o PMDB garantindo que não se candidataria à reeleição em 2009 e apoiaria a candidatura do deputado Michel Temer, tido e havido como o representante maior do tucanato no seu partido. Aí juntou-se com o que há de mais retrógrado na política brasileira e assim possibilitou o retorno do “Centrão” que tanto mal causou à nação durante a ditadura militar e a Assembléia Nacional Constituinte.



O PT, o presidente Lula e seu governo hoje são reféns do PMDB. É de todos conhecido o insaciável apetite peemedebista por cargos. Atualmente detém seis ministérios e considerável número de estatais com orçamentos bilionários. Com o comando das duas Casas do Congresso, o PMDB vai exigir mais cargos.



Ao entregar a presidência da Câmara ao PMDB quando este já garantira a do Senado, o PT deu um tiro no pé. E pode pagar caríssimo por isto. Michel Temer já enfatizou que não assumiu nenhum compromisso para apoiar uma candidatura petista à sucessão do presidente Lula. Pelo contrário, declarou que votaria em Aécio Neves se este fosse candidato a presidente da República, seja por qual partido for. O senador José Sarney, presidente do Senado, igualmente declarou voto ao atual governador mineiro se este for candidato a presidente da República em 2010.



O PMDB paulista já está comprometido com a candidatura do tucano José Serra seja qual for o resultado da convenção nacional do partido. Em troca terá o apoio do tucanato à candidatura do ex-governador Orestes Quércia a uma das duas vagas em disputa para o Senado. Na hipótese de o PMDB vir a indicar o candidato a vice na chapa a ser encabeçada pela ministra Dilma Rousseff, o nome do baiano Geddel Vieira Lima, ferrenho opositor de Lula no primeiro governo e atual ministro da Integração Nacional, é o mais provável.



Até as pedras de Cococi sabem que Geddel tem um passado político nada recomendável. Se seu nome não emplacar como companheiro de chapa de Dilma Rousseff, ele irá disputar o governo da Bahia e vai exigir o apoio ou pelo menos a isenção do presidente Lula. Com o fim do carlismo, Geddel quer ser a principal liderança política baiana.  Ele “elegeu” o maior número de prefeitos no estado, e por isso mesmo vai cobrar alto.



É importante lembrar que, se em 1982 prevalecessem as regras que agora quer implantar, o PT não teria sobrevivido àquelas eleições. Vale lembrar também que foi Aldo Rebelo, eleito presidente da Câmara depois da renúncia do deputado Severino Cavalcanti,  quem garantiu a governabilidade no auge da crise do “mensalão”, quando a direita tucano-pefelista, respaldada pela mídia conservadora, venal e golpista, pediu o impeatchman do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.  Rebelo simplesmente arquivou o requerimento argumentando não haver motivo para o impedimento do Presidente.



Não é só a leitura do noticiário da grande mídia conservadora, venal e golpista que faz mal aos rins, como declarou recentemente o presidente Lula. O hegemonismo petista também faz muito mal à saúde.



 


Messias Pontes é jornalista e colaborador do Vermelho/CE