PCdoB-RN debate ampliação e projeto eleitoral em reunião do Comitê Estadual
O Comitê Estadual do PCdoB no Rio Grande do Norte realizou neste sábado, 28, uma reunião ampliada no Hotel Monza, em Natal. Na pauta, a atualização da análise da conjuntura internacional e nacional, além da discussão do projeto eleitoral de 2010 e açõe
Publicado 28/02/2009 16:53 | Editado 04/03/2020 17:08
Composta a mesa com André Bezerra, membro do Comitê Central; Antenor Roberto e Canindé de França, presidente e vice-presidente do PCdoB-RN, respectivamente; Fafá Viana, presidente do partido em Natal, e Divanilton Pereira, também do Comitê Central, os trabalhos foram iniciados pelo secretário estadual de Organização, Carlos Albérico.
Segundo Antenor Roberto, uma das questões centrais que se colocam para o partido é o estabelecimento de uma tática eleitoral, já que o PCdoB é um partido com experiência acumulada, viveu várias etapas da história política brasileira e sabe que o centro da luta no Brasil tem tido sua dinâmica no processo eleitoral.
Atuação e visibilidade
‘A experiência mostra que um partido como o nosso tem de iniciar cedo sua discussão de projeto eleitoral. No RN tivemos expansão política importante, tornando-nos referência em importantes cidades e retomando nossa cadeira no Legislativo de Natal. Terminamos o ano com vitórias e boas perspectivas políticas. Mas não podemos nos esquecer de nossos três eixos de atuação: a luta das idéias, os movimentos sociais e a presença institucional. Agora, não somos mais partido que dirige sindicatos somente, mas que administra, participa do poder público, temos outra visibilidade’, analisou o dirigente.
Sob esse aspecto, os comunistas avaliam que é necessário ampliar o partido, fazendo com que as pessoas conheçam seu programa e seus propósitos. Assim, haverá maior possibilidade de atrair boas candidaturas. ‘O PCdoB tem legado e reconhecimento público, mas ainda apresenta deficiência na sua representatividade no Legislativo e Executivo. Temos de mostrar às pessoas que somos uma organização contemporânea, moderna, temos um programa e uma história que honram qualquer um’, garantiu Antenor.
‘É necessário sinalizar à sociedade que é bem-vindo qualquer político com histórico probo, honrado, que tenha a perspectiva socialista, queira desenvolvimento e governo atuante, que queira combater a crise sob a perspectiva da defesa dos trabalhadores. Temos várias lideranças para convidar, alargar, ampliar, num processo de construção coletiva. Assim, criaremos possibilidades de fazer o PCdoB crescer com ousadia’, finalizou o dirigente.
Resultado eleitoral expressivo
O dirigente nacional do PCdoB André Bezerra, designado pelo Comitê Central para acompanhar a reunião no RN, fez inicialmente uma análise do desempenho eleitoral, afirmando que os resultados mostram que o partido tem boas perspectivas, mas que ainda há um grande caminho a percorrer.
É boa, porém a legenda eleitoral da organização, que também é focada nos movimentos sociais, militância, participação, atuação e mobilização da sociedade. ‘É daí que temos tirado e vamos continuar tirando nossas lideranças, mas não só: na área da luta de idéias, setores acadêmicos, intelectualidade’, disse o dirigente.
Segundo Bezerra, o processo de acumulação de forças tem-se mostrado correto, pois em 2008 a organização comunista foi colocada em outro patamar, com um resultado expressivo: 608 vereadores, 41 prefeitos e 66 vices, além das candidaturas nas capitais, que tiveram grande repercussão e fizeram diferença no conteúdo do que se pautou e debateu na sociedade.
A avaliação é de que hoje o PCdoB tem presença política importante e isso se reflete na construção do partido em cada município. ‘É momento agora de analisar como ampliaremos ainda mais. O ambiente internacional e nacional é muito favorável, pois o debate sobre a crise nos coloca numa certa singularidade’, disse André.
Entender o caráter da crise
A crise mundial alcançou seu ponto culminante em setembro de 2008 e veio se espraiando pelos EUA e Europa, Ásia, é um processo que vem a passos largos,não é qualquer tensão, é crise sistêmica, talvez mais profunda do que a de 29, pois se coloca em cheque o próprio capitalismo e seu padrão de desenvolvimento atual, o neoliberalismo, avaliou o dirigente.
‘É uma economia que não tem fronteira nem regulação, foi o que grassou nesses últimos anos: ganhar dinheiro com dinheiro, sem correr riscos de investir na produção. Isso foi colocado em cheque agora, viu-se que tem de haver regulação do Estado, hoje o país mais estatista são os EUA, as grandes empresas não funcionam mais sem a intervenção do Estado’, afirmou.
Nessa perspectiva, os comunistas têm a tarefa de entender a nova conjuntura e suas repercussões, travando o debate com o povo, com os trabalhadores e as lideranças e mostrando que é preciso dar um passo a mais no processo. Segundo André Bezerra, não há saída dentro do capitalismo, pois a crise vai ser colocada no ombro dos trabalhadores.
Enfrentamento da crise com perspectiva socialista
‘O capital financeiro ganhou o tempo todo nessa ciranda e na primeira dificuldade quer demitir, ou seja, os trabalhadores é que têm de ser penalizados, com legislação flexibilizada, acordos perniciosos. Isso é a luta de classes, que mostra de que lado nós temos de estar, na defesa da renda do trabalho.
É preciso organizar a sociedade, porque a crise começou agora vem pesada, ninguém está vendo o fundo do poço ainda, ninguém sabe onde vai parar. Por isso, é o momento político propício no sentido do debate na sociedade. Temos de nos diferenciar de outras forças sociais que defendem medidas paliativas, que na essência não resolvem o problema. É necessário lutar para defender salário e evitar retração econômica, mas é preciso mais: uma sociedade avançando para ao socialismo, dar o rumo do socialismo.’
Para o dirigente, o segundo aspecto propício às ideias do PCdoB é o governo federal, que iniciou um novo ciclo político no país, caracterizando-se como instrumento de crescimento na sociedade. Houve distribuição de renda, acerto na política externa, aceleração do desenvolvimento, aprofundamento dos programas sociais e o surgimento de uma dualidade na política econômica, fortalecendo as correntes desenvolvimentistas.
Escolher o lado dos trabalhadores
A crise impõe ao governo uma nova situação,o Brasil tem hoje melhores condições, não foi atingido de imediato, mas começa a ser impactado com a recessão mundial. Com a retração internacional, não há como o Brasil vender, não há comércio externo, e também criam-se dificuldades internas. Se a realidade é essa, faz-se necessário tomar novas atitudes, já que a situação põe em cheque a globalização financeira.
‘O governo precisa começar a tomar um lado pra enfrentar a crise, porque a oligarquia financeira é feroz, onde está sendo feito mais investimento? Nos bancos, que estão levando muito dinheiro, não é turma fraca, isso vem em detrimento dos setores produtivos do país, precisamos fazer com que o pacto de antes seja repensado, visando à construção de um novo pacto político do país, que junte trabalhadores, setores democráticos, camadas médias, setores produtivos, para defesa da renda, para passar essa crise, confrontando com os setores da oligarquia financeira’, disse André Bezerra.
‘Estamos nessa encruzilhada política: ou se investe mais no desenvolvimento ou enfrenta o risco de retração. O governo tem tomado medidas, mas isso precisa ser acelerado. Precisamos superar a política de desregulamentação financeira, baixar juros, ainda não se tocou nos juros, lutamos por diminuição efetiva – nos próximos seis meses deveria baixar para dígito, isso teria impacto imediato.’
De Natal, Ana Claudia Salomão