Ave Patativa – Vida e obra do poeta popular retratadas no Cinema

Finalmente, depois de quase dois anos desde a sua aplaudidíssima exibição no Cine Ceará, “Patativa do Assaré – Ave Poesia”, o documentário de Rosemberg Cariry sobre a vida e a obra do poeta do sertão, entra em cartaz nos cinemas da cidade.

Toda essa movimentação em torno da pré-estréia servirá de chamariz para o lançamento do filme em circuito comercial, o que ocorre a partir da próxima quinta-feira, quando ocupará a programação do Cinema de Arte, no Multiplex UCI Ribeiro, e uma das salas do Espaço Unibanco Dragão do Mar.


 


O cineasta participou, do pré-lançamento de seu filme em Recife, também através do Cinema de Arte. Exibido no Multiplex Tacaruna, o diretor, após a sessão, conversou com o público e concedeu entrevista à imprensa. ´Patativa´ entra em cartaz na sexta-feira no Multiplex Boa Vista.


 


A saga do cineasta em conversar com o público após as exibições de seu filme continuará neste sábado, no Multiplex UCI Ribeiro. Após a sessão de 10h45, Rosemberg participa do tradicional “debate do Cinema de Arte”, quando durante uma hora e meia estará à disposição dos espectadores. Ao seu lado, o violeiro Miceno do Assará tocando e interpretando a poesia de Patativa. Um programa muito especial.


 


Inclusão na História


 


“Patativa do Assaré – Ave Poesia”, diga-se, é o melhor trabalho no longa-metragem de Rosemberg Cariry, detentor de uma filmografia relevantemente expressiva e culturalmente rica entre documentários e obras de ficção – todas intrinsecamente ligadas à realidade nordestina. Patativa expressa a maturidade de Rosemberg num processo de constante evolução. Nesse contexto, confecciona uma pequena obra-prima na qual reluz o seu notável conhecimento da obra e do pensamento do saudoso poeta. Rosemberg, via filme, tem a lucidez de colocar Patativa no lugar onde ninguém ousou antes colocá-lo: na História do País.


 


Este é o maior aspecto do filme. E se o Brasil não sabia de Patativa do Assaré, Rosemberg o apresenta em sua grandiosidade. O cineasta o introduz na História com a mesma humilde que caracteriza o poeta do sertão. Nesse tocante, o filme se apresenta como obra de apresentação do poeta, num ato de reconhecimento e justiça.


 


Quem já tinha visto Patativa do Assaré como personagem da História do Brasil? Pois Antônio Gonçalves da Silva, esse completo desconhecido, deixou um legado sob a alcunha de Patativa do Assaré. O filme de Rosemberg cumpre a missão de apresentar esse homem para os conterrâneos e o próprio País como um criador da arte através do verso, e cuja poesia, de tão linda, se assemelha a de um pássaro – Patativa.


 


Nascido no início do século passado de uma humilde família de Assaré e que vivia da cultura de subsistência, Antônio teve a infelicidade de perder um olho por causa de uma doença. E mesmo tendo estudado apenas alguns meses, aprendeu o suficiente para transportar para os versos a realidade do sertão em todas as suas tonalidades e vertentes. Cariry, com “Patativa do Assaré – Ave Poesia”, faz lembrar a todos que Patativa não era apenas um poeta, um homem iletrado do sertão com o dom da fala, mas o homem que construía o processo de consciência política através de seus versos, conversas, discursos e subidas aos palanques. Está lá o Patativa poeta-político da resistência à ditadura militar, de participação em manifestações infantis, camponesas, sindicais, no palanque pelas Diretas Já, entre ouitros momentos da história do país.


 


Patativa sabia que ninguém nasce predestinado à miséria e ao abandono. Nunca se deixou levar pela falácia de que as coisas são porque são. Basta observarem os versos de “Nordestino sim, nordestinado não”. Versos que levaram o homem sertanejo à reflexão e deram a devida dimensão política do filósofo sertanejo que, mais tarde, se diria socialista e se negaria comunista.


 


Rosemberg surpreende com a riqueza das imagens documentais, resgatando uma inconografia até então tida como perdida. Muitas imagens da ditadura militar. Ditadura que o poeta, mesmo morando em Assaré, registrou criticamente. Entre as fotos, a inauguração da primeira estátua de Iracema, na avenida Beira Mar, em 1965, por Castelo Branco. Há, ainda, registros dos ditadores militares na Amazônia, a Transamazônia e o primeiro “transamazônico”, os documentários e peças publicitárias de ações do governo exibidas nos cinemas e na emissoras de televisão com obrigatoriedade, entre outros, ganham relevância na reconstituição no período mais crucial vivido pelo País no século passado.


 


Acervo da história


 


O rico acervo utilizado por Rosemberg, especialmente as imagens de Patativa em super-8, película e vídeo, diga-se, nem sempre é de boa qualidade, mas entende-se o seu aproveitamento como documentos únicos. No contexto, enriquecem o filme, servindo para expor o poeta em seu cotidiano e simplicidade, na roça, em casa, na companhia da mulher, na atividade de criação.


 


Rosemberg realiza, com “Patativa do Assaré – Ave Poesia”, o seu grande trabalho. Além de resgatar o homem e o poeta alça-o à condição de personagem histórico. No entanto, a maior contribuição deste filme notável será o de despertar o interesse de cearenses e brasileiros a conhecerem as varias facetas de Patativa. Rosemberg faz brotar, de seu filme, uma emoção genuína e pura, reflexiva e filosófica. Lógico, Rosemberg é um filósofo. Mas seu filme ao brotar a emoção e transmiti-la ao espectador se revela tão bela e tocante quanto a poesia daquele Antônio Patativa do Assaré.


 


´Patativa´ na Mostra Coisas do Sertão


 


´Patativa do Assaré – Ave Poesia´ abre a Mostra ´Cantos e Coisas do Sertão´, a ser exibida no Cinema de Arte do Multiplex UCI Ribeiro a partir do próximo dia 13. Compõem ainda a Mostra os filmes ´O Retorno´, de Rodolfo Nanni (sobre o sertão abandonado pelos políticos), ´Olho de Boi´, de Hermano Penna (uma trama sobre o ódio e avingança segundo as leis do sertão) e ´Juazeiro – a Nova Jerusalém´, de Rosemberg Cariry (enfoque da religiosidade e das profecias que cercam a cidade).
 



Fonte: Assessoria de imprensa do Senador Inácio Arruda