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Contra crise, Ciro sugere 'confronto, discussão e busca de alternativas'

“O Governo Lula merece ser apoiado, apesar das contradições existentes, porque pela 1ª vez o Brasil não vai quebrar diante de uma crise”, disse Ciro no seminário realizado pela Liderança do PSB, com apoio dos partidos do Bloco de Esquerda

Os pilares da crise financeira, seus efeitos socioeconômicos, medidas já adotadas pelo Governo brasileiro e ações que precisam ser tomadas para o seu enfrentamento foram temas da palestra proferida, nesta quarta-feira (3), pelo deputado Ciro Gomes (PSB/CE), em seminário realizado pela Liderança do PSB na Câmara, com apoio dos demais partidos que compõem o Bloco de Esquerda – PCdoB, PMN e PRB.



No debate, Ciro Gomes, que foi ministro da Integração Nacional no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ministro da Fazenda de Itamar Franco e é um dos especialistas no Parlamento em Economia, falou de maneira didática sobre o temário da crise que tem provocado milhares de demissões, retração na economia e o adiamento de novos investimentos em nosso País.



No início do debate, Ciro Gomes enfatizou as bases de sua intervenção: “um dedo de política, apresentação de números quantitativos e um vôo provocativo sobre as visões de mundo e do Brasil”. Em seguida, discorreu sobre a origem da crise, declarou apoio ao Governo Lula neste momento de dificuldades impostas, mas acredita no potencial alvissareiro que essa crise poderá proporcionar à economia nacional.



E continou: “O Governo Lula merece ser apoiado, apesar das contradições existentes, porque pela primeira vez o Brasil não vai quebrar diante de uma crise”. De posse de números, destacou as ações políticas já adotadas para superação da crise como o fim do déficit nas transações correntes (balanço realizado ao final de cada ano, que corresponde ao que é recebido e o que há para pagar), o reajuste do salário mínimo, a queda da taxa de desemprego e o fortalecimento do parque industrial brasileiro.



Origem da crise



Segundo Ciro, a crise financeira iniciada nos Estados Unidos se deu por conta da desregulamentação do mercado que começou a transformar dívida em ativo. Um consumidor sem dinheiro queria comprar uma casa e o mercado de olho nesse cliente em potencial começou a emitir hipotecas ruins que passaram, em seguida, a ser negociadas com valores superestimados. “Segurança 100% e o máximo de rentabilidade é o que busca o investidor especulativo e o que foi obtido com essas hipotecas emitidas”.



Para Ciro, “o sistema financeiro americano está quebrado”. A declaração de falência da seguradora AIG e o fato de o governo dos Estados Unidos ser hoje o principal acionista de instituições bancárias são exemplos incontestáveis de que sua economia está em ruínas.



De FHC a Lula



De posse de números, Ciro foi enfático em afirmar que o Governo FHC foi responsável pelo aumento do déficit nas transações correntes do Brasil nos dois mandatos que esteve à frente do Executivo (1995-1998 e 1999-2002), bem como pelas maiores taxas de juros reais e carga tributária, quando o então ministro do Planejamento era o atual governador de São Paulo, José Serra (PSDB).



A mesma afirmação não pode ser creditada ao Governo do presidente Lula, que segundo Ciro, além de eliminar o déficit, tem obtido reserva cambial superavitária desde 2003, quando assumiu o Planalto.



“Em 2003, o superávit foi de US$ 4,2 bilhões, atingiu o pico em 2005 com US$ 14 bilhões e passou a cair em 2007, início da crise, para US$ 1,6 bilhões”. E foi além: “essa inversão permitiu, pela primeira vez na história do Brasil pagar antecipadamente o Fundo Monetário Internacional (FMI) e não mais estar submetido aos mandos e desmandos do fundo”.



Salário mínimo



Outra importante iniciativa do Governo Lula para o enfrentamento da crise financeira sem maiores percalços é a política de valorização e de reajuste do salário mínimo. O piso, segundo Ciro, é referência para o pagamento de toda cadeira salarial e é comparado ao dólar porque grande parte dos produtos consumidos pelas camadas mais pobres tem seu preço atrelado à moeda americana.



Também por meio de números, Ciro disse que em 1995, primeiro ano do mandato de FHC, o piso nacional correspondia a US$ 98,07, teve uma linha ascendente até 1998 e uma queda abrupta a partir de 1999, só voltando a aumentar a partir de 2002. Neste ano houve uma pequena queda em razão da valorização da moeda norte-americana frente ao real.



Salário mínimo em dólar ano a ano: (1995 – US$ 98,07), (1996 – US$ 107,49), (1997 – US$ 108,88), (1998 – US$ 109,18), (1999 – US$ 74,46), (2000 – US$ 80,51), (2001 – US$ 73,82), (2002 – US$ 68,55), (2003 – US$ 75,87), (2004 – US$ 86,78), (2005 – US$ 118,94), (2006 – US$ 155,11), (2007 – US$ 192,30), (2008 – US$ 227,07 e até 03/03/09 – US$ 189,84).



Desemprego



A onda de desemprego, que tem o aumento supostamente provocado pela crise também foi tema da palestra. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam queda ascendente desde 2002, quando registrou taxa de 10,5%. “O Governo Lula inverteu a evolução do desemprego”, disse.



Em 2003, o percentual ficou em 10,9%, caiu para 9,6% em 2004, foi reduzido para 8,4% em 2005, chegou a 7,5% em 2007, atingiu 6,8% em 2008 e até janeiro de 2009 está em 8,2%. Esses percentuais poderiam se manter em queda caso o Brasil não permanecesse refém dos elevados custos de produção com máquinas, importações de condutores, de robótica e de insumos agrícolas, por exemplo.



“Os mais de 4000 empregos na Embraer poderiam ser preservados caso fossem mantidas na corrida militar do presidente Hugo Chávez, da Venezuela, a compra de caças tucanos fabricados por nossa indústria aeronáutica. Acontece que fomos barrados na compra de turbinas, trens de pouso e asas, equipamentos necessários à fabricação das aeronaves”, disse.



Soluções para a crise



Para Ciro Gomes, a superação da crise será possível com: 1) resgate do papel da política de confronto, discussão e busca de alternativas; 2) continuidade dos investimentos no parque industrial brasileiro com a retomada da produção e valorização dos produtos nacionais; 3) estabelecimento de uma economia política que inverta a lógica da remuneração extraordinária do capital especulativo; 4) conserto da Previdência pública; 5) diminuição da taxa de juros; 6) coordenação estratégica com a participação de empresários, do Governo, Parlamento e sociedade; e 7)ampliação dos investimentos em gente, já que estamos pelo menos há três gerações atrasados tecnologicamente.



Antes de finalizar, disse também: “a crise é oportunidade, temos potencial de crescimento, conhecimento e o povo para superar mais esse momento”.



Fonte: Diap