Contra crise, Ciro sugere 'confronto, discussão e busca de alternativas'
“O Governo Lula merece ser apoiado, apesar das contradições existentes, porque pela 1ª vez o Brasil não vai quebrar diante de uma crise”, disse Ciro no seminário realizado pela Liderança do PSB, com apoio dos partidos do Bloco de Esquerda
Publicado 06/03/2009 16:15
Os pilares da crise financeira, seus efeitos socioeconômicos, medidas já adotadas pelo Governo brasileiro e ações que precisam ser tomadas para o seu enfrentamento foram temas da palestra proferida, nesta quarta-feira (3), pelo deputado Ciro Gomes (PSB/CE), em seminário realizado pela Liderança do PSB na Câmara, com apoio dos demais partidos que compõem o Bloco de Esquerda – PCdoB, PMN e PRB.
No debate, Ciro Gomes, que foi ministro da Integração Nacional no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ministro da Fazenda de Itamar Franco e é um dos especialistas no Parlamento em Economia, falou de maneira didática sobre o temário da crise que tem provocado milhares de demissões, retração na economia e o adiamento de novos investimentos em nosso País.
No início do debate, Ciro Gomes enfatizou as bases de sua intervenção: “um dedo de política, apresentação de números quantitativos e um vôo provocativo sobre as visões de mundo e do Brasil”. Em seguida, discorreu sobre a origem da crise, declarou apoio ao Governo Lula neste momento de dificuldades impostas, mas acredita no potencial alvissareiro que essa crise poderá proporcionar à economia nacional.
E continou: “O Governo Lula merece ser apoiado, apesar das contradições existentes, porque pela primeira vez o Brasil não vai quebrar diante de uma crise”. De posse de números, destacou as ações políticas já adotadas para superação da crise como o fim do déficit nas transações correntes (balanço realizado ao final de cada ano, que corresponde ao que é recebido e o que há para pagar), o reajuste do salário mínimo, a queda da taxa de desemprego e o fortalecimento do parque industrial brasileiro.
Origem da crise
Segundo Ciro, a crise financeira iniciada nos Estados Unidos se deu por conta da desregulamentação do mercado que começou a transformar dívida em ativo. Um consumidor sem dinheiro queria comprar uma casa e o mercado de olho nesse cliente em potencial começou a emitir hipotecas ruins que passaram, em seguida, a ser negociadas com valores superestimados. “Segurança 100% e o máximo de rentabilidade é o que busca o investidor especulativo e o que foi obtido com essas hipotecas emitidas”.
Para Ciro, “o sistema financeiro americano está quebrado”. A declaração de falência da seguradora AIG e o fato de o governo dos Estados Unidos ser hoje o principal acionista de instituições bancárias são exemplos incontestáveis de que sua economia está em ruínas.
De FHC a Lula
De posse de números, Ciro foi enfático em afirmar que o Governo FHC foi responsável pelo aumento do déficit nas transações correntes do Brasil nos dois mandatos que esteve à frente do Executivo (1995-1998 e 1999-2002), bem como pelas maiores taxas de juros reais e carga tributária, quando o então ministro do Planejamento era o atual governador de São Paulo, José Serra (PSDB).
A mesma afirmação não pode ser creditada ao Governo do presidente Lula, que segundo Ciro, além de eliminar o déficit, tem obtido reserva cambial superavitária desde 2003, quando assumiu o Planalto.
“Em 2003, o superávit foi de US$ 4,2 bilhões, atingiu o pico em 2005 com US$ 14 bilhões e passou a cair em 2007, início da crise, para US$ 1,6 bilhões”. E foi além: “essa inversão permitiu, pela primeira vez na história do Brasil pagar antecipadamente o Fundo Monetário Internacional (FMI) e não mais estar submetido aos mandos e desmandos do fundo”.
Salário mínimo
Outra importante iniciativa do Governo Lula para o enfrentamento da crise financeira sem maiores percalços é a política de valorização e de reajuste do salário mínimo. O piso, segundo Ciro, é referência para o pagamento de toda cadeira salarial e é comparado ao dólar porque grande parte dos produtos consumidos pelas camadas mais pobres tem seu preço atrelado à moeda americana.
Também por meio de números, Ciro disse que em 1995, primeiro ano do mandato de FHC, o piso nacional correspondia a US$ 98,07, teve uma linha ascendente até 1998 e uma queda abrupta a partir de 1999, só voltando a aumentar a partir de 2002. Neste ano houve uma pequena queda em razão da valorização da moeda norte-americana frente ao real.
Salário mínimo em dólar ano a ano: (1995 – US$ 98,07), (1996 – US$ 107,49), (1997 – US$ 108,88), (1998 – US$ 109,18), (1999 – US$ 74,46), (2000 – US$ 80,51), (2001 – US$ 73,82), (2002 – US$ 68,55), (2003 – US$ 75,87), (2004 – US$ 86,78), (2005 – US$ 118,94), (2006 – US$ 155,11), (2007 – US$ 192,30), (2008 – US$ 227,07 e até 03/03/09 – US$ 189,84).
Desemprego
A onda de desemprego, que tem o aumento supostamente provocado pela crise também foi tema da palestra. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam queda ascendente desde 2002, quando registrou taxa de 10,5%. “O Governo Lula inverteu a evolução do desemprego”, disse.
Em 2003, o percentual ficou em 10,9%, caiu para 9,6% em 2004, foi reduzido para 8,4% em 2005, chegou a 7,5% em 2007, atingiu 6,8% em 2008 e até janeiro de 2009 está em 8,2%. Esses percentuais poderiam se manter em queda caso o Brasil não permanecesse refém dos elevados custos de produção com máquinas, importações de condutores, de robótica e de insumos agrícolas, por exemplo.
“Os mais de 4000 empregos na Embraer poderiam ser preservados caso fossem mantidas na corrida militar do presidente Hugo Chávez, da Venezuela, a compra de caças tucanos fabricados por nossa indústria aeronáutica. Acontece que fomos barrados na compra de turbinas, trens de pouso e asas, equipamentos necessários à fabricação das aeronaves”, disse.
Soluções para a crise
Para Ciro Gomes, a superação da crise será possível com: 1) resgate do papel da política de confronto, discussão e busca de alternativas; 2) continuidade dos investimentos no parque industrial brasileiro com a retomada da produção e valorização dos produtos nacionais; 3) estabelecimento de uma economia política que inverta a lógica da remuneração extraordinária do capital especulativo; 4) conserto da Previdência pública; 5) diminuição da taxa de juros; 6) coordenação estratégica com a participação de empresários, do Governo, Parlamento e sociedade; e 7)ampliação dos investimentos em gente, já que estamos pelo menos há três gerações atrasados tecnologicamente.
Antes de finalizar, disse também: “a crise é oportunidade, temos potencial de crescimento, conhecimento e o povo para superar mais esse momento”.
Fonte: Diap