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Estado deve desculpas à sociedade pela ditadura, diz ex-militante

O reconhecimento que a Comissão de Anistia dá, nesta sexta-feira (6) às mulheres que militaram durante o período da ditadura militar não basta para a reparação desejada por quem sofreu perseguições políticas época. Para a funcionária pública Iara Xavie

A Comissão de Anistia realizou sessão especial em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, no Salão negro do Ministério da Justiça. Uma turma especial integrada apenas por conselheiras da comissão julgou 17 processos de vítimas da ditadura e parentes. Antes da sessão houve palestra com a participação da escritora Moema Libera Viezzer, da defensora dos direitos humanos Margarida Genevois e da historiadora Jessie Jane, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sobre o tema Memórias do Feminino: Vivências, Resistência e Protagonismo nas Lutas por Democracia.



''Nos sentimos muito honrados pelo pedido de desculpas por parte da Comissão de Anistia. Mas o que nós ainda esperamos, sonhamos e aguardamos é que o Estado peça desculpas ao povo brasileiro pelo Golpe de 64, pela derrubada do presidente João Goulart, e pela imposição dos anos negros da ditadura. Queremos um pedido de desculpa público como foi feito na Argentina e no Chile, disse Iara Xavier.
 


A funcionária pública do governo de Mato Grosso, de 57 anos, é autora de um dos 17 processos de mulheres vítimas da ditadura e parentes que serão julgados pela comissão.



Resposta e punição



A funcionária pública ressalta que quem perdeu parentes no período da ditadura ainda não obteve duas condições que ela considera essenciais para o encerramento de um ciclo: uma resposta sobre a forma como as mortes ocorreram e a punição dos responsáveis.



Em 1968, a casa de Iara foi invadida pela polícia que buscava prender a mão dela, Zilda Xavier. Dois de seus irmãos, além do companheiro, Arnaldo, foram assassinados. O pai teve que se exilar e Iara se refugiou em Cuba.
 


“É uma dor infindável. Nós não temos ainda esclarecidas as circunstâncias das mortes, se foram torturados ou não. Não se encerra o ciclo, por isso queremos a abertura dos arquivos e a penalização dos agentes”, afirmou Iara.



Para o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão Pires Júnior, o órgão teve hoje mais uma oportunidade de reparar em parte as injustiças sofridas por mulheres que militaram nos anos da ditadura militar.
 
“Hoje é dia de o Brasil pedir perdão a uma série de mulheres de vanguarda no país. Elas sempre estiveram a frente do seu tempo e por isso sofreram mais com o preconceito. É mais do que um dever, é uma obrigação do Estado, afirmou Abrão.
 


Segundo ele ainda, as mulheres que terão requerimentos julgados são responsáveis, em grande medida, pela liberdade e pela democracia vigente no Brasil nos dias atuais.



De Brasília
Com agências



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