Feministas católicas acusam 'crueldade' em excomunhão
O movimento Católicas Pelo Direito de Decidir encarou com “indignação” a decisão do arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, de excomungar os médicos e a mãe da menina de 9 anos que passou por um aborto nesta semana. De acordo com a políci
Publicado 06/03/2009 18:59
“Não dá pra dizer que a coisa (a excomunhão) é absolutamente inesperada”, afirma Valéria Melk, representante da entidade feminista e de caráter inter-religioso. “De qualquer forma, para nós isso se configura como uma crueldade”, agrega a ativista.
Para ela, a atitude do arcebispo foi mais uma contribuição negativa para a situação. “Em nome de possíveis valores abstratos que não fazem nenhum sentido na realidade desta criança, esse tipo de coisa vai somando violências numa situação já bastante violenta para uma criança de 9 anos”, avaliou.
Católica, Valéria acredita que a excomunhão pode ter um peso social grande para quem pratica a religião. “Se essa pessoa faz parte de uma comunidade, ela tem uma série de valores e situações que são importantes para a vida — como o sentimento de pertencimento com a comunidade que ela está. E essas pessoas agora são marcadas e estigmatizadas de uma forma completamente injusta, que não faz sentido.”
De acordo com ela, o fato de o padrasto da menina não ter sido submetido à excomunhão mostra como a Igreja lida com a mulher. Para ela, é injusto que a pessoa que praticou a violência não receba punição enquanto “os médicos que tentaram minimizar os danos desta violência passem por isso”. Para Valéria, a Igreja Católica, composta pelos fiéis e por vários movimentos, é mais “plural” que seus dirigentes conservadores.
Nesta semana, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, saiu em defesa dos “excomungados” e afirmou que a decisão do arcebispo foi “radical” e “inadequada”. Temporão lembrou que o aborto praticado em Pernambuco atendia não apenas um — mas aos dois casos de interrupção de gravidez autorizadas por lei: a menina de 9 anos, além de ter sido estuprada, correria grave risco de morte caso desse sequência à gestação.
Da Redação, com informações da Agência Brasil