Jô Moraes homenageia ex-deputada Nysia Carone

A deputada federal Jô Moraes (PCdoB/MG) prestou hoje (5) uma homenagem no plenário da Câmara, à ex-parlamentar cassada pelo Ato Institucional número 5 (AI-5), Nysia Flores Carone, falecida ontem, aos 80 anos, de insuficiência cardiorrespiratória. Em seu p

Eram oito deputadas federais no período de mandato para o qual Nysia foi eleita (1967-1971) e dessas, cinco foram cassadas pelo AI-5 promulgado pelo general Costa e Silva. “Por isso, ao tempo em que me solidarizo com a sua família, quero prestar uma homenagem a todas as Deputadas que naquele período souberam erguer a voz em defesa da democracia e da liberdade”, disse.

Vigilância

Emocionada, Jô Moraes destacou a importância de se resgatar “esta história recente de nossa pátria” e da necessidade da vigilância constante para impedir o cerceamento do Poder Legislativo. “O Congresso Nacional, a Câmara dos Deputados nunca mais será calado. O Brasil nunca mais será uma ditadura. Este é um compromisso que devemos reiterar sempre em nome de Nysia Carone e de tantas outros mulheres e homens que lutaram para fazer deste país uma democracia. Em nome de tantos outros, conhecidos e desconhecidos que fazem de cada dia uma etapa na construção de um Brasil melhor, mais justo e equânime”.

Aqui, a íntegra do discurso de Jô Moraes:

“Senhor presidente, senhoras esenhore deputados, foi sepultado hoje em minha querida cidade, Belo Horizonte, o corpo da ex-deputada Nysia Coimbra Flores Carone, mulher do ex-deputado e ex-prefeito Jorge Carone. Nísia morreu ontem, aos 80 anos, vítima de insuficiência cardiorrespiratória. Seu corpo foi velado no Salão Nobre da Assembléia Legislativa de Minas Gerais.

Nysia Carone faz parte da história de resistência desta Casa, deste Poder. Foi uma das muitas e bravas mulheres que levantaram sua voz; que resistiram a um dos mais sombrios períodos da história política deste país: o Regime Militar que se instalou em 1964.

Nascida em Muriaé, terra do nosso vice-presidente José Alencar, Nysia se elegeu deputada federal pelo MDB, para a legislatura 1967-1971, mas em 1969 teve seu mandato cassado pelo Ato Institucional número 5 (A-I5), editado pelo general Costa e Silva, no apagar das luzes de 1968.

Trata-se do mais drástico e violento de todos os Atos do governo militar, cerceando os mais elementares direitos e liberdades civis. Através do AI-5 o governo militar fechou este Congresso, cassou mandatos e direitos políticos, suspendeu garantias do Judiciário, cassou ministros, até mesmo do Supremo Tribunal Federal, e lançou na clandestinidade milhares de lideranças sociais. Nas masmorras dos Doi-Codis, espalhados país afora, estudantes, sindicalistas, artistas, camponeses, trabalhadores, funcionários públicos, donas-de-casa, reliogiosos foram torturados, mortos, e seus corpos lançados em valas comuns. As sedes de entidades estudantis como a UNE (União Nacional dos Estudantes) e UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas) foram metralhadas.

Meus queridos, estou falando de uma etapa ainda muito recente de nosso país; de uma conjuntura onde as mulheres tinham fazia pouco tempo conquistado o direito ao voto, à participação ativa na política. Eram mulheres contra a força bruta, a força das armas, da censura, do desrespeito. Mulheres como Nysia Carone, e também as deputadas Júlia Steimbruch, Lígia Doutel de Andrade, Maria Lúcia Araújo, Ivete Vargas, todas, cassadas pela força do AI-5.

É preciso sempre resgatar esta história recente de nossa pátria. Da nossa tão dolorosa e brava resistência. De nossa vitória, pois conseguimos  – e também me incluo nesta história – aqui nesta Casa, neste Congresso, viabilizar a democracia. Mas é preciso uma vigilância constante para impedir o cerceamento deste Poder.. O Congresso Nacional, a Câmara dos Deputados nunca mais será calado. O Brasil nunca mais será uma ditadura. Este é um compromisso que devemos reiterar sempre em nome de Nysia Carone e de tantas outros mulheres e homens que lutaram para fazer deste país uma democracia. Em nome de tantos outros, conhecidos e desconhecidos que fazem de cada dia uma etapa na construção de um Brasil melhor, mais justo e equânime.

Era o que eu tinha a dizer. Muito obrigada.

De Belo Horizonte,
Graça Gomes