Sem 'novo começo', Irã impõe obstáculo à diplomacia de Obama
O líder supremo religioso iraniano, aiatolá Ali Khamenei, afirmou no sábado (21) que os Estados Unidos não mudaram de forma substancial sua política hostil em relação a seu país. Com isso, o Irã rejeitou a mensagem enviada no dia anterior pelo presidente
Publicado 22/03/2009 22:58
A rejeição de Khamenei veio como o primeiro obstáculo real à aclamada política diplomática de Obama. De quebra, traz um lembrete de que a poderosa teocracia iraniana deve ditar os próximos passos da mudança desejada por Washington. “É o primeiro passo da barganha no estilo clássico iraniano: seja duro e mostre sua dureza”, disse Abdulkhaleq Abdulla, professor de políticas regionais da Universidade dos Emirados Árabes Unidos.
“Os líderes iranianos não são de fazer concessões neste estágio. É tudo sobre a ideologia para o lado iraniano”, completou, sobre o “fracasso” da mensagem de reconciliação de Obama, que aproveitou a celebração do Ano-Novo Nowruz para tentar uma reaproximação após três décadas de animosidade.
Os Estados Unidos cortaram as relações diplomáticas com o Irã durante uma crise entre 1979 e 1981. Em meio ao conflito, um grupo de estudantes militares iranianos manteve 52 diplomatas americanos reféns na Embaixada dos Estados Unidos no Irã, por 444 dias. Mais recentemente, os dois países vivem sob a tensão do programa nuclear iraniano — que Washington diz ter como objetivo a fabricação de armas e que Teerã defende como meio de produção de energia.
Para Khamenei e seu círculo político, o valor da Revolução Islâmica de 1979 — que deu início à tensão — deve se manter viva, assim como a narrativa política de rejeição aos Estados Unidos. Qualquer gesto rápido como o de Obama, que enviou a mensagem de reconciliação a um dos países do “eixo do mal” com menos de três meses na Casa Branca, podem afetar ainda o resultado da disputa presidencial de 12 de junho.
Em sua mensagem, Khamenei deixou claro que o Irã toma decisões por princípios. “Não sabemos quem toma as decisões nos Estados Unidos. Se é o presidente, o Congresso ou outros. No que nos diz respeito, atuamos com lógica — e não de modo emocional. Tomamos nossas decisões depois de fazer cálculos precisos”, advertiu.
“É por isso que será um processo lento e muito complicado entre o Irã e os Estados Unidos”, explica Abdulla. “Mesmo a teocracia pode ser pragmática. Quando eles sentirem que é do interesse nacional reatar com a América, eles encontrarão um jeito.”
Sanções
Embora a mensagem pareça não ter surtido o efeito esperado em Khamenei, Obama mantém algumas cartas na mão. Criticado durante a campanha por sugerir diálogo sem restrições com o Irã, o democrata prorrogou as sanções impostas contra o Irã em 1995, depois que os Estados Unidos acusaram Teerã de envolvimento com terroristas e tentativa de fabricação de armas de destruição em massa.
As sanções — que proíbem companhias americanas de ajudar o desenvolvimento da indústria petrolífera iraniana — foram impostas durante o governo de Bill Clinton e expirariam em breve. “Nos falam de negociar e restabelecer as relações diplomáticas. Mas o que mudou? Onde estão os sinais de mudança? Suspenderam as sanções ao Irã, desbloquearam nossos capitais confiscados nos Estados Unidos, acabaram com a propaganda hostil a nosso país, interromperam o apoio incondicional ao regime sionista?”, questionou Khamenei.
Da Redação, com informações da Folha Online