Faturamento publicitário cresce mas empresas não querem dar reajuste a gráficos e jornalistas
Enquanto jornais e revistas faturam R$ 3,4 bilhões com publicidade em 2008 no País, os dois maiores jornais do Ceará resistem em pagar R$ 12,59 a mais no salário dos jornalistas
Publicado 23/03/2009 09:14 | Editado 04/03/2020 16:35
Soa como provocação. Um dia depois de jornalistas e gráficos do Ceará decidirem entrar em greve porque os donos de jornais e revistas se negam a oferecer um reajuste de 1,02% acima da inflação, o jornal O Povo estampou nessa quinta-feira (19/3) como manchete da página 28, em letras garrafais, que “faturamento publicitário cresce 12,8%”.
O texto diz que o investimento publicitário em jornais e revistas no País, em 2008, “mesmo diante da crise”, aumentou 9,8%, percentual menor apenas do que em mídia televisiva. “Os jornais fecharam 2008 com R$ 3,4 bilhões nos bolsos – valor 9,8% maior que o de 2007 -; e as revistas, com R$ 1,8 bilhão, um aumento de 13,3%”, conclui a matéria.
Jornais e revistas do Ceará fazem parte desse cenário favorável, mas resistem em pagar o reajuste reivindicado pelos seus empregados. O percentual de 1,02% de ganho real representa para os jornalistas apenas R$ 12,59 a mais no salário.
Levando-se em consideração essa notícia dada pelo próprio O Povo e os balanços financeiros de 2007 publicados pelos dois maiores jornais do Ceará no Diário Oficial do Estado, a situação financeira das empresas é confortável.
Em 2007, O Povo lucrou R$ 1,78 milhão e o Diário do Nordeste, R$ 2,5 milhões. “Ainda não tivemos acesso aos balanços de 2008, mas certamente o ano foi melhor do que o de 2007 para os dois jornais”, avalia Reginaldo Aguiar, supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Sem crise
O discurso de crise para tentar explicar a impossibilidade de oferecer melhores salários aos trabalhadores é falacioso. Além da crise financeira mundial, o jornal O Povo, por exemplo, sobrevive a uma “crise interna” sem fim. “É folclórica essa história de que o Povo vai quebrar”, define Reginaldo Aguiar, que é assessor do Sindicato dos Jornalistas.
“Eu entrei no O Povo em maio de 1980 e o jornal sempre esteve no vermelho”, ironiza o secretário de formação do Sindicato dos Gráficos, Juarez Alves. “Na verdade, há mais de 20 anos que a maré pra eles está boa, e o céu mais ainda”, constata o sindicalista, referindo-se aos 20 anos da última greve de jornalistas e gráficos, em dezembro de 1988. “De lá para cá, os patrões nunca mais enfrentaram um forte movimento de resistência contra a avareza, a ganância e a intransigência, como a que os sindicatos estão promovendo em 2009. Os patrões se acostumaram mal, muito mal…”, reforça a presidente do Sindicato dos Jornalistas, Déborah Lima.
Mais anúncios, menos notícias, piores salários
O aumento do investimento publicitário nos jornais do Ceará vem sendo percebido já há muito tempo pelos próprios jornalistas de impresso – 92,5% deles vêem aumento de publicidade, segundo pesquisa realizada em 2007 pelo Sindicato dos Jornalistas e o Dieese. Sentindo todos os dias que as notícias têm perdido cada vez mais espaço para os anúncios, eles questionam porque o faturamento dos jornais com publicidade não repercute em seus salários.
Fonte: Sindjorce