Fórum não define água como um direito humano
O quinto Fórum Mundial da Água terminou domingo (22) em Istambul e, apesar de traçar um futuro sombrio, não exigiu nenhuma medida concreta dos Estados participantes.
Por Fabiano Ávila, do CarbonoBrasil
Publicado 23/03/2009 16:36
A declaração final do encontro, que reuniu cerca de 25 mil pessoas, entre especialistas e autoridades governamentais, não definiu a água como um direito humano e sim como um “direito básico” ou uma “necessidade básica”. Isso, de uma forma prática, significa que nenhuma cobrança será feita para ações dos Estados signatários.
O documento estabeleceu uma série de recomendações, não obrigatórias, incluindo uma cooperação maior para acabar com as disputas sobre a água, medidas para evitar inundações e a escassez de água, uma administração melhor dos recursos e impedir a poluição de rios, lagos e lençóis freáticos.
Alguns países tentaram incluir na declaração o reconhecimento ao acesso à água potável e ao saneamento como um “direito humano básico”, ao invés de uma “necessidade humana básica”, como está escrito no texto final.
Segundo vários delegados presentes a mudança foi bloqueada por representantes do Brasil, Egito e Estados Unidos. Vinte países dissidentes assinaram uma declaração em separado para manifestar sua posição. Entre eles Espanha, Suíça, África do Sul e Bangladesh.
“A declaração ministerial do Fórum só foi estipulada quando alguns Estados se asseguraram de que não teria obrigações vinculativas. O tema de água é importante demais para ser deixado sem um processo que preste contas”, criticou o presidente da Assembléia Geral da ONU, Miguel d”Decoto Brockmann, em comunicado dirigido ao Fórum.
Representantes da sociedade civil e parlamentares de aproximadamente 70 países – principalmente América Latina e África – chegaram a pedir o fim do Fórum Mundial da Água como está concebido, ao considerá-lo carente de democracia e transparência.
Por isso, solicitaram que o próximo encontro sobre o tema seja organizado pela ONU, e não pelo Conselho Mundial da Água (CMA), uma instituição privada.
Em seu comunicado, D”Decoto também criticou que “a orientação do fórum está profundamente influenciada pelas companhias privadas de água”.
O presidente do CMA, Loïc Fauchon, respondeu a estas críticas dizendo que “é o mesmo “choro” há 12 anos, porque algumas pessoas não estão felizes com o sucesso do Fórum”.
Panorama Sombrio
A ONU prevê que em 2030 quase metade da população mundial vai viver em locais onde conseguir água será um problema. As áreas no planeta secas já teriam dobrado desde 1970 e o cenário deve piorar em ritmo acelerado.
Segundo a Instituição, as mudanças climáticas vão causar secas cada vez mais severas, sendo que apenas na África de 75 a 250 milhões de pessoas devem estar em situação desesperadora em relação à água já em 2020.
Entre os fatores que vão levar ao consumo ainda maior de água estão o crescimento e a mobilidade da população, o aumento no padrão de vida, mudanças nos hábitos alimentares e o crescimento da produção de energia, particularmente de biocombustíveis.
De todo o consumo mundial, 70% é de responsabilidade da agricultura. Caso não sejam tomadas medidas para conter o uso dos recursos hídricos pelo setor agrícola a procura mundial por água vai crescer entre 70% e 90% até 2050.
Ainda segundo um relatório da ONU, a expansão da produção de biocombustíveis também contribuiu para aumentar o consumo de água. A produção de etanol, de acordo com o documento, triplicou entre 2000 e 2007 e pode chegar a 127 bilhões de litros até 2017. O Brasil e os Estados Unidos são os principais produtores, tendo como matrizes, respectivamente, a cana-de-açúcar e o milho.
*Com informações de Agências Internacionais e Agência Brasil.
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