Lula: compra de gás boliviano será mantida até 2019
Em seu programa de rádio, o presidente ressaltou que o Brasil também passou a importar gás de outros países. Em relação à decisão do governo boliviano de nacionalizar a produção, ele avaliou que a medida “é um direito da Bolívia”.
Publicado 23/03/2009 11:00
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira (23) que, mesmo com a inauguração do terminal de gás liquefeito na Baía de Guanabara (RJ), os contratos de importação do produto boliviano serão mantidos até 2019. Ao comentar a crise entre ambos os países em 2006, ele avaliou que a relação Brasil-Bolívia atualmente é “muito boa”.
“Em vez de ficar reclamando da Bolívia como alguns brasileiros queriam, resolvi chamar uma reunião do Conselho Nacional de Política e decidimos criar o Plangás [Plano de Antecipação da Produção de Gás Natural], um programa que tornasse o Brasil independente de gás ou que não ficasse dependente apenas da Bolívia.”
Em seu programa semanal de rádio Café com o Presidente, Lula ressaltou que o Brasil também passou a importar gás de outros países. Em relação à decisão do governo boliviano de nacionalizar a produção de gás, ele avaliou que a medida “é um direito da Bolívia”.
“A Petrobras vivia reclamando da Bolívia e a Bolívia vivia reclamando da Petrobras. Ao mesmo tempo em que compreendi as necessidades da Bolívia, sabia que o Brasil não podia ficar submetido à pressão de apenas um fornecedor de gás”.
Sem risco de apagão
Depois de inaugurar o terminal de gás liqüefeito na Baía de Guanabara na semana passada, Lula da Silva afirmou esta sexta-feira que o país não corre risco de apagão “em hipótese alguma”.
Lula lembrou que o apagão de 2001 ocorreu porque o país ainda não tinha linhas de transmissão que transportassem energia de locais com excesso de produção para onde havia escassez, como o estado de São Paulo. “Teve muita gente que começou a dizer que o Brasil ia ter apagão até agora”, disse.
De acordo com o presidente, a partir do momento em que os lagos das hidrelétricas brasileiras ficarem vazios e com a produção de energia comprometida, o terminal da Baía de Guanabara será acionado.
“Nós importamos gás da Bolívia e não poderíamos ficar dependentes de um país. Com esse terminal, poderemos importar gás de outros países”, disse, ao ressaltar que o primeiro navio que chegou ao local veio de Trinidad e Tobago, transportando 14,5 milhões de metros cúbicos de gás.
Lula explicou que o gás chega ao Brasil congelado a uma temperatura de -160ºC. Em seguida, é transferido ainda líquido para outro navio e transformado em gás apenas quando entra na tubulação que vai até Magé (RJ). A previsão do governo é de que outros dois terminais de gás liqüefeito sejam inaugurados no país.
Leia abaixo a íntegra do “Café com o Presidente”:
Novo terminal de gás vai diminuir os riscos de apagão no Brasil, ressalta Lula
Apresentador: Olá você em todo o Brasil. Eu sou o Luciano Seixas e nós estamos começando agora o Café com o Presidente, o programa de rádio do presidente Lula, que está em São Bernardo do Campo. Nós estamos aqui nos estúdios da EBC, em Brasília. Olá, presidente. Como vai, tudo bem?
Presidente: Tudo bem, Luciano.
Apresentador: Presidente, o senhor esteve no Rio de Janeiro, na semana passada, no terminal de gás natural liquefeito, na Baía de Guanabara. O que representa a entrada em funcionamento deste terminal no país?
Presidente: Luciano, representa mais independência para o Brasil. Representa mais energia para o Brasil e representa nós podermos dizer ao povo brasileiro que nós não corremos risco de apagão em hipótese alguma no Brasil.
Você sabe que depois do apagão que nós tivemos em 2001, porque nós não tínhamos linhas de transmissão para transportar energia de lugares que tinham excesso de energia para lugares que faltava energia, como São Paulo, teve muita gente que começou a dizer que o Brasil ia ter apagão desde 2001 até agora.
O fato concreto é que com este terminal de gás natural liquefeito na Baía da Guanabara, a gente dá sinal para o Brasil de que não haverá problema de energia no Brasil porque quando nós tivermos com os lagos das nossas hidrelétricas vazios, que não tiverem produzindo energia nós poderemos acionar a termelétrica a gás e ela vai produzir a energia que o Brasil necessita.
Esse é um dado extremamente importante porque você sabe que nós dependemos muito da Bolívia. Nós importamos gás da Bolívia e nós não poderíamos ficar dependentes de um país. Com esse terminal significa que nós poderemos importar gás de outros países.
Por exemplo, esse terminal da Guanabara, o primeiro navio que chegou, veio de Trinidad e Tobago, catorze milhões e meio de metros cúbicos. Esse gás vem congelado a 160º abaixo de zero, chega no terminal do Rio de Janeiro, esse gás passa para um outro navio ainda congelado, ainda líquido e ele é transformado em gás quando entra na tubulação que vai transferí-lo para Magé e de Magé para a rede de gás do Brasil. Qual é o dado mais importante? Em um ano nós conseguimos construir esse terminal.
Nós tomamos a decisão de que o Brasil ia ser independente e por essa decisão nós resolvemos fazer o terminal no porto de Pecém, no Ceará, esse terminal da Baía da Guanabara, ainda vamos fazer mais dois e eu estou convencido de que o Brasil pode prometer a qualquer investidor brasileiro que não faltará mais energia no Brasil.
Apresentador: Você está ouvindo o Café com o Presidente, o programa de rádio do presidente Lula. Presidente, a construção dessa usina de gás foi finalizada num prazo curto, o senhor falou em um ano. Dá para dizer que isso foi uma reação rápida ao problema de abastecimento de gás no país?
Presidente: Foi uma reação rápida, Luciano, porque ao invés de ficar reclamando da Bolívia como alguns brasileiros queriam, eu resolvi chamar uma reunião do Conselho Nacional de Política e decidimos criar o Plangás — Plano de Antecipação da Produção de Gás Natural —, ou seja, um programa que tornasse o Brasil independente de gás ou que não ficasse dependente apenas da Bolívia.
Além do gás que nós estamos encontrando no Brasil com a descoberta do pré-sal, nós estamos importando gás de outros países agora. Se bem que nós vamos cumprir todos os contratos que temos com a Bolivía, que vão até 2019. Vamos continar comprando o gás que nós nos comprometemos. Mas nós queremos ter maior capacidade de oferta para o povo brasileiro.
Apresentador: Agora, presidente, como está a nossa relação com a Bolívia quanto ao gás?
Presidente: A nossa relação é muito boa Luciano. Veja, em 2006 nós tínhamos tido uma crise com a Bolívia. A Petrobras vivia reclamando da Bolívia, a Bolívia vivia reclamando da Petrobras. A Bolívia resolveu nacionalizar o seu gás, o que eu acho que é um direito da Bolívia, porque é uma matéria-prima da Bolívia. Ela tinha o direito de tomar a atitude que ela bem entendesse. Eu compreendi isso.
Agora, ao mesmo tempo em que eu compreendi as necessidades da Bolívia, eu também como brasileiro e como presidente do Brasil, sabia que o Brasil não podia ficar submetido a apenas a pressão de um fornecedor de gás. Por isso que nós criamos o Plangás.
Por isso que nós fizemos o terminal de Pecém, o terminal da Baía da Guanabara e é por isso que a gente começou a investir em pesquisa e em prospecção de mais gás para o Brasil. O Brasil já é um país que tem condições extraordinárias de construir hidrelétricas. Nenhum país tem as condições do Brasil.
Nós ainda não utilizamos corretamente aquilo que nós precisamos de energia nuclear, mas nós poderemos ter, com a energia hídrica, produzida pelo nossos rios e a energia produzida pelas nossas termelétricas a gás, uma oferta de energia que qualquer investidor, seja ele brasileiro ou estrangeiro, não tenha preocupação ou medo de investir no Brasil por conta da energia.
Porque nós estamos garantindo energia para o Brasil. Ou seja, o que eu posso dizer ao povo brasileiro é que durma tranquilo, que os empresários invistam tranquilos, porque nós vamos garantir mais energia, para garantir mais emprego, mais salário e mais renda para o povo brasileiro.
Apresentador: Muito obrigado, presidente Lula. Até a próxima semana.
Presidente: Obrigado a você Luciano e até a próxima semana.
Apresentador: O programa Café com o Presidente volta na próxima segunda-feira, até lá…