George Câmara: Petroleiros – Lutas e Lições

A greve, como outras manifestações sociais, é uma forma de luta cuja motivação e oportunidade cabem aos trabalhadores envolvidos definir, conforme estabelece o próprio texto da lei, de junho de 1989. No enfrentamento contra o capital, diante da insuficiên

Quando tal iniciativa acontece de forma coesa e quando outras variáveis conjunturais do momento assim o permitem, o desfecho é favorável aos trabalhadores. Para estes, o desafio é combinar o seu grau de unidade, com a determinação de fazer avançar a organização e a luta pelas conquistas mais legítimas. Tais fatores revelam o nível de consciência de classe adquirido na experiência concreta na luta social.


 


Estas considerações se aplicam inteiramente à greve nacional dos petroleiros, iniciada em 23 de março, última segunda-feira. Primeira greve nacional dessa valorosa categoria no contexto do governo Lula a atingir a produção de petróleo, constitui-se num marco histórico, num verdadeiro divisor de águas. Rompe a concepção de que num governo democrático os trabalhadores devem esperar que as negociações produzam, por si só, os resultados desejados. A vida vai demonstrando, mais uma vez, que nada substitui a luta. A luta consciente, organizada e coesa. Sem ilusões com relação ao canto da sereia do capital.


 


Outra importante lição, extraída dessa rica experiência: os meios de repressão dos quais o capital se utiliza, não diferem muito dos clássicos instrumentos mais conhecidos, tão em voga em períodos de autoritarismo. Agora, porém, com maior nível de sofisticação. Esta greve deverá produzir ainda muitos ensinamentos. Um deles, sem dúvida: trabalho é trabalho e capital é capital. Por mais que tenhamos diferentes matizes, traços e particularidades de cada conjuntura.


 


Um determinado gerente da Petrobrás, numa reunião com dirigentes sindicais às portas (porém do lado de fora) do Pólo Industrial de Guamaré, no domingo 22 de março, véspera da greve com início marcado para a meia noite, não conseguiu disfarçar, em apelo patético, tal contradição.


 


Ao mesmo tempo em que a gerência proibia o acesso dos dirigentes sindicais, negando a possibilidade de dialogar com os petroleiros embarcados em atividade dentro da área, um dos chefes nos abordava com tal mensagem: …“mas rapaz, não dava para esperar um pouco mais? Estava tudo tão calmo, no governo Lula, por que apelar para a greve? Depois de quase seis anos em calmaria, esse conflito vai mexer com as nossas relações cotidianas”.


 


Resposta dos dirigentes sindicais: “durante o ano, 360 dias valem mais do que 5 dias de greve. Respeitem a categoria e vocês conquistarão o nosso respeito. É nas horas difíceis que se revelam os verdadeiros estadistas”. Palavras ao vento.


 


Infelizmente, num governo democrático, a Petrobrás inaugura a nova era de enfrentar os movimentos sociais como caso de polícia, e não de política. Conflitos sociais podem ser, ao invés de problemas, o embrião do amadurecimento para novas relações. É lamentável que se perca tal oportunidade para crescermos como seres humanos. Com a palavra, a direção da Petrobrás.


 


George Câmara, petroleiro, advogado e vereador em Natal pelo PCdoB.
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