Artigo: A mão pesada do Estado trará paz ao futebol (Parte I)

Leia a primeira parte do artigo ''A mão pesada do Estado trará paz ao futebol'' , publicado no jornal Diário da Manhã em 27 de março de 2009, por Luiz Carlos Orro, presidente do PCdoB goiano e secretário municipal de esporte e lazer de Goiânia.

                                                                                                                            Ainda somos obrigados a assistir a espetáculos deprimentes que têm prejudicado o futebol brasileiro e que já contabilizam 34 mortes e milhares de feridos em eventos futebolísticos desde 2002. No último domingo, o clássico Flamengo x Vasco, pela Taça Rio, foi manchado pela violência. Diante de 70 mil torcedores, o mau jogo rolou no campo: cinco expulsões e dezesseis cartões aplicados pelo árbitro. Do lado de fora, briga feia entre as duas torcidas, antes e depois da partida. Pelo menos três torcedores foram internados em estado grave: um flamenguista atingido com um tiro no pescoço, outros dois com suspeita de traumatismo craniano. Com o fim do jogo, no entorno do Maracanã, tumulto generalizado, envolvendo centenas de torcedores dos dois clubes. A polícia interveio com bombas de efeito moral e o tumulto se estendeu pelas ruas ao redor do estádio. Aqui, pelas bandas do Cerrado, em Goiânia, no mês passado três jovens, membros da torcida organizada Força Jovem, foram presos pelo assassinato de um menor, no Jardim Curitiba, que torcia pelo Vila. A profusão de exem-plos dessa estupidez não caberia nesta edição inteira do Diário da Manhã, são muitos e multiplicam-se a cada semana e mês.   


 



Até que enfim, começa a surgir uma luz no fim do túnel. O ministro do Esporte, Orlando Silva, anunciou na semana passada um conjunto de medidas, batizadas de Torcida Legal, para garantir mais segurança e conforto aos torcedores nos estádios de futebol. São termos de cooperação, decreto e projeto de lei que, no bom sentindo, vão endurecer o jogo, tipificando os crimes praticados nos estádios e arredores e impondo penas aos infratores. As medidas vêm em boa hora, pois ninguém aguenta mais a repetição das cenas de violência gratuita e irracional que certos grupos de torcedores – melhor seria chamá-los de vândalos do esporte – promovem por ocasião das partidas, sob o falso argumento de que estão torcendo para o time do coração. Essa prática de selvageria está é distorcendo e denegrindo o futebol como patrimônio cultural e esportivo do povo brasileiro. Quem assim procede não tem time do coração coisa nenhuma, aliás, nem coração deve ter, tamanha a agressividade e insensibilidade que demonstra com as pessoas e os valores humanos. Essas atitudes bárbaras de torcedores violentos, que vêm chocando a população em repetidas cenas de tevê, têm afastado muita gente, famílias inteiras, dos estádios.


 



 
Dia desse conheci o “seu” Pita, dono de cabelos brancos de quem já viveu umas boas décadas. Disse-me, acabrunhado, que adora futebol, por mais de cinquenta anos sempre foi aos jogos, mas que agora anda triste porque deixou de ir ao Serra Dourada desde o dia em que urinaram em copos plásticos e jogaram das arquibancadas de cima, dando-lhe um desagradável banho. Mijado e humilhado, decidiu naquele dia recolher-se a respeitável idade e enclausurar-se em casa em domingo de futebol. Não vai mais ao estádio.


 



 
Ao anunciar as iniciativas para conter a violência nos estádios, o ministro do Esporte não usou meias-palavras. Afirmou, em contundente manifestação, publicada pela imprensa, e que aqui merece registro, que elas vão contribuir, também, para o cumprimento das providências assumidas com a Federação Internacional das Associações de Futebol – Fifa – para a realização da Copa das Confederações de 2013 e da Copa do Mundo de 2014.
 


 



 
* Luiz Carlos Orro é secretário municipal de Esporte e Lazer de Goiânia, membro suplente do Conselho Nacional do Esporte e presidente estadual do PCdoB de Goiás.